Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo da Irmã Maria Freire da Silva,
Diretora Geral Congregação das Irmãs do Imaculado Coração de Maria
‘O mês de agosto chega com muitas novidades para nós,
Irmãs do Imaculado Coração de Maria. Tem em seus dias, nossos padroeiros :
Afonso de Ligório (01), Santa Clara de Assis (11) e São Bernardo de Claraval
(20).
Agosto está prenhe da presença dos Padres, mártires
dos primeiros séculos da Igreja : Hipólito de Roma (13), São Lourenço (10),
Santa Filomena (10), entre tantos outros. Destaca-se também a figura do grande
pilar teológico da Igreja, Agostinho de Hipona (20). No entanto, percebe-se a
presença de Maria Mãe de Deus, através de diversos títulos. É justamente com o
título de Nossa Senhora da Assunção, que quero focar minha reflexão.
A definição dogmática da Assunção à Glória Celeste em
corpo e alma, da parte de Pio XII, foi um evento eclesial marcado com pedra
branca nas páginas da História (PAMI, 2001). Nos séculos VII e VIII através das
homilias de São Modesto de Jerusalém (634) sobre a Dormição da Mãe de Deus como
o primeiro discurso bizantino sobre a festa de 15 de agosto, dá-se o primeiro
momento da teologia grega onde afirma a doutrina católica da Assunção. São João
Damasceno é notável por suas três célebres homilias sobre a Dormição da Beata
Virgem, comenta sobre a sepultura de Maria como algo normal aos humanos, porém
que não conhece a corrupção, dando a entender a transfiguração do corpo, como
participação na Ressurreição do Filho, tornando-se morada mais nobre e divina,
pelos séculos dos séculos (ibidem). A chegada do Concílio Vaticano II assiste a
um grande crescimento mariológico, a partir do movimento
bíblico-litúrgico-patrístico-ecumênico e da teologia kerigmática. Pode-se dizer
que a proclamação da Assunção em 1950 representa o cume da mariologia
pré-conciliar com o triunfo do movimento assuncionista no contexto da II Guerra
mundial.
Opiniões se dividem entre a contingência
substancialmente histórica, unida à uma exigência de natureza psicológica, que
almejava distanciar-se dos horrores do corpo destruído, desumanizado pela
guerra, para olhar um modelo de humanidade realizada e gloriosa, como a Beata
virgem Maria. É a valorização do corpo como espaço de salvação, habitação da
Trindade Santa. Nos dois últimos dogmas marianos nos deparamos com um novo
modelo do desenvolvimento da história dos dogmas : a Imaculada Conceição e
Assunção fundamentados na argumentação da Tradição. Em um contexto de
indagações histórico e teológica se insere a Constituição Apostólica Munificentissimus
Deus de Pio XII em 01 de novembro de 1950. Não são dogmas proclamados em
Concílios para defender a fé de heresias(controvérsias).
O papa apresentava a Assunção de Maria como dom e
sentido de reconciliação e de esperança. A Assunção da Virgem encontra razão de
ser na entrega incondicional de Maria à pessoa e a missão redentora de Jesus, o
Filho de Deus encarnado. Portanto, evidencia-se a questão seja personalógica do
privilégio da singular pessoa de Maria, seja cristocêntrica e soteriológica,
único Cristo redentor e glorificado. Trata-se de uma transfiguração
sobrenatural e pascal do corpo humano. A Assunção oferece em Maria uma imagem
antropológico-teológica exemplar na plenitude da integralidade da pessoa, da
corporeidade feminina, ícone escatológico da Igreja e da comunidade discipular
do Ressuscitado. Maria é a mulher do início (kairós de Deus) e da promessa
divina. Maria assunta indica de modo antecipado o destino da humanidade. Maria
é ícone do Deus trinitário e da nova humanidade.
A Assunção conclui a maternidade divina de Maria, o
abraço do Espírito Santo que a cobriu com sua sombra (Lc 1,35). Essa realidade
nos convida à contemplação do mistério trinitário de Deus presente em Maria,
provocando uma abertura para o futuro, onde o corpo não é objeto do mercado,
mas espaço do movimento do Espírito Santo, na realização da vida nova em
Cristo. Há um chamado à liberdade, a ética e a verdade, uma ligação forte entre
Maria e Cristo em uma extensa participação no mistério de salvação.
O corpo glorioso refuta o corpo visto de modo
utilitarista, como objeto de prazer exposto ao dinamismo da moda, da
sexualidade, do passageiro, do descartável, como também, maltratado pela fome,
pelas marcas da guerra, pelo desprezo, pela ausência da ternura e do amor
comprometido. A Imaculada representa o paradigma da vocação humana pensada e
querida por Deus, é um sinal profético. Em Maria, toda humanidade vem
reconduzida às suas origens, à beleza inicial. Em Maria temos a primazia e a
antecipação da humanidade no esplendor da sua plenitude (Ef 1,18). É
preciso pensar a Assunção na dimensão relacional da corporeidade (PAMI, 2001).’
Fonte : *Artigo na íntegra
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