Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
Arcebispo de São Salvador da Bahia, Primaz do Brasil
‘Numa
época de grandes avanços científicos e tecnológicos, marcada pelo risco de
alguém se tornar ‘escravo do trabalho’, perdura tristemente o trabalho escravo.
Notícias a respeito têm sido veiculadas pela mídia, nem sempre recebendo a
devida atenção, indignação e resposta efetiva. As vítimas têm o seu clamor
sufocado, o que leva as novas formas de escravidão a se perpetuarem e a se
agravarem. Dentre elas, estão migrantes provenientes das áreas mais pobres do
país e pessoas que sofrem com a miséria e a fome. Notícias recentes sobre a
exploração de trabalhadores provenientes do Nordeste, principalmente da Bahia,
têm favorecido algum conhecimento e reflexão sobre esta dura realidade. O caso
veio a público com particular intensidade, gerando reações de indignação, mas
certamente muitas outras situações ocorrem sem conhecimento público, nem a
necessária resposta,
A
capacidade humana de indignar-se perante esta forma de violação da vida e da
dignidade das pessoas ainda se manifesta, trazendo esperança. Contudo, a
comoção provocada pelo noticiário e pelas redes sociais não é suficiente. É
preciso a ação decidida e permanente de autoridades e órgãos públicos, a
mobilização da sociedade civil organizada, a participação de igrejas,
universidades, meios de comunicação social e organizações de defesa dos
direitos humanos. Iniciativas em andamento, como a Rede Um Grito pela
Vida, de combate ao tráfico de pessoas, necessitam ser valorizadas e
difundidas.
Além
das ações de combate ao trabalho escravo, é preciso investir na sua prevenção.
Para tanto, é preciso aprofundar a questão das suas causas para prevenir o
surgimento de novos casos. Há fatores, como a migração forçada em busca
de sobrevivência ou melhores condições de vida, que tornam os trabalhadores
presas fáceis de trabalho escravo. A miséria e a fome criam um terreno fértil
para submeter a condições de escravidão, trabalhadores, migrantes, mulheres e
crianças. É preciso combater as causas e não apenas os casos particulares. Além
disso, são sempre muito necessárias campanhas veiculando informações e alertas
para a população a fim de evitar que as pessoas se tornem vítimas de pessoas ou
grupos inescrupulosos que se aproveitam da sua vulnerabilidade social. Sinais
de esperança se descortinam no horizonte, como iniciativas de solidariedade e
de justiça, ações de superação da miséria e da fome e projetos socioeducativos.
Mas, é árduo e longo o caminho a percorrer para eliminar o trabalho
escravo. A complexidade e a gravidade da realidade social não devem ser
motivo para a paralisia e o desânimo. É preciso dizer ‘não’ ao trabalho escravo
e à escravidão de qualquer natureza, que não condiz com a dignidade da pessoa, ‘imagem
e semelhança’ de Deus.’
Fonte : *Artigo na íntegra
https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2023-03/cardeal-sergio-rocha-trabalho-escravo.html
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