*Artigo de Dom Alberto Taveira Corrêa,
Arcebispo Metropolitano de Belém do Pará
‘A Liturgia da Igreja tem um rito
altamente significativo, a Dedicação do Templo e do Altar, com o qual os
edifícios destinados ao uso do culto são ‘separados’,
‘consagrados’. Na ocasião, a
celebração se inicia com a entrega do templo ao Bispo, que faz a Dedicação e o
devolve ao uso da Comunidade a que se destina. Anualmente celebra-se a festa
alusiva a este gesto sagrado, para que cresça a consciência da vocação
cristã e o sentido de pertença à Igreja.
Dentre todos os templos edificados pelo mundo afora, ganha destaque a Basílica
do Santíssimo Salvador em São João de Latrão, também chamada de Catedral de
Roma, a Sede que preside à caridade, onde o Papa toma posse de sua missão como ‘Bispo de Roma’. Porque é Bispo de Roma é
que lhe cabe o primado na Igreja. Anualmente, no dia nove de novembro, a
Dedicação da Basílica do Latrão é comemorada solenemente e oferece bela
oportunidade para um conhecimento maior da própria Igreja.
Nossas grandes cidades assistem ao
crescimento urbano desafiador, que exige uma atenção especial de todas as
pessoas que se sentem responsáveis pela Igreja. Impressiona fortemente a
dedicação de homens e mulheres que se organizam, conduzidos pela liderança de
tantos dedicados sacerdotes, para a construção das igrejas e Capelas.
Edifica-me ver as muitas ofertas semelhantes às duas moedas da viúva pobre
elogiada por Jesus no Evangelho (Cf. Mc 12, 42-43). De vez em quando escuto
observações de pessoas sobre as construções de nossos templos : ‘Obra de Igreja não termina nunca!’ E é
verdade, pois os muitos mutirões, coletas, campanhas de todo tipo, tudo é feito
com boa vontade, especialmente dos mais pobres! Prolongado o tempo para a
construção, magnífico aprendizado que se realiza!
E aqui está a primeira das muitas
lições : a edificação da Igreja é obra perene, e o acabamento da imensa obra
espiritual só acontecerá na Jerusalém celeste. Quem entra na Igreja, chega para
participar de uma imensa tarefa, que envolve a todos, pois Igreja é missão! As
portas que desejamos abertas, de todas as igrejas e capelas, sejam o sinal
daquele que é a porta das ovelhas, o próprio Senhor Jesus Cristo (Cf. Jo 10,
7). Para que todos os homens e mulheres venham a passar por ele, o olhar dos
cristãos que já o encontraram deverá ampliar-se para alcançar a todos.
Certamente os cristãos leigos e leigas têm à disposição um imenso leque aberto
de contatos, oportunidades de diálogo e evangelização direta, muito mais do que
os Bispos e Padres. É que seu campo de ação e seu desafio é o imenso mundo das
profissões, do relacionamento social de todo tipo, o corpo a corpo do diálogo
com as diversas estruturas do mundo. Igreja é convocação, chamado universal à
salvação.
O fundamento da missão da Igreja se
encontra no Sacramento do Batismo, no qual todos recebemos uma tríplice tarefa :
profetas, para anunciar a Palavra da verdade; sacerdotes, com a graça para
oferecer tudo a Deus, como sacrifício agradável; reis e pastores do reinado de
Cristo, para edificar na caridade o relacionamento fraterno em todo lugar.
Daqui nasce a igualdade fundamental na dignidade e na responsabilidade, com a
qual todos se sentem membros vivos da Igreja de Cristo. Não dá para imaginar um
cristão de verdade que se acomode na passividade diante dos problemas de nosso
tempo. Quem vai à missa aos domingos, ali escuta a Palavra de Deus e se
alimenta da Eucaristia, sai da Igreja-templo para construir a Igreja-Corpo de
Cristo, vivendo o ensinamento do Apóstolo : ‘Há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo. Há diversidade de
ministérios, mas o Senhor é o mesmo. Há diferentes atividades, mas é o mesmo
Deus que realiza tudo em todos. A cada um é dada a manifestação do Espírito, em
vista do bem de todos. A um é dada pelo Espírito uma palavra de sabedoria; a
outro, uma palavra de conhecimento segundo o mesmo Espírito. A outro é dada a
fé, pelo mesmo Espírito. A outro são dados dons de cura, pelo mesmo Espírito. A
outro, o poder de fazer milagres. A outro, a profecia. A outro, o discernimento
dos espíritos. A outro, a diversidade de línguas. A outro, o dom de as
interpretar. Todas essas coisas as realiza um mesmo Espírito, que distribui a
cada um conforme quer’ (1 Cor 12, 4-11).
Acolhendo a missão, prontos a edificar
a Igreja, os cristãos abrem braços e corações para todos. Como numa família,
saberão dar atenção a cada pessoa, levando em conta sua história. Na Igreja
encontrem seu lugar os que se aproximam da fé, tocados pela Palavra de Deus e
pelo testemunho dos fiéis. Não é discriminação oferecer-lhes o alimento
espiritual que são capazes de absorver. Sejam amados e acompanhados os
catecúmenos, admitidos ao processo de iniciação cristã. O tempo que lhes é dado
para a formação, antes dos Sacramentos da Iniciação cristã, é fecundo da graça
de Deus. Não faz bem precipitar os passos a serem dados, inclusive para
respeitar seu amadurecimento pessoal. Cabem na Comunidade Eclesial as pessoas
que estão num processo de conversão e penitência, quem sabe depois de estradas
nem sempre bonitas, percorridas pelo mistério da liberdade humana. Acolhê-los e
acompanhá-los com paciência, valorizando as descobertas da graça do Senhor, da
prática dos mandamentos e os frutos de uma escuta amorosa da Palavra de Deus, é
o caminho pedagógico suscitado pelo amor de Cristo por eles. Trabalhe-se
fervorosamente para que encontrem decididamente a estada da vida nova!
Que dizer das famílias, Igreja
Doméstica, na graça de ser esposo e esposa, pai, mãe, filhos e filhas, irmãos e
irmãs? Deus seja louvado por estas porções preciosas do Corpo de Cristo,
presentes no recesso do lar, estrelas que brilham e apontam a todos o caminho
do amor. É olhando para elas que os cristãos se animam a acompanhar com
caridade ao mesmo tempo forte e cheia de ternura misericordiosa, as famílias em
situação particular, tantas delas sem a graça do Sacramento do Matrimônio, mas
lares a serem amados e valorizados, a fim de encontrarem o espaço de carinho e
dedicação da Igreja. A verdade sobre o ideal da família santificada pela graça
sacramental não as desanime, mas as conduza aos caminhos possíveis a cada
situação.
E a Igreja se edifica com a
contribuição das várias gerações. Igreja e sociedade sem crianças são privadas
de vitalidade. Os casais que se abrem ao dom do filho, e filho
e bênção (Cf. Sl 127, 1-5) constroem a Igreja do futuro! E mais dois
polos da vida social e da Igreja encontrem seu lugar. Com a palavra o Papa
Francisco : ‘Olhem! Eu penso que, neste
momento, a civilização mundial ultrapassou os limites, ultrapassou os limites
porque criou um tal culto do 'deus' dinheiro, que estamos na presença de uma
filosofia e uma prática de exclusão dos dois polos da vida que constituem as
promessas dos povos. A exclusão dos idosos, obviamente : alguém poderia ser
levado a pensar que nisso exista, oculta, uma espécie de eutanásia, isto é, não
se cuida dos idosos; mas há também uma eutanásia cultural, porque não se lhes
deixa falar, não se lhes deixa agir. E a exclusão dos jovens : a percentagem
que temos de jovens sem trabalho, sem emprego, é muito alta e temos uma geração
que não tem experiência da dignidade ganha com o trabalho. Assim, esta
civilização nos levou a excluir os dois vértices que são o nosso futuro. Por
isso os jovens devem irromper, devem fazer-se valer; os jovens devem sair para
lutar pelos valores, lutar por estes valores; e os idosos devem tomar a
palavra, os idosos devem tomar a palavra e ensinar-nos! Que eles nos transmitam
a sabedoria dos povos!’ (Cf. Encontro
com os jovens argentinos, na Jornada Mundial da Juventude).
Igreja, Povo de Deus! Venham todos a
ajudarem na edificação da Igreja, Corpo de Cristo. Há lugar para todos no
regaço amoroso do amor do Pai, na força do Espírito Santo que conduz a Igreja
pelos caminhos do mundo, rumo à eternidade.’
Fonte :
* Artigo na íntegra de http://www.zenit.org/pt/articles/a-edificacao-da-igreja-e-obra-perene-e-o-acabamento-da-imensa-obra-espiritual-so-acontecera-na
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