Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
teólogo
Tradução : Ramón Lara
‘Muito aconteceu no papado do Papa
Francisco – momentos de alegria e desânimo – mas devemos lembrar dessas
imagens. Elas são uma chave para entender seu papado e para a renovação da
Igreja. Francisco era um papa pedindo oração; um papa oferecendo oração.
Eu
sou o tipo de católico que deveria ser um inimigo do Papa Francisco. Acho que o
catolicismo da década de 1970 foi um desastre, descartando grande parte do
patrimônio da Igreja enquanto ignorava a letra e o espírito do Concílio
Vaticano II. Não acho que a Igreja deva ‘se adaptar aos tempos’; a
Igreja é a especialista em humanidade e divindade. Acredito firmemente que não
devemos nos conformar com os tempos, mas renovar a Igreja retornando às fontes
de nossa fé : a tradição transmitida pelo magistério e todo o povo de Deus.
E
por essas razões, eu apoio o Papa Francisco.
O
Papa Francisco confunde nossas expectativas porque elas tendem a ser moldadas
pelo mundo. Para muitos da esquerda política, seu papado é o momento de criar
uma nova Igreja conforme os tempos, como uma agência espiritual sem fins
lucrativos. Em vez de ver as linhas traçadas por Francisco, muitos proclamam
que suas iniciativas são ‘passos’ na direção certa, passos para cruzar
as linhas do ensinamento católico.
Muito
mais dolorosa para mim foi a resposta a Francisco de muitos de meus
companheiros católicos de mentalidade tradicional. Um teólogo descreveu ‘Traditionis
Custodes’, o recente motu proprio do papa restringindo o
uso da forma extraordinária da missa em latim, para mim como uma reação de
má-fé a ‘três pessoas no Twitter’. A boa notícia, segundo eles, foi que
o Papa Francisco morrerá em breve.
Isso
se encaixa em um padrão de discussão dos críticos de Francisco expressos no uso
sarcástico do nome ‘Bergoglio’, a hermenêutica negativa aplicada a tudo
aquilo que o Papa Francisco diz e o desrespeito às iniciativas papais que em
outras circunstâncias fariam os tradicionalistas aplaudirem – a celebração da
Dante, a elevação de Santo Irineu a doutor da Igreja, a instituição do Ano de
São José. Tendo eu mesmo aprendido o quão importante é estar comprometido com o
papado de tradicionalistas católicos, acho vertiginoso e desanimador ouvir o
ácido lançado sobre o nosso atual pontífice.
Tanto
os críticos quanto os apoiadores não conseguem ver o tradicionalismo de
Francisco. Deixe-me destacar três
formas de seu tradicionalismo :
- Primeiro, ser um católico
tradicional significa apoiar e realizar as reformas do Vaticano II.
Francisco protege essa tradição daqueles de nós que pensam que o Vaticano
II é opcional ou lamentável. Não é apenas um papel; é um guia essencial
para ser católico no mundo moderno e uma chave hermenêutica para
compreender a plenitude de nossa tradição de 2.000 anos.
- Em segundo lugar, uma das
tarefas do papa é enviar missionários ao mundo. Gregório enviou Agostinho
à Inglaterra, Honório enviou dominicanos à Polônia, Paulo III enviou
missionários às Américas e Francisco nos envia ‘para alcançar as
margens da humanidade’. Muitos de nós no centro da Igreja estamos
relutantes em fazer isso. Podemos estar muito interessados em mantermos as
portas fechadas, em identidades nacionalistas ou em uma visão donatista de
uma Igreja menor e mais pura. Mas a essência do Evangelho é espalhar o
Evangelho. Para Francisco, a vida interior da Igreja está no movimento de
ir ao encontro daqueles fora da Igreja. O que devemos fazer? Convidá-los
para a Igreja, pois é dentro dela que encontramos Cristo plenamente. Isso
pode não parecer tão novo, mas Francisco é bastante tradicional.
- Terceiro, no coração do
tradicionalismo de Francisco estão as imagens que usei na abertura deste
ensaio : um papa pedindo oração, um papa oferecendo oração. Esta é a lex
orandi do papado de Francisco, a lei da oração que molda seu
ministério e ensino. Em seu discurso anual ‘Urbi et Orbi’,
Francisco nos chama à ‘oração e ao serviço silencioso’. Ele nos
lembra de ter confiança nessas ‘nossas armas vitoriosas’. Diante de
uma pandemia global, Francisco tem a confiança de que a oração e as obras
de misericórdia são os caminhos para a vitória.
Essa
confiança é essencial para a liderança petrina. Assim como Pedro confiou em
Jesus, o papa nos ensina que devemos confiar no Senhor. Francisco ensina que ‘sozinhos
nos perdemos : precisamos do Senhor, como os antigos navegadores precisavam das
estrelas’.
Sim,
eu me preocupo com o Sínodo sobre a sinodalidade. Estou preocupado que muitos
vejam isso como uma chance de mudar radicalmente a Igreja (como no desastroso
sínodo alemão), e que o sínodo esfume a autoridade eclesial de maneiras que
minam a unidade doutrinária. O que precisamos não é uma Igreja diferente, mas
uma Igreja mais plenamente atualizada. E sim, eu luto com o que parece ser uma
falta de prioridade na reverência litúrgica e na clareza doutrinária. Mas
quando presto atenção ao seu ensinamento, encontro repetidas vezes sua mensagem
: ‘Abrace o Senhor para abraçar a esperança’.
O
papa está orando por nós; vamos orar por ele. Vamos compartilhar sua confiança
em Cristo. Juntemo-nos a ele na guarda da tradição e na pregação das boas
novas.’
Fonte : *Artigo na íntegra
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