Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
jornalista
‘A Oxfam, uma instituição britânica que
trabalha para combater a injustiça e a pobreza em todo o mundo, divulgou o seu
relatório anual no final de Janeiro. Como é costume, apresentou-o em Davos,
antes do Fórum Económico Mundial (evento que reúne milhares de responsáveis
empresariais, políticos e ativistas para debater temas da atualidade), para
chamar a atenção dos participantes para as consequências da crescente
desigualdade e, com base nas suas denúncias, exigir que os governos tomem
medidas para reduzir a disparidade global.
O
relatório sublinha que é o vírus da desigualdade, e não apenas a pandemia, que
continua a devastar milhões de vidas no mundo. A crise da covid-19, refere o
texto, incrementou a pobreza das pessoas mais excluídas e vulneráveis e, paradoxalmente,
aumentou a acumulação de riqueza dos multimilionários, que conseguiram um
aumento recorde na sua fortuna nestes dois anos. Neste período, a cada 26 horas
foi criado um novo multimilionário e os dez homens mais ricos do mundo mais que
duplicaram os seus ativos financeiros, enquanto se calcula que os ingressos de
99% da humanidade se deterioraram. Por outro lado, estima-se que mais de 160
milhões de pessoas foram empurradas para a pobreza nesse tempo de crise
sanitária. Além disso, a cada minuto, 15 pessoas em todo o mundo perdem a vida
por falta de acesso a cuidados de saúde, por causa dos impactos da crise
climática, da fome e da violência baseada no gênero.
A
crise das vacinas contra o novo coronavírus também revela a injustiça social
presente no planeta. A iniciativa Covax fracassou no seu objetivo de repartir 2
mil milhões de vacinas entre os países com baixos rendimentos no final de 2021
e, atualmente, menos de 1% das vacinas produzidas pelas grandes empresas
multinacionais chegaram às pessoas que vivem nos países de rendimentos baixos.
Na África, só 10% das pessoas têm o processo de vacinação completo, de acordo
com a Our World in Data (23 de Janeiro de 2022).
Esta
situação, como sabemos, é a consequência de um sistema econômico mundial que
funciona mal e que não mudou nem sequer durante um fenómeno destrutivo e global
como a pandemia. É um mundo onde triunfa, como denunciou em diferentes
ocasiões o Papa Francisco, «uma economia que mata» e uma antropologia
individualista que a anima. Um sistema económico que tem como resultado a
exclusão de grandes massas humanas, atiradas existencialmente para becos sem
saída.
Os
cristãos sabemos que é viável um modelo novo de economia – como bem se expressa
no âmbito da iniciativa A Economia de Francisco –, centrado na
pessoa e na vida, mais humano e inclusivo, que dê voz e vez aos mais
vulneráveis, aos que vivem na periferia. E, enquanto afirmamos que outra
economia é possível, esforçamo-nos por ser Igreja samaritana, comprometidos ativamente
no apoio solidário aos mais frágeis e no cuidado da Criação; trabalhando no
delineamento de soluções que contribuam para a construção de uma sociedade mais
justa e fraterna, onde todos nos sintamos peregrinos e locatários da mesma casa
comum.’
Fonte : *Artigo na íntegra
https://www.combonianos.pt/alem-mar/opiniao/4/670/o-virus-da-desigualdade/
Nenhum comentário:
Postar um comentário