Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo de Fabrício Veliq,
teólogo protestante
‘As teologias, como toda e qualquer ciência humana, têm
várias faces. Ao longo da história diversas delas já foram mostradas. No
Ocidente, então, fortemente influenciado pela cultura greco-romana e pela
teologia de matriz judaico-cristã, fica, talvez, mais fácil de percebê-las.
A
primeira seria a face do moralismo, tão difundido em meios fundamentalistas,
sejam católicos, sejam protestantes. Essa face, por sua vez, dado o seu aspecto
carrancudo, é aquela que constantemente é responsável por fazer com que as
pessoas, principalmente as mais jovens, afastem-se das igrejas, por não verem
sentido em uma lista de regras impostas sem o menor pudor, como algo vindo do
céu e escrito em pedras a ser observado para todo sempre. Da mesma forma, essa
face é aquela que é vista como a condenadora dos que estão do ‘lado de fora’, ‘longe
dos caminhos do Senhor’, por simplesmente não estarem dispostas a seguir o que
é dito pela instituição.
Outra
face muito conhecida da teologia cristã é a que traz um ar de superioridade e
desdenho com relação ao que lhe é diferente. Essa teologia, que se considera
melhor, maior e mais perfeita do que as outras religiões e outras formas de
pensar, também se revela constantemente no dia a dia das pessoas. Essa, por
apresentar um rosto mais amigável, atrai para si diversas pessoas que, não
raras as vezes, querem se sentir merecedoras, exclusivas e certas de que estão
no caminho que deveriam estar.
Contudo,
um olhar atento mostra que essa face da teologia é tão excludente quanto a
primeira da qual falamos, só que ao invés de gritar como um senhor carrancudo
contra as crianças que brincam à sua porta, essa fica na espera de que a bola
com a qual brincam atinja seu quintal para, então, esvaziá-la e acabar com toda
a alegria e diversidade que tanto lhe incomoda.
Por
fim, podemos perceber a face da indiferença. Aquela que se mostra quando
diversas instituições, preocupadas somente com o céu e um mundo porvir,
mostram-se como indiferentes frente a tudo o que acontece na sociedade. É a
face que afirma : ‘nós não somos deste mundo e, portanto, não devemos nos
incomodar com ele’, fruto de uma teologia desencarnada, que não aprendeu nada
com o exemplo de Jesus de Nazaré. Em busca de um lugar no céu, esquece-se de
que é no chão do mundo que o Reino de Deus vai tomando forma. Em outras
palavras, tal face da teologia abandona justamente aquilo que lhe dá
fundamento.
Essas
três faces da teologia, infelizmente, talvez sejam as mais percebidas em nossa
sociedade contemporânea.
Uma
outra face, porém, precisa aparecer mais e sobressair a essas outras. Essa face
é a do cuidado. Cuidado que, por definição, pressupõe a empatia, pressupõe o
ouvir atento, a disposição de caminhar junto, o amor recíproco, a renúncia ao
poder.
Toda
vez que tal face não se mostra, o que se percebe é uma teologia cristã que se
afasta dos ensinamentos de Jesus de Nazaré, causando mais mal do que bem
àqueles e àquelas que convivem com esse tipo de igreja.
Resgatar
a face do cuidado com o outro e com a natureza é tarefa fundamental para uma
teologia que deseja ser uma voz digna de ser ouvida no mundo contemporâneo. Sem
isso, seremos como loucos que se imaginam falando para multidões e sendo
ovacionados, quando na realidade estamos somente em mais um delírio em nosso
quarto pequeno e afastado de tudo.’
Fonte : *Artigo na íntegra
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