domingo, 23 de novembro de 2014

Santo André Dung-Lac, Presbítero e seus companheiros mártires

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
  
‘O cristianismo chegou ao Vietnam no final do século XVI, mas, foi continuamente contestado por governantes locais que, entre os séculos XVII e XIX, publicaram mais de 50 editais contra os cristãos, o que causou a morte de cerca de 130 mil fiéis. 

Em qualquer caso, os núcleos familiares cristãos foram desmembrados e dispersados, famílias e parentes separados e deportados para regiões diferentes; os bens e propriedades eram confiscados. Os cristãos foram privados de qualquer vínculo religioso (não tinham mais igrejas, paróquias, escolas cristãs, etc...).

Em 1988, vários grupos de mártires vietnamitas que foram beatificados por papas anteriores, foram unificados em um único grupo e canonizados pelo beato Papa João Paulo II que também os declarou ‘Patronos do Vietnã’...

Para representá-los, o Missal Romano nomeia Santo André Dung-Lac, primeiro, catequista e, depois, padre, que recebe uma devoção especial pelos católicos do Vietnã. De outro mártir, São Paulo Le-Bao-Tinh, o Missal informa hoje um pedaço de carta onde se lê : ‘No meio desses tormentos, que costumam aterrorizar os outros, pela graça de Deus, estou cheio de alegria, porque eu não estou sozinho, Cristo está comigo’.

A história do catolicismo no Vietnã começou no século XVI, com o padre Alexandre de Rhodes, um missionário francês, considerado o primeiro apóstolo desta jovem Igreja asiática, então dividida em três regiões distintas : Tonkin, Annam e Cochinchina.

Mas, a partir de 1645, quando o padre Rhodes foi expulso, houve a ocorrência das perseguições, alternando com períodos de paz, em que os missionários de várias congregações foram enviados às regiões do Vietnam, animando os fiéis e, especialmente, trabalhando para a formação do clero e de catequistas locais.

De 1645 a 1886, foram expedidos 53 editais contra os cristãos, resultando na morte de 113 mil fiéis. Durante o reinado de Minh-Manh (1821), a perseguição tornou-se implacável, condenando à morte aqueles que ousaram até mesmo esconder os cristãos. Outro rei (já citado acima) foi particularmente opositor do cristianismo : Tuc-Duc, que reinou entre 1847-1883. Profundamente avesso à política colonial francesa, odiava tudo que era europeu ou que provinha da Europa, não distinguindo política de religião. Estipulou que aqueles que colaborassem na captura de um missionário católico ganhariam 300 onças (8,5 quilos) de prata e que, ao ser capturado, depois de ser decapitado, deveria ter o corpo jogado no rio.

Os sacerdotes locais (vietnamitas) e os catequistas estrangeiros foram abatidos, enquanto os catequistas locais tinham impressos em seus rostos ‘à fogo’ (marcados a ferro em brasa) a palavra ‘Ta Dao’, que significa, ‘falsa religião’, sendo expostos ao desprezo público. Os simples fiéis cristãos poderiam salvar as suas vidas espezinhando uma cruz na frente do juiz.

Além disso, frente à firme fé dos cristãos, foi ordenado que os cristãos fossem dispersos, separando maridos de esposas e filhos de seus pais, exilando-os em regiões distantes e diferentes, entre os pagãos, confiscando todos os seus bens.

Através desta miríade de mártires, heróis da fé, a Igreja beatificou a alguns ao longo dos anos : 1900, pelo Papa Leão XIII, em 1906 e 1909, por São Pio X e 1951 pelo Papa Pio XII. Finalmente, em 19 de junho de 1988, o beato João Paulo II os proclamou santos. Foram 117 santos ao todo : 08 bispos, 50 sacerdotes e 59 leigos. Destes, 96 são vietnamitas, 11 espanhóis e 10 franceses. Entre os leigos há 16 catequistas, uma mãe, quatro médicos, seis soldados e muitos pais de família.

O ‘líder’ (que deu o nome ao grupo) dos mártires é André Dung-Lac, primeiro, catequista, depois, sacerdote vietnamita. Ele nasceu de pais pagãos em 1795. Seus pais eram tão pobres que se desfizeram dele de boa vontade para vendê-lo a um catequista. Viveu na missão de Vinh-Tri, onde foi batizado, educado na fé, vindo a tornar-se um catequista. Continuou seus estudos teológicos e, em 15 de março de 1823, foi ordenado sacerdote e nomeado pároco em diversas áreas. Durante a perseguição perpetrada por Minh-Manh, foi preso várias vezes e resgatado dos mandarins pelos cristãos locais. Mesmo correndo perigo, exerceu o apostolado entre os fiéis e administrava os sacramentos. Preso novamente em 10 de novembro de 1839 pelo prefeito de Ke-Song, foi libertado mediante o pagamento de 200 moedas de prata coletadas entre os cristãos. Foi novamente preso em Hanói em 16 de novembro de 1839, submetido a interrogatórios extenuantes, convidado várias vezes para apostatar e pisar na cruz, mas, tendo permanecido firme em sua fé, foi sentenciado a ser decapitado, o que foi feito em 21 de dezembro de 1839. Foi colocado como ‘líder’ do grupo no calendário litúrgico, devido à devoção e culto que goza em seu país, devido ao exemplo brilhante dado durante sua vida.

Os outros 116 mártires do Vietnam, cada um tem uma história edificante de seu martírio, realizado em diferentes lugares e épocas, mas, compartilham a mesma glória dos santos.

A festa litúrgica comum dos 117 mártires do Vietnam foi criada para o dia 24 de novembro, com memórias individuais para alguns deles, especialmente os pertencentes às congregações missionárias.


Fonte :
* Artigo na íntegra de http://pelos-caminhos-de-deus.blogspot.com.br/2014/11/santo-andre-dung-lac.html

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