Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo de Dom Walmor Oliveira de Azevedo,
Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte, MG
Presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
‘O ano eleitoral de 2022 precisa incluir a importante
tarefa de olhar o conjunto da comunidade política : não se pode considerar
somente o Poder Executivo Federal. A indispensável conscientização política
neste momento pede, dos cidadãos, essa tarefa - pois também é especialmente
importante o conjunto de cargos eletivos que compõem as assembleias
legislativas e o Congresso Nacional. A definição do voto não pode se pautar
ainda, simplesmente, pelas polarizações ou ‘paixões’ costumeiras, sob
pena de inadequado discernimento para escolhas tão importantes. Para efetivar
uma política melhor, alicerçada no bem, sem submissão a interesses cartoriais e
oligárquicos, capaz de ajudar na reconstrução da sociedade brasileira nos
parâmetros da justiça e da paz, é fundamental escolher pessoas com envergadura
moral e competência política. Neste horizonte, deve-se também observar e
identificar aqueles que têm compromisso explícito, claro e comprovado com o
sistema democrático.
A fidelidade aos princípios democráticos define a
autoridade e a força moral dos candidatos. A Igreja Católica, em sua Doutrina
Social, sublinha a importância da democracia, que assegura a participação dos
cidadãos na vida política, a possibilidade de os governados elegerem e
controlarem seus governantes. Por isso mesmo, neste ano eleitoral, sejam
incansavelmente reafirmados os valores da democracia, irradiando uma luz que se
acende na escuridão. Ao promoverem os valores democráticos, reconheça-se que
uma autêntica democracia, conforme ensina a Doutrina Social da Igreja, é bem
mais que a inegociável dimensão do respeito formal às regras das instituições.
Contempla a convicta aceitação dos princípios essenciais ao fortalecimento do
sistema democrático, que incluem o respeito à dignidade da pessoa humana e de
seus direitos, a promoção do bem comum como fim e critério regulador das
atividades políticas. E nesse horizonte, deve-se considerar a indissociável
vinculação entre os campos social e ambiental, nos ricos parâmetros da ecologia
integral, magistralmente apresentados pelo Papa Francisco na Carta Encíclica
Laudato Si’ - sobre o cuidado com a casa comum.
Se não há fidelidade aos valores democráticos não se
pode merecer a confiança do voto, pois desrespeita-se o verdadeiro sentido da
democracia, comprometendo a sua estabilidade. O relativismo ético,
que desconsidera critérios universais, a exemplo dos valores democráticos, é
sério risco para o pleno exercício da cidadania. Seja, pois, observada a
trajetória de cada candidato, para identificar se há fidelidade a entendimentos
indispensáveis para o exercício da representação política. Quem assume a
responsabilidade de ocupar cargos nas instâncias do poder, a partir do processo
eleitoral, não pode subestimar a dimensão moral de sua representação. Isto
significa, em primeiro lugar, que os políticos precisam ser realmente sensíveis
às necessidades da população, procurando soluções para problemas sociais e
ambientais.
O exercício do poder político, quando não é orientado
a partir de adequados princípios morais, contribui para gerar deformações no
sistema democrático – a exemplo da corrupção política, das manipulações
interesseiras, da defesa de grupos oligárquicos, traindo os valores da justiça
social. A carência de respeito à dimensão moral explica porque há, na
atualidade, uma crescente desconfiança relacionada à política. Fundamental é
buscar uma reação, ‘encantar’ a política definindo os quadros que
exercerão a representatividade dos cidadãos nas instâncias do poder, observando
um aspecto que vai além de simpatias, favores recebidos ou paixões cegas : a
corrida eleitoral pede a avaliação da dimensão moral de candidatos para
efetivar escolhas capazes de contribuir com o fortalecimento da democracia,
essencial à promoção de uma ‘primavera’ de justiça social.’
Fonte : *Artigo na íntegra
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