quarta-feira, 21 de julho de 2021

Comunidade Santo Egídio: "Não abandonemos os moçambicanos"

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo de Andrea de Angelis


‘Moçambique, país da África Oriental enfrenta uma crise que está afetando e perturbando a vida de seus 30 milhões de habitantes. Especialmente os que vivem no extremo norte, na fronteira com a Tanzânia, na área de Cabo Delgado. Na região, a violência do terrorismo levou centenas de milhares pessoas a se deslocarem internamente nos últimos três anos, especialmente nos últimos 12 meses. As pessoas são obrigadas a deixar tudo para trás para escapar dos ataques terroristas, mas suas viagens nem sempre levam à segurança : nestas viagens do desespero há muitas vítimas, especialmente entre os mais jovens. Em uma coletiva de imprensa ‘Não abandonemos o povo de Moçambique vítima do terrorismo’, a Comunidade Santo Egídio de Roma ilustrou os efeitos da crise humanitária sobre a população e as intervenções realizadas graças à presença da Comunidade em Moçambique. Padre Angelo Romano, responsável pelo Departamento de Relações Internacionais concedeu uma entrevista à Rádio Vaticano - Vatican News.

Padre Angelo, hoje as atenções estão voltadas para Moçambique, um país muitas vezes esquecido. Qual é a situação no momento?

Em 4 de outubro de 1992, foi assinado um Acordo de Paz em Roma, aqui na Comunidade Santo Egídio, pondo fim a uma guerra civil de quase 17 anos e que tinha causado quase um milhão de mortes. Moçambique conseguiu recomeçar, chegou a uma alta taxa de crescimento, tinha reiniciado, o país tinha todas as características para enfrentar seu futuro com esperança. Porém, em 2017, explodiu uma revolta islâmica em Cabo Delgado, no norte do país, na fronteira com a Tanzânia. Os ataques terroristas se multiplicaram por parte de uma organização que mais tarde aderiu formalmente, ao Ísis. Ataques destinados a destruir a estrutura social do país para depois reconstruí-la segundo as regras do auto-proclamado Estado islâmico. Esses ataques atingiram a população indiscriminadamente. No último ano, o número de refugiados internos cresceu enormemente, atualmente chegam a cerca de 740.000, dos quais apenas um décimo está em campos assistidos por agências internacionais. A maioria desses indivíduos são refugiados em contextos familiares, em acomodações improvisadas. A situação é, portanto, muito grave no momento, afetando tanto a comunidade cristã quanto a muçulmana. Os terroristas consideram os muçulmanos que não seguem sua visão como inimigos, e os perseguem da mesma forma que os outros. Este é um projeto maligno e extremamente perigoso. Moçambique não tem tido os meios ou a capacidade para lidar com esta crise há muito tempo.

Qual foi a resposta da comunidade internacional, especialmente nos últimos meses? Estão sendo tomadas medidas apropriadas?

Houve uma série de decisões, há uma intervenção holandesa em andamento e outra da comunidade de estados da África Austral está prestes a começar. O treinamento europeu está começando, mas, como Comunidade Santo Egídio, estamos convencidos de que a resposta não pode ser apenas militar. A população foi marginalizada, é necessário um esforço muito grande para recuperar a confiança das pessoas e, neste sentido, a comunidade internacional pode desempenhar um papel importante.

Neste ‘projeto maligno’, como o senhor o definiu, qual é o preço que os mais novos pagam? Muitas vezes o Papa, falando de cenários dramáticos, tem chamado a atenção ao drama dentro do drama que as crianças vivem. Qual é a situação das crianças do país?

As crianças estão pagando o preço mais alto nesta crise. Estamos falando de uma porcentagem muito alta desses refugiados, quase metade do total. Junto com as mulheres, elas representam 75% dos deslocados internos. Pagam o preço mais alto porque têm que interromper seus estudos e muitos são sequestrados por terroristas para serem treinados como combatentes. Muitas garotas são sequestradas e escravizadas. Há uma fragilidade adicional na própria condição das crianças, que são expostas ao conflito. Também deve ser dito que estes refugiados internos têm caminhado ou viajado em barcos improvisados durante semanas, ou mesmo meses, para escapar de ataques terroristas. Muitos deles morreram de fome, exaustão. A Comunidade Santo Egídio aumentou sua ajuda humanitária a estas pessoas, alcançamos cerca de 25.000 pessoas com centenas de toneladas de ajuda. Queremos fazer ainda mais, especialmente permitindo que as crianças estudem. Estamos construindo prédios escolares em alguns campos de refugiados, estamos trabalhando em um programa de bolsas de estudo e graças a um programa já presente em Moçambique para registrar refugiados, chamado 'Bravo', estamos trabalhando para conseguir esses documentos. Mais da metade deles perderam seus documentos. Eles fugiram sem documentos ou os perderam no caminho e isto obviamente cria grandes problemas. Nós também os ajudamos restituindo-lhes os documentos necessários para que possam utilizar os serviços estatais.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra https://www.vaticannews.va/pt/mundo/news/2021-07/mocambique-santo-egidio-fome-guerra.html

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