Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo de Fabrício Veliq,
teólogo protestante
‘A profecia desempenhou um papel muito importante no texto
bíblico, principalmente no Antigo Testamento. Se olhamos para o período da
monarquia do povo de Israel, vemos que o profeta era aquele que trazia a
mensagem de Deus para a sociedade em todos os seus níveis. O profeta, porta-voz
de Javé, era o responsável por anunciar aquilo que Deus demandava de seu povo e
de seus governantes, bem como chamá-los ao arrependimento, de maneira que o mal
de suas ações cessasse e o castigo divino não lhes sobreviessem.
Neste ponto, algo se torna muito importante de ser esclarecido. A
profecia bíblica nunca teve a ver com a adivinhação do futuro, como muitas
vezes diversas pessoas tendem a pensar. Os profetas não eram uma espécie de
Nostradamus autorizados por Deus para revelar aquilo que aconteceria em tempos
muito distantes. O leitor atento ao texto bíblico pode perceber que a prática
divinatória era condenada na sociedade de Israel, visto que enganavam o povo de
Deus. Para se ter uma ideia do quão grave eram tais práticas, os adivinhos e
adivinhas eram condenados à pena capital da sociedade judaica, que era o
apedrejamento.
Assim, ao se ler uma profecia é preciso ter em mente que não se
trata de uma adivinhação sobre o futuro; antes, toda palavra e atos proféticos
tinham o intuito de, sendo palavra instruída por Deus, levar o povo e os
governantes ao arrependimento de maneira que o mal anunciado por Deus não
acontecesse.
Em outras palavras, quando um profeta anunciava a determinado
governante que o mal haveria de vir sobre seu reino se ele continuasse a
praticar as ações que iam contra a vontade de Javé, não estava adivinhando o
futuro, mas alertando àquele governante de que caso permanecesse no erro, as
consequências de seus atos trariam ao seu povo a ruína que estava sendo
anunciada. A palavra profética, nesse sentido, sempre visava o arrependimento,
de maneira que o bem, a justiça e a paz de Javé pudessem se fazer presente na
sociedade.
Isso nos remete a algo muito importante. Toda profecia diz
respeito ao seu tempo e para ser compreendida deve ser lida em seu contexto
social, político, econômico e cultural. Sem isso, o risco de não se compreender
determinada profecia se torna enorme, transformando-a em adivinhação. Por esse
motivo que, por exemplo, não se deve ler o texto de Isaías 9:6, que diz : ‘Porque
um menino nos nasceu, um filho se nos deu, e o principado está sobre os seus
ombros, e se chamará o seu nome : Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da
Eternidade, Príncipe da Paz’, como sendo Isaías anunciando o nascimento de
Jesus vários séculos depois de si. A compreensão do contexto da profecia deixa
muito claro que Isaías anuncia o nascimento do rei Ezequias, que nasceria e
seria um governante justo para o povo.
Só posteriormente que tal texto será lido sob uma ótica messiânica
cristã, projetando-o para o messias definitivo, que cremos ser Jesus de Nazaré.
No entanto, em seu contexto, Isaías não fala de Jesus, e nem poderia, visto que
não tinha acesso a coisas futuras.
Compreender essa característica da profecia bíblica se torna
importantíssimo para que o texto bíblico possa ser compreendido de uma maneira
acertada. A não compreensão do texto bíblico e as diversas interpretações
errôneas que se fazem de textos retirados de seus contextos continuam a fazer
muito mal ao povo de Deus.
Nesse sentido, é tarefa teológica insistir no bom
conhecimento bíblico, de maneira a se compreender a riqueza e profundidade que
tais textos trazem nos contextos em que foram escritos e que, com certeza,
podem ainda ser compreendidos e atualizados para nossos dias.’
Fonte : *Artigo na íntegra https://domtotal.com/noticia/1521807/2021/06/profecia-nao-e-adivinhacao-de-futuro-autorizada-por-deus/
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