Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo
d0 Padre Alfredo Sampaio Costa, SJ
‘Com alívio e esperança,
acompanhamos o avanço da vacinação que abre uma nova perspectiva na realidade
dura da pandemia. Mas os seus sintomas seguem atuantes. Por mais que tentemos
afastar os pensamentos negativos, a verdade é que seguimos afetados pela insegurança
e confusão com relação ao que devemos fazer, como prosseguir com nossas
atividades nesta situação.
Certamente nesses
tempos a oração aparece como muito importante, fundamental, mas é preciso
confessar que não é fácil rezar em meio a tanta dor e sofrimento.
Continuamente somos invadidos pela questão insidiosa do que Deus quer com
tudo isso, porque permite tantas mortes, e como nós, comunidades de fé, temos
que agir (reagir).
Vem em nosso socorro
a espiritualidade inaciana, na sua busca ininterrupta de encontrar a Vontade
divina na realidade da vida e poder aderir a ela com todo nosso ser (1). Inácio foi um buscador incansável dessa vontade. Nos
textos que seguem, vamos refletir como podemos rezar e procurar a vontade do
Senhor em meio à pandemia.
Tempo de decidir,
momento decisivo e complexo
Algumas considerações me
parecem necessárias ao adentrar nesse tema. Inicialmente, precisamos
experimentar que nossa oração tem que ser vivida como busca e resposta, que vão
teimosamente se sucedendo uma à outra. A atitude de base para poder avançar é ‘escutar’.
A segunda etapa dos Exercícios Espirituais, que se centra na busca do que Deus
quer para mim, inaugura-se com o chamado do Rei Eterno (EE 91-100), que já nos
abria à consideração de um chamamento feito vida (2). A graça ali pedida
era uma graça de escuta (‘não sermos surdos ao seu chamado’)
em vista de uma decisão (‘mas prontos e diligentes para cumprir sua
vontade’) (cf. EE 91).
Inácio nos alerta que não se
trata de modo algum de uma mera passividade, esperando que a vontade de Deus
caia pronta do alto. Ele afirma que será preciso ‘agir contra nossa própria
sensualidade e amor carnal e mundano’ (EE 97). Em linguagem atual : que não
será fácil, pois nossas resistências se farão sentir!
Temos experimentado nesta
pandemia que os dias dedicados a este discernimento sobre qual é a Vontade de
Deus para nós podem se prolongar em um processo que pode ser penoso e difícil,
até que surja com suficiente claridade no horizonte o que Deus quer de nós. A
oração durante esse período será intensa, e não caberá a nós a controlarmos nem
a prever. Tomar decisões nessa situação é complexo. Pois decidir implica,
inicialmente, querer resolver definitivamente a questão. Ora, encontramo-nos a
miúdo em uma zona de incerteza e névoa, uma zona de confusão, e temos medo de
assumir uma postura. Mergulhados em um confuso magma de desejos dispersos,
sonhos, projetos não concretizados, qualquer decisão que tomemos não nos
aparece como conclusiva, capaz de pôr um ponto final na questão. E hesitamos.
PRIMEIRO PASSO : Orar
a própria situação e as alternativas que se nos apresentam
O que tomar como matéria para
nossa oração? Creio que é preciso rezar a própria vida, como ela se apresenta e
se faz sentir. A aproximação à realidade, quanto mais cheia de afeto for, maior
efeito trará. Que favoreça um diálogo íntimo com o Senhor e culmine em uma
resposta apaixonada de amor. Que nos deixemos atingir, tocar (Inácio usaria ‘afetar’)
pelo que rezamos. Que nossa oração nos desinstale, amplie nossos horizontes e
nos motive a poder nos comprometermos com Deus e com os demais, principalmente
os mais necessitados (3).
Para rezar esse momento tão
crucial, ajuda considerar três coisas : nossa herança
biológica-humana-psicológica-cultural, que representa aquilo que
recebemos e que não podemos mudar; em seguida, considerar a área
da minha vida em que eu posso exercer alguma escolha, onde as coisas
acontecem a mim e eu posso responder a elas, aceitando-as ou rejeitando-as;
finalmente, é preciso mover-me na direção do centro do meu ser, onde eu
posso estar inteiramente na presença de Deus, onde eu experimento
verdadeiramente a presença Dele. Nessa área eu não posso prever nada. É aqui
onde se revela o poder da oração. É o risco da jornada interior, ao qual somos
chamados a nos abrir (4).
Portanto, importa tomar
consciência de que forma estamos sendo tocados por Deus. Isso pode
se dar em uma variedade de modos : através de uma intensa comunhão com a
natureza, em uma relação humana, em um momento de profundo ‘insight’ que
parece provir de além de nós mesmos ou talvez em uma claridade súbita que nos
mostra o caminho a seguir em uma situação particular. Quando esses momentos
acontecem, podemos dizer que não somente Deus nos ‘tocou’, mas que algo ‘fez
raiz’ na nossa experiência vivida. O Deus transcendente que nos tocou irá
despertar o Deus imanente que jaz em nosso interior, trazendo-o à vida.
Esse é o efeito da oração em
nós : a oração nos conduz ao centro do nosso ser. A
oração não é somente um meio de nos sustentar através da nossa jornada linear
(embora ela faça isso também), mas é ela mesma a realidade da nossa jornada. Na
oração se revela a verdadeira essência do nosso ser (5). Podemos nos
aproximar sem receio do que vamos ali encontrar!
A verdadeira liberdade que
temos que buscar para poder tomar uma decisão livre, conforme a Vontade divina,
não é um mover-se de um ponto para outro, de um círculo para outro. A
verdadeira liberdade interior nos faz movermos ao interno do nosso Eu
mais profundo, na presença de Deus, permitindo a nós mergulharmos sempre
mais em Deus (6).’
Notas :
(2)
A. M. Chércoles, La oración en los Ejercicios Espirituales de San
Ignacio de Loyola, EIDES 49 (2006)18-19.
(3)
Cf. Jaime Emilio González Magaña, Orar y encontrar facilmente a
Dios, Apuntes Ignacianos 56 (marzo-agosto 2009) 66.
(4) Margaret Silf, Inner
Compass. An invitation to Ignatian Spirituality. Chicago : Loyola Press
1999, 1-2.
(5) Margaret Silf, Inner
Compass, 3-4.
(6) Margaret Silf, Inner
Compass, 8.
Fonte : *Artigo
na íntegra https://domtotal.com/noticia/1530430/2021/07/tempo-de-decidir-momento-decisivo-e-complexo-orar-a-propria-situacao-de-eleicao/
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