Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
teólogo protestante
‘A denominação de teologia enquanto ciência
da fé já é bastante tradicional, sendo, talvez, a mais utilizada quando se
pergunta a respeito do fazer teológico. A fé que busca o entendimento, por sua
vez, garante um dos pilares disso que chamamos teologia : que toda teologia parte
do dado da fé daquele ou daquela que crê e, sem ela, tal fazer teológico pode,
até mesmo, ser questionado.
Ao passarmos para o campo científico
propriamente dito, na esteira das revoluções científicas que aconteceram desde
o século 16, pensar a teologia envolve também em pensar o método teológico, de
maneira que seja possível a qualquer pessoa identificar que, em determinada
pesquisa, o rigor conceitual e procedimental (tão caros à ciência) tenha sido
cumprido, de maneira que o que vier de tal esforço contribua para o
conhecimento do campo teórico em questão.
Da mesma forma, como toda ciência, seu
intuito deve ser contribuir para a melhora da sociedade em que é feita. Com
isso em mente, é pressuposto que aquele e aquela que se forma como teólogo ou
teóloga seja um profissional devidamente capacitado para propor novas leituras
e interpretações da realidade a partir de determinada teologia, visando sempre
o bem-estar de sua comunidade.
Quando nos movemos para o âmbito da
teologia cristã, além de todos essas qualidades que todo cientista deve ter,
precisamos pensar em atitudes fundamentais que um teólogo ou teóloga cristã
precisa ter. Dentre elas, a capacidade dialogal. Numa perspectiva cristã, não
há teologia sem diálogo, de maneira que o teólogo ou teóloga deve ser, antes de
tudo, um profissional na arte dialógica.
Isso, contudo, não deve ser compreendido
como alguém que seja, simplesmente, bom na arte da retórica ou do
convencimento. Muito além dessas habilidades (nada contra se as tiver), a
postura dialogal envolve o comprometimento da escuta atenta e, principalmente,
a escuta humilde.
Ser um/a profissional do diálogo implica,
antes de tudo, reconhecer-se como sendo mais um na multidão, nem melhor, nem
pior do que as outras pessoas com quem irá dialogar. Nesse sentido, abrir mão
de qualquer pretensão de superioridade se torna fundamental para que essa
profissão teológica seja bem executada. No momento em que o senso de
superioridade entra, a capacidade teológica se esvai.
Da mesma forma, quando dizemos a capacidade
da escuta atenta não nos referimos ao mero ato de uso do aparelho auditivo.
Muito além disso, tal escuta demanda de tal profissional o engajamento com a
situação na qual está inserido, o acolhimento das diversas realidades em seu
entorno para, assim, poder realmente ouvir as questões de seu tempo e seu
contexto.
Sem escuta não há diálogo. Pode haver monólogos doutrinais, respostas
dogmáticas a perguntas não perguntadas, dentre tantos outros inconvenientes que
um falar apressado pode trazer.
Se a teologia enquanto ciência tem a
capacidade de formar um profissional do diálogo, é necessário que estejamos
atentos a perceber se teólogos e teólogas de hoje estão realmente cumprindo com
tal papel na sociedade. Ou contrariamente a isso, temos ditos diversos teólogos
e teólogas que, sendo péssimos profissionais do diálogo, nada mais fazem do que
tornar a ciência teológica mais inalcançável e, pior ainda, sem razão nenhuma
para existir em uma sociedade plural como a nossa.’
Fonte : *Artigo na íntegra
https://domtotal.com/noticia/1565427/2022/02/o-teologo-como-profissional-do-dialogo/
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