Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
‘A vida dos cristãos no Paquistão não é fácil. Como membros de uma
minoria religiosa, frequentemente são vítimas de discriminação e exclusão
social. A maioria dos cristãos pertence às classes mais pobres da sociedade.
Muitos deles não possuem apoio jurídico e são ignorados pelas forças da lei e
da ordem quando tentam defender seus direitos humanos. Para as mulheres cristãs
então, essa vulnerabilidade é ainda maior e mais perigosa. Os relatos
públicos de abuso sexual e casamentos forçados são cada vez mais numerosos, e o
número real de casos é provavelmente ainda maior.
A fundação pontifícia ACN – Ajuda à Igreja que Sofre está apoiando
um programa que visa capacitar jovens mulheres cristãs que vivem nessas
circunstâncias extremamente difíceis. Muitas das jovens envolvidas no programa
são estudantes ou domésticas nas áreas suburbanas de uma grande cidade
paquistanesa. Por preocupação com a segurança das jovens ou mesmo dos
parceiros locais da ACN, a fundação de caridade não está revelando os
nomes verdadeiros ou localidades, mas, no entanto, irá compartilhar algumas
histórias dessas mulheres cristãs do Paquistão.
Uma das jovens, ‘Samia’, vive no norte do Paquistão
com seus pais e quatro irmãos. O pai dela é operário e a mãe dela é dona de
casa. ‘Como pertenço a uma família cristã, meus pais sempre me alertaram
para nunca falar sobre diferenças religiosas com outras pessoas. Eles nos
ensinaram a simplesmente suportar qualquer tipo de discriminação, uma vez que
não temos influência, dado que estamos vivendo em um país muçulmano. Tenho medo
de ser discriminada pelas leis; somos uma minoria e não temos apoio no
Paquistão. Vivemos com ansiedade e pressão constante. Acreditamos que se
tentarmos defender nossos direitos, seremos acusados de blasfêmia como já
ocorreu no passado’, explica.
‘Graças ao meu envolvimento no programa de avanço das mulheres
promovido pela ACN, estou mais fortalecida em minha fé. O programa nos ajuda a
estar mais conscientes de nossas responsabilidades e nossos direitos. Eles estão
nos encorajando a nos mantermos fortes e a lutar contra a discriminação e a
conversão forçada, assédio e violência e a defender nossos direitos’, diz
Samia, que tem 20 anos. O programa me encorajou a ‘trabalhar duro, para que
nossa comunidade possa ter um futuro melhor’.
Outra jovem envolvida no programa, ‘Ashia’, é filha de um
varredor de rua e ganha apenas 10.000 rúpias (cerca de 310 Reais) por mês. ‘Quando
fui para a universidade, sofri muitos atos de discriminação por parte dos meus
professores e colegas, e não conseguia me concentrar nos estudos’, explica
Ashia, de 17 anos. Ela compartilhou suas dificuldades com uma amiga, que a
encorajou a se envolver no programa da ACN. ‘Eu ouvi as sessões de
aconselhamento e eles me deram uma nova esperança de poder lidar com minhas
circunstâncias. Prometi a mim mesma que não lhes daria outra oportunidade de
destruir meu futuro. Vou estudar muito e mostrar às pessoas que o Senhor está
sempre conosco, que Ele nos dá força, nos guia e nos protege’, conclui.
Outro caso típico é o de ‘Shazia’. Como muitas jovens
cristãs, esta jovem de 19 anos tinha grandes sonhos. O pai dela, um motorista
de riquixá (meio de transporte em que uma pessoa puxa uma carroça de duas rodas
com um ou dois passageiros), era a única pessoa que sustentava a família. Com
muito esforço por parte de sua família, ela conseguiu estudar engenharia de
software na universidade. Mas devido à crise financeira ela teve que abandonar
seus estudos em seu segundo ano. ‘Comecei a trabalhar em uma fábrica para
ajudar meu pai a sustentar a família. Eu ganhava entre oito e dez mil rúpias
paquistanesas por mês (cerca de 300 Reais). Achei que esse era o meu destino e
esse seria o meu futuro’, lembra. Até ser apresentada ao programa de apoio
e avaliação profissional apoiado pela ACN. ‘Isso acendeu a centelha de
esperança de que era possível fazer algo diferente em nossas vidas e conseguir
trazer mudanças positivas, para tantos jovens desesperados como eu. A
palestra motivacional me inspirou muito, e percebi que a educação é a única
ferramenta e a chave para o sucesso. Tudo é possível se nos comprometermos de
todo coração e enfrentarmos as dificuldades da vida com coragem’, diz
Shazia agora.
Uma das participantes mais jovens do programa é ‘Nasreen’,
com apenas 15 anos. Ela estava no nono ano de um curso de escola estadual
quando a pandemia destruiu sua vida. Seu pai trabalha como diarista e o
confinamento trouxe problemas financeiros, incluindo as taxas escolares ou o
custo das aulas online na internet. O resultado de tudo isso foi que Nasreen
não podia mais pagar seus estudos. Ela era a única mulher cristã na classe e
teve de deixar as aulas online. ‘Fiquei muito magoada e chateada, mas
não pude falar sobre isso com meus pais porque eles já estavam sofrendo muito
por conta da situação financeira difícil da família’, lembra. ‘Não foi a
primeira vez. Meus colegas me submetiam a constante discriminação e preconceito
por causa de nossa religião. Eu estava completamente perdida e desesperada por
causa do que estava acontecendo comigo’, explica Nasreen. ‘Então eu
conheci a equipe que estava executando o programa da ACN e que estava
oferecendo uma sessão para um grupo de meninas como eu. Eles nos explicaram que
a formação era vital para poder crescer pessoal e espiritualmente’, diz.
O apoio moral e o incentivo que os cursos proporcionam são
absolutamente essenciais para ajudar essas jovens mulheres cristãs, que muitas
vezes se sentem sobrecarregadas e abandonadas diante de seu destino
aparente. ‘Sou muito grata à ACN por ter sido a fonte de uma mudança
tão grande na minha vida. Por enquanto, a chama de fé e esperança está
iluminando meu caminho e não vou deixá-la ser extinta por qualquer tipo de
discriminação’, diz Nasreen.’
Fonte : *Artigo na íntegra https://pt.aleteia.org/2021/06/28/mulheres-cristas-no-paquistao-enfrentam-discriminacao-e-pobreza/