Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo
de Mirticeli Medeiros,
jornalista e mestre em História da Igreja, uma das
poucas brasileiras
credenciadas como vaticanista junto à Sala de Imprensa
da Santa Sé
‘Neste último domingo (6), Francisco
concedeu uma entrevista ao programa de televisão ‘Che tempo che fa’,
exibido aos domingos, ao vivo, pela emissora italiana RAI, e surpreendeu a
todos ao rebater a pergunta do apresentador Fabio Fazio, que é um fã declarado
do papa argentino.
Quando
o pontífice foi questionado a respeito do que ‘precisa suportar’,
estando à frente da Igreja Católica, deu uma resposta que pegou os
telespectadores de surpresa.
‘É
até forçado responder a esse tipo de pergunta, já que, pensando na situação de
tantos irmãos e irmãs que estão sem salário e na pobreza, nem me sinto
confortável de responder ‘o que preciso suportar’’, disse.
Na
mesma entrevista, ele também revelou que, quando confessa algum fiel, pergunta
ao penitente se, ao dar esmola, ele pega na mão da pessoa em situação de rua ou
olha nos olhos dela. E reforçou que o modelo de caridade do cristianismo
continua sendo a parábola do bom samaritano.
Para
Francisco, um cristianismo sem comprometimento não convence. É preciso mostrar,
com a vida, que essa é a religião do ‘verbo encarnado’; não
simplesmente uma filosofia de vida, um rito ou uma lista de preceitos.
O
Papa alerta para o risco de criarem um cristianismo paralelo,
totalmente apartado da própria raiz, que é o próprio Jesus Cristo. Mas, para
alguns, os gurus da internet ou ‘teólogos da moda’ têm muito mais a
ensinar que o próprio mestre. Cria-se, portanto, uma religiosidade
esteticamente impecável, mas pobre de humanidade e de princípios, já
que há uma distorção das próprias virtudes teologais, as quais são
transformadas num mero slogan.
Na
internet, vemos gente que enche a boca para falar do ‘depósito da fé’, mas
reduz a própria fé a um rito; que fala de esperança, mas cria teses
apocalípticas para dividir os próprios católicos; que reforça que a igreja é a
maior instituição de caridade do mundo (e de fato o é), mas se esquiva da
responsabilidade de fazer o bem a quem precisa, refugiando-se na velha desculpa
da ‘meritocracia’, como se o pobre fosse responsável pela própria condição,
como diz o Santo Padre.
O
pontificado de Francisco, se observarmos bem, se coloca na brecha para tentar
impedir que saqueiem o cristianismo de novo, como aconteceu em outras épocas.
Sim, o cristianismo foi saqueado por jogos de interesse e de poder e pelas
várias instrumentalizações políticas que ocorreram ao longo da história.
Não
por acaso, o líder da Igreja Católica vê com preocupação a ascensão dos novos
populismos, porque sabe que o rosário, a cruz e as devoções serão, cada
vez mais, transformados em baluartes de cruzadas contemporâneas, como
já tem acontecido. E pior : quem está à frente dessas ‘batalhas em nome da
fé’ muitas vezes nem são cristãos, mas são até capazes de receberem o
batismo do dia para a noite, se considerarem oportuno.
A
empatia de Francisco incomoda porque quebra um ciclo vicioso e ‘rentável’
: o de sustentar a imagem de uma igreja triunfal e autorreferencial que pouco
se importa com as vicissitudes humanas. É por isso que essa oposição ao
Concílio Vaticano II, ao Papa e ao ecumenismo, na maioria das vezes travestida
de zelo, esconde uma grande necessidade de manter uma estrutura confortável,
que satisfaça amplamente o interesse de certos grupos.
E
não nos esqueçamos que, na época das redes sociais, tudo é monetizado e se
torna produto. O depósito da fé, o patrimônio espiritual e a doutrina da Igreja
viraram meros produtos. Vendem suas quinquilharias ‘opositoras’ diante
do templo, sem se preocuparem mais com Jesus, que munido do seu chicote,
condena a profanação da religião. Estão diante do templo, mas não são desse
templo. Suas almas foram junto com essa ‘mão invisível do mercado’, que
tudo rege, que tudo transforma e sob a qual eles se refugiam.
Enquanto
isso, o Papa pede empatia, toca, se aproxima, se abaixa para olhar nos olhos de
quem sofre. E acredita piamente que única mão invisível capaz de sustentá-lo é
a de Deus. Nenhuma outra.’
Fonte : *Artigo na íntegra
https://domtotal.com/noticia/1564417/2022/02/nao-suportam-a-empatia-de-francisco/
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