sexta-feira, 16 de maio de 2014

Mártires da Argélia sob o olhar sagrado (Capítulo 4 de 8)


Missionários da África (Padres Brancos),  
assassinados em 27.12.1994, 


Artigo de Ir. Giovanni Maria Bigotto

Jean Chevillard

Nasceu em Angers (França) no dia 27 de agosto de 1925. Os estudos terminados, entra nos Padres Brancos. É a guerra. Aos 16 anos, consegue chegar à África do Norte. Aí fará seu juramento missionário, em 29 de junho de 1949 e será ordenado padre em 1 de fevereiro de 1950, em Cartago. Nomeado para a Argélia, lá passará quase toda a vida : responsável pelos centros de formação, Superior Regional, Ecônomo Regional. É assassinado no seu dia de festa, 27 de dezembro de 1994, em Tizi-Ouzou. Estava à sua mesa secretária, recebia as pessoas, registrava as informações e fazia o correio. Por volta do meio dia, foi arrancado por quatro homens armados. O Padre Pierre Georgin, Superior Regional, dizia :
“Este sério homem de dever, eu tornei a achá-lo nele mesmo num grau que chegava ao heroísmo.”

Nas montanhas cabilas, quando a violência sobe em toda a Argélia, Jean sabe que se encontra exposto :
“Eu sei que posso morrer assassinado. Nossa vocação é de testemunhar a fé cristã em terra muçulmana. Quanto ao mais, Inch’Allah.!”

Uma de suas irmãs perguntava-lhe, em setembro de 1994 :
“Porque voltas para lá? Ele respondia:
“Volto para lá, para testemunhar. Lá é a minha casa, junto de meus amigos berberes.Sobretudo se morrer, quero ser enterrado lá.»


      Alain Dieulangard

Nasceu no dia 21 de maio de 1919 em St. Brieuc (França). Segue os estudos de direito, que termina em 1943.

Neste mesmo ano é admitido nos Padres Brancos. Faz seu juramento em Thibar, a 29 de junho de 1949, e é ordenado padre em 1 de fevereiro de 1950. Nomeado para a Argélia, lá passa toda a sua vida missionária, sobretudo na Kabylia, trabalhando na administração e no ensino. Homem de Deus, buscando o absoluto.

“Quando o Padre Alain começa a me falar de Deus, lembro-me que fecha os olhos, se recorda de Amar, e com doçura, solta as suas palavras em voz baixa, que me é preciso esticar a orelha : é preciso amar a Deus nosso Pai, nosso refúgio, nossa vida, amando também nossos irmãos no Senhor Jesus Cristo; é o que ele nos repete sem cessar.”

Antes da sua morte, ele escreve :
“Como os apóstolos no lago, nós não temos senão que gritar para o Senhor, a fim de o acordar… O futuro está nas mãos de Deus.” Foi assassinado no pátio da missão, no dia 27 de dezembro de 1994.


Charles Deckers

Nasceu em Antuérpia (Bélgica), no dia 26 de dezembro de 1924. No fim dos estudos, ingressou na Congregasão dos Padres Brancos. Fará seu juramento em 21 de julho de 1949 e será ordenado padre em 8 de abril de 1949. Estuda o árabe em Tunis. Em 1955, em Tizi-Ouzou aprende o berbere e fica responsável por um lar de jovens. Durante três anos animou em Bruxelas, o Centro El Kalima, um centro de documentação e de diálogo entre cristãos e imigrados muçulmanos. Em 1928, vai ao Iêmen, mas volta em 1987 para a Argélia, como pároco de Nossa Senhora da África. Muito estimado pelos Kabilas, por ocasião das celebrações em janeiro de 2005, o nome dele vem muitas vezes nos testemunhos :
 “Conheci o Padre Deckers, lembra um, e guardo na memória a imagem deste semeador de esperança aos mais desesperados: com esta serenidade que emana só dos santos”.

É consciente dos perigos que corre :
“Eu sei que minhas actividades são perigosas para a minha vida. Aqui está a minha vocação, fico. Nossa Senhora d´África fica à mercê de um ato insensato. Na Diocese, pensamos que a manutenção da presença da Igreja é importante, tanto para a própria Igreja como para o país”.

No dia 27 de dezembro de 1994, vai pela estrada para a festa do amigo Jean Chevillard. Alguns minutos após a chegada, é morto no pátio da missão.


Christian Chessel

Nasceu em Digne (França), a 27 de outubro de 1958. Depois de obter o diploma de engenheiro em 1981, faz dois anos de cooperação na Costa de Marfim, e em 1985 entra nos Padres Brancos. É em Roma, estranha coincidência, que Christian faz seu juramento missionário, em 26 de novembro de 1991, com a mão posta sobre umas folhas do evangelho de São João em língua árabe, achadas nos restos mortais do Padre Richard assassinado no Sahara em 1881. É ordenado padre, em 28 de junho de 1992. De volta a Tizi-Ouzou, prepara o projeto duma biblioteca para estudantes.

Uma jovem argelina, Zakia, escreverá após a morte do padre :
“aos pais do nosso jovem Padre Christian... direi : sabei que nestes últimos dias, Christian era muito feliz.. podia ter posto em andamento o projeto tão caro ao seu coração, construir uma biblioteca destinada a todos os jovens de Tizi-Ouzou.”

No início de novembro de 1994, Christian vai para o mosteiro de Tibhirine, a fim de reentrar no grupo Ribât-es-Salam (Lugar da Paz). Escreveu :
“Sinto necessidade de equilibrar (minha vida) por uma dimensão mais espiritual e algo mais simples e vivido”.

Uma rajada de tiros põe fim à sua vida, no dia 27 de dezembro de 1994, no pátio de Tizi-Ouzou.


Cardeal Charles Lavigerie

Os Missionários da África
(Padres Brancos) 

Um Instituto missionário fundado 
na Argélia com uma paixão pela África

Formado de 1770 irmãos e padres da África, da América, da Ásia e da Europa. 640 estão na África a serviço das igrejas locais : paróquias, instituições de formação e de animação. Um engajamento constante : a primeira evangelização. Uma presença importante nos países africanos mais islamizados. Um engajamento para a justiça, a paz, a reconciliação e o diálogo inter-religioso : Herança do fundador.

Uma vida em comunidades internacionais, fundadas na partilha da ajuda mútua.


Atitudes de Apóstolo segundo o fundador

“Sede apóstolos, não outra coisa ou pelo menos nada sejais senão nessa finalidade.” Ser tudo para todos “pela linguagem antes de mais, pela vestimenta, pela nutrição.” Um primeiro passo para a inculturação. Cristianizar a África, não europeizá-la; importância da tolerância e do respeito pelos outros. “Visum pro matyrio” : “É com efeito, meus bem-amados Filhos, a provação que vos espera a todos.”


O Cardeal Charles Lavigerie (1825-1892)

Fundador dos Missionários da África (Padres Brancos) e da Irmãs Brancas. 

Arcebispo de Argel, de Cartago e primaz da África.

Um zelo para revirar as fronteiras.

Um combate : defender os direitos e a liberdade do homem.

Uma preocupação : reconciliar a Igreja com o seu tempo e preparar o futuro.

Uma voz grossa, um coração de ouro e uma extraordinária capacidade de se interessar por tudo.

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Site dos Missionários da África (Padres Brancos) :

Abordagem sobre os Padres Brancos mortos na Argélia, em 1994, e os atuais, em Tizi-Ouzou :


Fonte  :
* Bigotto, Irmão Giovanni Maria, postulador marista das causas dos santos, livreto ‘O Sangue do Amor, Os Mártires da Argélia 1994-1996’, 2006. 



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