Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo
do Padre Alfredo J. Gonçalves, CS,
vice-presidente do Serviço de
Proteção ao Migrante (SPM)
‘Tomemos como ponto de partida duas notícias convergentes sobre a
questão migratória em nível global. Primeiramente, de acordo com uma jornalista
de um dos principais periódicos brasileiros, ‘a explosão que destruiu
Beirute (…) atingiu em cheio os milhares de sírios que vivem na cidade. País
com maior número de refugiados no mundo, proporcionalmente ao número de
habitantes, o Líbano abriga cerca de 1 milhão de sírios, que representam um
sexto da população do país. Dos mais de
200 mortos pela explosão no porto, no dia 4 de agosto, pelo menos 34 eram
refugiados, segundo a agência da ONU para o tema (ACNUR). O número pode ser
maior, já que ainda há sete desaparecidos e 124 ficaram feridos, 20 deles com
ferimentos graves. Cerca de 200 mil refugiados vivem na capital libanesa’ (Cfr.
MANTOVANI, Flávia, Folha de S.Paulo, 13/08/ 2020).
A segunda notícia chega-nos do norte da África. ‘Em Zuara [Líbia]
os migrantes ‘saudáveis’ são levados para a prisão. Os feridos são deixados
‘livres’, mas sem tratamento. A seleção é feita pelo estado de saúde. Os
sobreviventes que ainda conseguem ficar de pé vão para a prisão. Aqueles
cobertos de feridas e queimaduras, precisando de atenção e cuidados, são
largados à própria sorte para apodrecer. Nas imagens que chegaram do sul de
Trípoli pode ser vista, entre outros, um menino da Eritreia, único sobrevivente
de um grupo de cerca de dez compatriotas, que conseguiu salvar das chamas o
documento com o qual havia sido registrado na Líbia, na agência da ONU para
refugiados. Com isso no bolso esperava obter na Europa a proteção que o direito
internacional oferece a que, como ele, foge da violência e da perseguição. No início
eram 85, agora 40 estão vivos. Vivos, mas não salvos’ (Cfr. Reportagem de
Nello Scavo, publicada pelo jornal Avvenire, em 22 de agosto de
2020, reproduzida pelo portal do IHU, 24/08/2020, com tradução de Luisa
Rabolini).
Ambas as reportagens – vindas respectivamente do Líbano e da Líbia
– centram o olhar sobre os migrantes e refugiados. De início e de imediato,
podemos verificar que uma situação que já era extremamente precária e
vulnerável, agrava-se à máxima potência seja com uma catástrofe inesperada, no
caso do Líbano, seja com os efeitos pérfidos e perversos da pandemia, como no
caso da Líbia. Mas os desastres de caráter natural ou humano poderiam ser
repetidos às dezenas, bem como suas consequências nocivas para quem erra pelas
estradas do êxodo, do exílio ou da diáspora.
Os que se vêem repentinamente privados de um solo próprio, de um
grupo familiar ou de uma terra que possa ser chamada de pátria, toda ameaça
contém um duplo risco. Primeiro, o perigo de encontrar fechada a porta que dá
acesso ao trabalho e ao sustento da família; segundo, o perigo de expatriação,
sempre suspenso sobre a cabeça como uma guilhotina.
Em outras palavras, diante de uma explosão acidental (ou não?!…),
como a de Beirute; em meio a uma pandemia que estende por todo o planeta seu
rastro de mortos, feridos e enlutados; ou por ocasião de uma estiagem ou
inundação – o imigrante tende a ser sempre o primeiro sacrificado. A ameaça
será redobrada se o mesmo não estiver em dia com a documentação.
No sentido de salvaguardar a população local, as autoridades, a
imprensa e a própria opinião pública não hesitarão em se desfazer do ‘estranho
e intruso’. Por toda a parte, a ideologia da segurança nacional representa
o pano de fundo sobre o qual se debatem as leis migratórias. Disso resulta que
o migrante ou refugiado serão irremediavelmente escolhidos como os bodes
expiatórios do momento.
A situação de desemprego, subemprego e trabalho informal que
deverá seguir-se à pandemia pesa duplamente sobre os estrangeiros de todo
mundo, a menos que se trate de pessoas que já recriaram suas raízes nos países
de destino, ou de técnicos, consultores e altos funcionários das empresas
transnacionais.
O contexto da pós-pandemia prevê caminhos áridos e íngremes para
todos os cidadãos em condições vulneráveis, mas reserva dificuldades mais
graves para as multidões de sem pátria que se movem pelo mundo afora.’
Fonte : *Artigo na íntegra https://migramundo.com/catastrofes-agravam-situacao-de-migrantes-e-refugiados-mundo-afora/
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