Por Eliana Maria
(Ir. Gabriela, Obl. OSB)
jornalista, colunista e pároco
de Santo Afonso de Fortaleza, CE
‘A verdadeira paz não é fruto de um silêncio farsante,
dissimulado e hipócrita. Pensemos na sedução de Jeremias, na condição de
profeta e amigo de Deus, que se veja seu encanto em anunciar a paz, sedimentada
na justiça e na fidelidade a Deus. A única saída para o profeta foi se tornar
“objeto de disputa e de discórdia em todo o país” (Jr 15, 10). Para se livrarem
dele, acusaram-no os chefes militares de derrotismo junto ao rei e, obtidos
poderes sobre ele, lançaram-no numa cisterna lamacenta, onde se atolou. Teria
certamente perecido, se Deus não o houvesse socorrido por meio de um
desconhecido, que conseguiu do rei licença para retirá-lo daquela cova, ou
antro de morte.
Exprime-se
bem essa situação de Jeremias com a oração do salmo, a seguir : “Esperei no Senhor
com toda a confiança; ele se inclinou para mim e ouviu meu clamor e grito.
Tirou-me do poço da perdição, daquele encharcado lodo” (SI 40, 2-3). Na
iminente morte do profeta, a libertação chegou de fora, de quem não se
esperava, de um etíope. O que aconteceu com Jeremias, infelizmente, hoje
constantemente se repete.
Jesus
veio para nos trazer a paz, mas aquela paz compreendida como fruto da conversão
do coração, conversão à verdade. Quem vive da verdade e mergulhado na verdade,
passa por consequências inomináveis e incompreensões mesquinhas. Não hesitar
quando for preciso radicalizar, a partir de Jesus de Nazaré, numa lógica de
coerência, na sua clara afirmação de lançar fogo sobre a terra claramente
fazendo opção pela vida, que é dom e graça. “Vim trazer divisão” é uma
afirmação incisiva e desconcertante (cf. Lc, 49-52) à primeira vista, mas não
contradiz nem anula o que ele já disse em outras ocasiões, quando explica que a
paz interior é um sinal de harmonia entre a criatura humana e Deus.
Na
adesão ao querer divino, jamais devemos prescindir da luta, na legítima guerra
contra tudo o que se carrega no íntimo da alma : paixões, tentações, pecados.
No seu próprio ambiente de trabalho, como exemplo, caso alguém se oponha à
vontade salvífica e libertadora, em detrimento da fé, é dever nosso contrariar
esse tipo de atitude, agindo corajosamente de forma profética no serviço ao
Senhor, em seu projeto de amor. Se escolhermos falar e viver segundo o
Evangelho, com certeza seremos perseguidos.
Pela
existência da Bondade Infinita, que a nossa humanidade possa sempre mais clamar
pela divindade, mesmo conscientes de que somos parciais, ao relativizar essa
demanda, mesmo no lógico e clamoroso brado da existência do Onipotente.
Para
que o universo todo e a nossa vida inteira não sejam um absurdo, um brinquedo
passageiro, não prescindir de reconhecer a existência do Infinito e do
Absoluto. Que nossa realidade finita possa se revelar, enquanto restrita e
passageira, mas no relacionamento esperançoso com o Infinito, no ser invisível
de Deus, contemplado pela razão, através de suas obras (cf. Rom 1, 19s).’
Fonte : *Artigo na íntegra
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