sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

Sou um católico 'tradicional'. É exatamente por isso que amo o Papa Francisco (e estou perplexo com seus críticos)

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo de Terence Sweeney,

teólogo

Tradução : Ramón Lara


Muito aconteceu no papado do Papa Francisco – momentos de alegria e desânimo – mas devemos lembrar dessas imagens. Elas são uma chave para entender seu papado e para a renovação da Igreja. Francisco era um papa pedindo oração; um papa oferecendo oração.

Eu sou o tipo de católico que deveria ser um inimigo do Papa Francisco. Acho que o catolicismo da década de 1970 foi um desastre, descartando grande parte do patrimônio da Igreja enquanto ignorava a letra e o espírito do Concílio Vaticano II. Não acho que a Igreja deva ‘se adaptar aos tempos’; a Igreja é a especialista em humanidade e divindade. Acredito firmemente que não devemos nos conformar com os tempos, mas renovar a Igreja retornando às fontes de nossa fé : a tradição transmitida pelo magistério e todo o povo de Deus.

E por essas razões, eu apoio o Papa Francisco.

O Papa Francisco confunde nossas expectativas porque elas tendem a ser moldadas pelo mundo. Para muitos da esquerda política, seu papado é o momento de criar uma nova Igreja conforme os tempos, como uma agência espiritual sem fins lucrativos. Em vez de ver as linhas traçadas por Francisco, muitos proclamam que suas iniciativas são ‘passos’ na direção certa, passos para cruzar as linhas do ensinamento católico.

Muito mais dolorosa para mim foi a resposta a Francisco de muitos de meus companheiros católicos de mentalidade tradicional. Um teólogo descreveu ‘Traditionis Custodes’, o recente motu proprio do papa restringindo o uso da forma extraordinária da missa em latim, para mim como uma reação de má-fé a ‘três pessoas no Twitter’. A boa notícia, segundo eles, foi que o Papa Francisco morrerá em breve.

Isso se encaixa em um padrão de discussão dos críticos de Francisco expressos no uso sarcástico do nome ‘Bergoglio’, a hermenêutica negativa aplicada a tudo aquilo que o Papa Francisco diz e o desrespeito às iniciativas papais que em outras circunstâncias fariam os tradicionalistas aplaudirem – a celebração da Dante, a elevação de Santo Irineu a doutor da Igreja, a instituição do Ano de São José. Tendo eu mesmo aprendido o quão importante é estar comprometido com o papado de tradicionalistas católicos, acho vertiginoso e desanimador ouvir o ácido lançado sobre o nosso atual pontífice.

Tanto os críticos quanto os apoiadores não conseguem ver o tradicionalismo de Francisco. Deixe-me destacar três formas de seu tradicionalismo :

  • Primeiro, ser um católico tradicional significa apoiar e realizar as reformas do Vaticano II. Francisco protege essa tradição daqueles de nós que pensam que o Vaticano II é opcional ou lamentável. Não é apenas um papel; é um guia essencial para ser católico no mundo moderno e uma chave hermenêutica para compreender a plenitude de nossa tradição de 2.000 anos.
  • Em segundo lugar, uma das tarefas do papa é enviar missionários ao mundo. Gregório enviou Agostinho à Inglaterra, Honório enviou dominicanos à Polônia, Paulo III enviou missionários às Américas e Francisco nos envia ‘para alcançar as margens da humanidade’. Muitos de nós no centro da Igreja estamos relutantes em fazer isso. Podemos estar muito interessados em mantermos as portas fechadas, em identidades nacionalistas ou em uma visão donatista de uma Igreja menor e mais pura. Mas a essência do Evangelho é espalhar o Evangelho. Para Francisco, a vida interior da Igreja está no movimento de ir ao encontro daqueles fora da Igreja. O que devemos fazer? Convidá-los para a Igreja, pois é dentro dela que encontramos Cristo plenamente. Isso pode não parecer tão novo, mas Francisco é bastante tradicional.
  • Terceiro, no coração do tradicionalismo de Francisco estão as imagens que usei na abertura deste ensaio : um papa pedindo oração, um papa oferecendo oração. Esta é a lex orandi do papado de Francisco, a lei da oração que molda seu ministério e ensino. Em seu discurso anual ‘Urbi et Orbi’, Francisco nos chama à ‘oração e ao serviço silencioso’. Ele nos lembra de ter confiança nessas ‘nossas armas vitoriosas’. Diante de uma pandemia global, Francisco tem a confiança de que a oração e as obras de misericórdia são os caminhos para a vitória.

Essa confiança é essencial para a liderança petrina. Assim como Pedro confiou em Jesus, o papa nos ensina que devemos confiar no Senhor. Francisco ensina que ‘sozinhos nos perdemos : precisamos do Senhor, como os antigos navegadores precisavam das estrelas’.

Sim, eu me preocupo com o Sínodo sobre a sinodalidade. Estou preocupado que muitos vejam isso como uma chance de mudar radicalmente a Igreja (como no desastroso sínodo alemão), e que o sínodo esfume a autoridade eclesial de maneiras que minam a unidade doutrinária. O que precisamos não é uma Igreja diferente, mas uma Igreja mais plenamente atualizada. E sim, eu luto com o que parece ser uma falta de prioridade na reverência litúrgica e na clareza doutrinária. Mas quando presto atenção ao seu ensinamento, encontro repetidas vezes sua mensagem : Abrace o Senhor para abraçar a esperança’.

O papa está orando por nós; vamos orar por ele. Vamos compartilhar sua confiança em Cristo. Juntemo-nos a ele na guarda da tradição e na pregação das boas novas.’ 

Fonte  *Artigo na íntegra

https://domtotal.com/noticia/1562892/2022/02/sou-um-catolico-tradicional-e-exatamente-por-isso-que-amo-o-papa-francisco-e-estou-perplexo-com-seus-criticos/

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