Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo de Andrea de Angelis
‘Moçambique, país da África
Oriental enfrenta uma crise que está afetando e perturbando a vida de seus 30
milhões de habitantes. Especialmente os que vivem no extremo norte, na
fronteira com a Tanzânia, na área de Cabo Delgado. Na região, a violência do terrorismo
levou centenas de milhares pessoas a se deslocarem internamente nos últimos
três anos, especialmente nos últimos 12 meses. As pessoas são obrigadas a
deixar tudo para trás para escapar dos ataques terroristas, mas suas viagens
nem sempre levam à segurança : nestas viagens do desespero há muitas vítimas,
especialmente entre os mais jovens. Em uma coletiva de imprensa ‘Não
abandonemos o povo de Moçambique vítima do terrorismo’, a Comunidade Santo
Egídio de Roma ilustrou os efeitos da crise humanitária sobre a população e as
intervenções realizadas graças à presença da Comunidade em Moçambique. Padre
Angelo Romano, responsável pelo Departamento de Relações Internacionais concedeu
uma entrevista à Rádio Vaticano - Vatican News.
Padre Angelo, hoje
as atenções estão voltadas para Moçambique, um país muitas vezes esquecido.
Qual é a situação no momento?
Em 4 de outubro de 1992, foi
assinado um Acordo de Paz em Roma, aqui na Comunidade Santo Egídio, pondo fim a
uma guerra civil de quase 17 anos e que tinha causado quase um milhão de
mortes. Moçambique conseguiu recomeçar, chegou a uma alta taxa de crescimento,
tinha reiniciado, o país tinha todas as características para enfrentar seu
futuro com esperança. Porém, em 2017, explodiu uma revolta islâmica em Cabo Delgado,
no norte do país, na fronteira com a Tanzânia. Os ataques terroristas se
multiplicaram por parte de uma organização que mais tarde aderiu formalmente,
ao Ísis. Ataques destinados a destruir a estrutura social do país para depois
reconstruí-la segundo as regras do auto-proclamado Estado islâmico. Esses
ataques atingiram a população indiscriminadamente. No último ano, o número
de refugiados internos cresceu enormemente, atualmente chegam a cerca de
740.000, dos quais apenas um décimo está em campos assistidos por agências
internacionais. A maioria desses indivíduos são refugiados em contextos
familiares, em acomodações improvisadas. A situação é, portanto, muito grave no
momento, afetando tanto a comunidade cristã quanto a muçulmana. Os terroristas
consideram os muçulmanos que não seguem sua visão como inimigos, e os perseguem
da mesma forma que os outros. Este é um projeto maligno e extremamente
perigoso. Moçambique não tem tido os meios ou a capacidade para lidar com esta
crise há muito tempo.
Qual foi a resposta
da comunidade internacional, especialmente nos últimos meses? Estão sendo
tomadas medidas apropriadas?
Houve uma série de decisões, há
uma intervenção holandesa em andamento e outra da comunidade de estados da
África Austral está prestes a começar. O treinamento europeu está começando,
mas, como Comunidade Santo Egídio, estamos convencidos de que a resposta não
pode ser apenas militar. A população foi marginalizada, é necessário um esforço
muito grande para recuperar a confiança das pessoas e, neste sentido, a
comunidade internacional pode desempenhar um papel importante.
Neste ‘projeto
maligno’, como o senhor o definiu, qual é o preço que os mais novos pagam?
Muitas vezes o Papa, falando de cenários dramáticos, tem chamado a atenção ao
drama dentro do drama que as crianças vivem. Qual é a situação das crianças do
país?
As crianças estão pagando o
preço mais alto nesta crise. Estamos falando de uma porcentagem muito alta
desses refugiados, quase metade do total. Junto com as mulheres, elas representam
75% dos deslocados internos. Pagam o preço mais alto porque têm que interromper
seus estudos e muitos são sequestrados por terroristas para serem treinados
como combatentes. Muitas garotas são sequestradas e escravizadas. Há uma
fragilidade adicional na própria condição das crianças, que são expostas ao
conflito. Também deve ser dito que estes refugiados internos têm caminhado ou
viajado em barcos improvisados durante semanas, ou mesmo meses, para escapar de
ataques terroristas. Muitos deles morreram de fome, exaustão. A Comunidade
Santo Egídio aumentou sua ajuda humanitária a estas pessoas, alcançamos cerca
de 25.000 pessoas com centenas de toneladas de ajuda. Queremos fazer ainda
mais, especialmente permitindo que as crianças estudem. Estamos construindo
prédios escolares em alguns campos de refugiados, estamos trabalhando em um
programa de bolsas de estudo e graças a um programa já presente em Moçambique
para registrar refugiados, chamado 'Bravo', estamos trabalhando para
conseguir esses documentos. Mais da metade deles perderam seus documentos. Eles
fugiram sem documentos ou os perderam no caminho e isto obviamente cria grandes
problemas. Nós também os ajudamos restituindo-lhes os documentos necessários
para que possam utilizar os serviços estatais.’
Fonte : *Artigo
na íntegra https://www.vaticannews.va/pt/mundo/news/2021-07/mocambique-santo-egidio-fome-guerra.html
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