quarta-feira, 28 de maio de 2014

O Cântaro Furado

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
  
* Artigo de Fernando Domingues,
Missionário Comboniano
  
‘Eram mais de 70 as missionárias e missionários que participaram na semana de exercícios espirituais em Leiria. Já o número foi uma agradável surpresa. Depois fez-me pensar também o facto de estarmos ali pessoas leigas, irmãs, sacerdotes, gente com uma grande variedade de experiências de vida... diferenças também no que diz respeito à idade, havia umas dezenas boas de anos entre jovens noviços e missionários já velhinhos. Quanto à diferença de níveis de santidade... Bem, isso só Deus sabe.

O certo é que éramos gente com diferenças notáveis entre uns e outros. Por isso o ambiente de amizade e de confiança recíproca que se criou foi algo de muito bonito, e permitiu-nos ter momentos de oração partilhada com grande abertura de coração e grande intensidade. Tínhamos em comum o nosso ideal comboniano e o desejo profundo de passar uns dias bons em oração à escuta do Senhor e a refrescar o nosso espírito missionário. Os textos do Papa Francisco que lemos e meditamos juntos vieram ajudar-nos a viver a nossa fé com aquela alegria que Deus dá a quem trabalha para sintonizar a vida com o Evangelho e com as irmãs e os irmãos que Deus nos colocou por perto.

Ao fim de cinco dias de retiro, estávamos todos com as baterias bem carregadas.

Além do facto que todos somos simpáticos e gostamos de ser agradecidos pelo bem que fazemos uns aos outros, impressionou-me a expressão que alguém usou para agradecer : «Este retiro foi encomendado para mim.» Outras pessoas em situação bem diferente usaram palavras semelhantes : «Era mesmo disto que eu estava a precisar.» Vínhamos todos de «viagens diferentes» em «desertos diferentes», de onde vinha aquela sintonia? Simples : a fonte onde fomos beber todos, o Evangelho de Jesus e a nossa comum vocação missionária, tinham a «água certa» para cada um que lá se chegava.

O Papa Francisco falou um dia destes do Coração trespassado de Cristo que é, diz ele, como um cântaro furado de todos os lados; cada um pode beber ao buraco que vê mais perto, mas a «água viva» que de lá sai é sempre a mesma e é capaz de saciar sempre a nossa sede, seja ela qual for.

Lembro uma experiência muito semelhante quando há muitos anos cheguei à minha missão na África : a primeira vez que num domingo fui celebrar a Santa Missa com a parte do «rebanho» que me era confiado, celebrei e rezei com aquela gente e senti-me como se fôssemos família já há muito tempo; sentia-se uma unidade entre nós que era difícil de explicar. Ao olhar para trás agora, algo me sugere que se trata sempre do mesmo mistério : não é eliminando as nossas diferenças que realizamos a unidade, o que é preciso é caminhar juntos bebendo todos na mesma fonte.’


Fonte  :
* Artigo na íntegra de http://www.alem-mar.org/cgi-bin/quickregister/scripts/redirect.cgi?redirect=EFAAFlkAAEPfQgvLuG


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