Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo
da Fundação AIS
‘É mais um relato da violência e crise humanitária na Etiópia. O
padre Abiyot Desalegn afirma que há ‘centenas de mortos’ na região de
Tigray, por causa do conflito entre forças governamentais e rebeldes nesta
zona, situada a norte do país, mas afirma que ‘a crise já se estendeu a toda
a Etiópia’.
Em entrevista ao semanário católico da Diocese de Macau, o padre
Desalegn [ele é pároco em Itang, junto à fronteira com o Sudão do Sul] denuncia
também a existência de perseguição aos católicos por parte do Governo e pela
Igreja Ortodoxa Etíope, e por grupos extremistas islâmicos.
‘Uma vez que o Governo mantém uma relação especial com a Igreja
Ortodoxa Etíope, outras denominações – em particular os católicos, os
evangélicos e os protestantes pentecostais – são perseguidas tanto pelo Estado,
como pela Igreja Ortodoxa’, diz o padre em entrevista ao semanário ‘O
Clarim’, esclarecendo que ‘as pessoas que abandonam a Igreja Ortodoxa
são alvo de pressões por parte da própria família e da comunidade, e enfrentam
maus-tratos significativos’. ‘Se isto não bastasse, as igrejas podem ser
impedidas de conduzir celebrações religiosas’, diz ainda.
Outro grande fator de perseguição na Etiópia – acrescenta o
sacerdote – é o extremismo islâmico, em particular na parte oriental e na parte
meridional do País. ‘Os fiéis que se convertem ao Catolicismo, provenientes
do Islã, correm o risco de serem assediados e oprimidos pela família e pelos
vizinhos. Em algumas regiões, os cristãos vêm-lhes ser recusado o acesso a
recursos comunitários e são alvo de ostracismo e discriminação. Por outro lado,
alguns cristãos estão vulneráveis à violência quando extremistas islâmicos
atacam igrejas e habitações.’
O padre Abiyot Desalegn descreve uma situação particularmente
difícil para as mulheres cristãs que, diz, ‘correm o risco de serem forçadas
a casar com não-cristãos e o que se espera é que assumam a religião do marido’.
‘Se uma mulher se converte ao Catolicismo numa área não-cristã, o mais
provável é que seja forçada a divorciar-se pelo marido e, muito possivelmente,
perde a custódia dos próprios filhos’, acrescenta.
A situação das mulheres nesta região da Etiópia merece uma
particular preocupação por parte deste sacerdote. ‘É doloroso ver mulheres
trabalhar dezesseis horas por dia, todos os dias, sem a possibilidade de
partilhar a responsabilidade de tomar conta da sua família’, diz, traçando
um retrato duro do dia-a-dia das populações locais, a quem falta quase tudo
para uma vida digna. ‘Trabalho no total com nove capelas e nove comunidades,
sendo que estas não têm água potável, não têm escola, não têm moagens, não têm
eletricidade, não têm clínicas itinerantes. As pessoas adoecem com malária, não
têm alimentos e as crianças não frequentam a escola. A vida é difícil tanto
para os locais como para os refugiados. As pessoas pedem-me sempre que lhes
ofereça alimentos e bebidas.’
Apesar de tudo, o padre Desalegn afirma que a Igreja está a
crescer na região e que ‘há muita margem de manobra para a evangelização’,
pois há muitos lugares ‘onde a Palavra de Deus ainda não chegou’. Uma
situação que implica mais apoio ao esforço da Igreja. ‘Há muitas pessoas que
necessitam da nossa presença, mas sem apoio financeiro é impossível. Pediram-me
que abrisse novas capelas católicas em cinco lugares, mas sem apoio é difícil.’
A Fundação AIS tem vindo a acompanhar com preocupação a situação
que se vive na Etiópia, especialmente na região de Tigray, a norte do país,
onde tem vindo a ocorrer uma intervenção militar particularmente agressiva por
parte do exército federal e de forças aliadas da Eritreia. Em maio, a AIS dava
eco da denúncia de um sacerdote, que por razões de segurança não podia ser
identificado mas que falava em ‘fome e medo’ entre as populações,
descrevendo um cenário de profunda crise humanitária.’
Fonte : *Artigo na íntegra https://pt.aleteia.org/2021/06/28/etiopia-padre-alerta-para-perseguicao-aos-cristaos-pelo-extremismo-islamico/
Nenhum comentário:
Postar um comentário