Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo de Eugenio Fonseca
presidente da Confederação Portuguesa do Voluntariado
‘No ano 257, o
imperador Valeriano, depois de ter mandado decapitar o Papa Sisto II, intimou a
Igreja a entregar, no prazo de três dias, todas as suas riquezas, pois
tinha-lhe constado que ela era mais rica que ele. Cumprido o prazo, o diácono
Lourenço reuniu todas as pessoas que eram auxiliadas pela Igreja, anotou-lhes
os nomes e levou-as ao imperador, gritando a frase que lhe valeu a morte :
«Estes são o tesouro da Igreja.»
Está a terminar a
fase sinodal do continente europeu. Será que as Igrejas deste Velho Continente
podem dizer o que disse o diácono Lourenço ao imperador Valeriano? Com benditas
e louváveis excepções protagonizadas por paróquias e congregações religiosas,
as Igrejas europeias nunca chegaram a fazer uma sincera «opção preferencial
pelos pobres», como o tem vindo a fazer o Magistério da Igreja a partir da III
Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano realizada em Puebla, México,
no ano de 1979 (cf. Sollicitudo Rei Socialis, 42; Conferência
Episcopal Portuguesa, Instrução Pastoral – A Acção Social da Igreja,
9; Evangelii Gaudium, 48 e 198).
Como a realidade que
melhor conheço é a de Portugal, gostaria muito que se aproveitasse este desafio
do Papa Francisco, de caminharmos juntos, para se fazer, efectivamente, esta
opção e «alargar o espaço das tendas» (cf. Is 54,2) das paróquias das nossas
dioceses aos pobres e aos mais frágeis do nosso país, sabendo que os de hoje
são bem diferentes dos de há duas décadas.
Caminhar juntos com
os pobres, salvo mais douta opinião, é : i) assumir, com fé, que eles são
sacramento de Cristo e têm igual dignidade humana (cf. Mt 25; Centesimus
annus, 28c e 58; Fratelli tutti, 141 e 187); ii)
constituir grupos paroquiais de pastoral social que sejam expressão organizada
da caridade da comunidade cristã com elementos capazes de ir às causas dos
problemas das pessoas; iii) integrar alguns pobres nesses grupos; iv)
considerar as instituições sociais como agentes subsidiários e nunca
substitutivos da caridade organizada da comunidade cristã (cf. Conferência
Episcopal Portuguesa, Instrução Pastoral – A Acção Social da Igreja,
9 e 24); v) criar ‘bancos de horas’ que registem o tempo de quem se
disponibilize para apoiar novos projectos de vidas de quem ficou sem trabalho;
vi) estabelecer parcerias com outras instituições; vii) realizar assembleias paroquiais
anuais para conhecimento da realidade socioeconómica da paróquia; viii)
promover acções dirigidas aos pobres em espírito que podem ser os que estão
privados de bens materiais e os que não têm falta deles, mas os desperdiçam.
Para que a acção caritativa
da Igreja seja anúncio de uma boa nova verdadeiramente libertadora (cf. Lc 4,
18), há que investir mais no conhecimento do pensamento social da Igreja.
O Papa Francisco
anseia por uma Igreja pobre e para os pobres. Eu acrescento : com os pobres, e
que a sinodalidade seja sinónimo de fraternidade. Quando tal acontecer, ela,
então, possuirá tesouros que «a traça e a ferrugem não corroem e onde os
ladrões não arrombam nem furtam» (cf. Mt 6, 20).’
Fonte : *Artigo na íntegra
https://www.combonianos.pt/alem-mar/opiniao/4/919/os-pobres-numa-igreja-sinodal/
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