Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo
da
‘Há mais de 15 milhões de pessoas deslocadas no mundo, segundo a
Pontifícia Fundação Ajuda à Igreja que
sofre (ACN, na sigla em inglês). A maioria vive na África e sofre uma
crescente perseguição religiosa pelos radicais muçulmanos e provém de ‘12
países africanos’, identificados como ‘objeto de uma perseguição
religiosa de grave a extrema’.
Em declarações à ACN, Mark von Riedemann, presidente do comitê
editorial do Relatório
de Liberdade Religiosa, publicado pela fundação em abril deste ano,
disse que ‘grupos religiosos de 26 países do mundo sofrem níveis de
perseguição entre sérios e extremos, e quase 50% deles, 12 países, estão na
África’.
‘As consequências sociais, econômicas, políticas e religiosas
desse deslocamento para a África e para a comunidade internacional são consideráveis
e, se medidas não forem tomadas, o pior está por vir’, enfatizou.
Ele frisou que, embora as deslocações sejam devidas a muitos
fatores, é muito preocupante o grande ‘crescimento dos grupos jihadistas
locais e transnacionais, que perseguem sistematicamente todos aqueles que não
aceitam sua ideologia islamista extrema’.
‘Ainda que muçulmanos e cristãos sejam igualmente vítimas da
violência extremista, com a crescente radicalização islamista, os cristãos
tendem a converter-se cada vez mais em um objetivo específico dos terroristas’,
disse von Riedemann.
Segundo ele, os jihadistas são, em muitos casos, ‘mercenários’
ou combatentes da região que perseguem interesses locais e que, sendo ‘incitados
por pregadores extremistas e armados por grupos terroristas transnacionais,
começam a atacar’ a população.
Eles atacam ‘as autoridades estatais, o exército e a polícia,
bem como os civis, incluindo os líderes das aldeias, os professores, que são
ameaçados pelo currículo laico, e os muçulmanos moderados e cristãos’,
disse.
Von Riedemann afirmou que a violência é ‘inimaginável’.
Cada vez é mais ‘preocupante’ a ferocidade dos constantes ataques e o
aumento em ‘escala, alcance e complexidade’ da insegurança no
continente, que obriga populações inteiras a fugir e a tornarem-se deslocados
internos ou refugiados em países vizinhos.
Em abril de 2020, ‘52 homens [morreram] após se recusarem a
engrossar as fileiras dos jihadistas’ na província de Cabo Delgado, no
norte de Moçambique, e no início de novembro, 15 meninos e cinco adultos ‘foram
decapitados com facões por militantes islamistas durante um rito de iniciação
para adolescentes’ exemplificou von Riedemann.
Segundo um relatório do Centro de Estudos Estratégicos da África
(ACSS) de janeiro deste ano, em 2020 a violência de grupos islâmicos aumentou
43% na África.
Só em Cabo Delgado, os casos de violência por radicais muçulmanos ‘aumentaram
129%’ no ano passado, ‘e mais de dois terços dos ataques foram dirigidos
contra civis’, disse von Riedemann. ‘Segundo a Organização Internacional
para as Migrações, há mais de 730 mil deslocados internos nas províncias de
Cabo Delgado, Niassa, Nampula, Zambezia e Sofala’, acrescentou.
A consequência mais grave e imediata dessa violência e dos
deslocamentos é a fome. Von Riedemann afirmou que, ‘segundo a ONU, 30,5% da
economia da África Ocidental é agrícola, e constitui a maior fonte de renda e
meios de sustento para 70-80% da população’. A maioria dos deslocados
internos são agricultores de comunidades rurais que foram ‘expulsos de suas terras
pelos ataques de militantes islâmicos e grupos terroristas’.
‘O impacto da violência não se limita à destruição de
infraestruturas, à perda de gado e ao deslocamento dos agricultores de suas
terras’, disse Von Riedemann. A insegurança impede que os agricultores
voltem para suas terras para fazer a colheita e com o aumento dos preços dos
alimentos por causa da pandemia do coronavírus, a ACN pressagia uma futura fome
na região.
‘Segundo o Centro de Estudos Estratégicos da África, só no Mali
e no Burkina Faso a violência extremista já provocou uma insegurança alimentar
que afeta mais de três milhões de pessoas’, disse Von Riedemann.
O Gabinete de Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU
considera a República Democrática do Congo o pior caso. Há 22 milhões de
pessoas em situação de insegurança alimentar aguda, o número mais alto do
mundo.
Burkina Faso sofre ‘a crise dos deslocados de mais rápido
crescimento do mundo’. Em apenas dois anos, mais de um milhão de pessoas
tiveram que abandonar seus lares. Entre janeiro de 2020 e janeiro de 2021, as
pessoas que precisam de ajuda humanitária aumentaram para 3,5 milhões, o que
representa um aumento de 60% em um ano.
Von Riedemann advertiu que, se o problema não for controlado, ‘o
ciclo de violência, deslocamento e fome continuará se degradando’, e
provocará ‘consequências a longo prazo, como o declínio econômico, a
instabilidade política e as profundas fissuras entre as comunidades étnicas’.
Ele frisou que, no final, ocorrerá a ‘destruição do pluralismo
religioso tradicional’, algo que é ‘especialmente grave em áreas onde
muçulmanos e cristãos conviveram em paz até agora’.
Além disso, disse que a crise se prolongará, pois os jovens, ‘frustrados
pela pobreza absoluta’ e ‘vulneráveis ao recrutamento extremista, continuarão
sendo atraídos pelo atrativo da riqueza e do poder’.
Por fim, disse que ‘a combinação destes fatores forçará a
comunidade internacional a reagir, sobretudo por interesse próprio’ diante
da crescente migração interna e externa dos africanos. Quando isso aconteça,
disse Von Riedemann, ‘esperamos que não seja tarde demais para recuperar a
paz duradoura nas populações locais’.
ACN ao serviço dos migrantes e refugiados
A Pontifícia Fundação Ajuda à Igreja que sofre (ACN)
informou que mais de 25 projetos foram financiados em 2020 para atender às
necessidades materiais e espirituais básicas dos refugiados e deslocados
internos do mundo, ‘principalmente da África e do Oriente Médio’.
‘A África subsaariana acolhe mais de 26% da população refugiada
do mundo’, acrescentou. Os projetos centraram-se sobretudo no Burkina Faso
e em Moçambique.
A fundação informou também que em ‘Burkina Faso a maioria dos
ataques ocorrem no norte e na área do Sahel’ e que muitas igrejas, como a
paróquia de Linonghin, da diocese de Ouagadougou, ajudam os refugiados. Graças
à ACN, ‘a paróquia conta com alimentos e instalações sanitárias’ para as
‘famílias desalojadas que buscam refúgio’ ali.
A região ‘mais afetada’ do país está na diocese de Dori, no norte
de Burkina Fasso, onde a violência terrorista forçou o encerramento de várias
paróquias. Nesse lugar, a ACN apoia constantemente ‘as famílias dos
catequistas que tiveram que fugir, com o pagamento de seus estudos escolares e
cuidados de saúde’.
Em Moçambique, a ACN forneceu ‘materiais para a construção de
60 casas para as famílias refugiadas e dois centros comunitários’, na ‘diocese
de Pemba, que oferece atendimento pastoral e apoio psicossocial aos refugiados
de Cabo Delgado’. Além disso, doou ‘vários carros para os missionários
que assistem aos refugiados’ e apoiará o ‘acompanhamento psicossocial do
crescente número de deslocados que encontram refúgio’ nas dioceses
vizinhas.
Na Tanzânia, a fundação também ajudou a diocese de Kigoma na
compra de um veículo para o trabalho pastoral nos campos de refugiados de Nduta
e Mtendeli; na Uganda, a ACN apoia um programa de refugiados do sul do Sudão,
no campo de Bidibidi, em Katikamu; e na África do Sul, a fundação apoia o
Centro Pastoral de Refugiados da Congregação do Espírito Santo, na diocese de
Durban, que ‘fornece alojamento, comida e assistência pastoral’ aos
refugiados.
No Oriente Médio, a fundação informou que ajuda a Síria, onde a
maioria são deslocados internos ou refugiados por causa da guerra. Em Aleppo e
Damasco ajudam as famílias cristãs locais e refugiados com o pagamento de
aluguéis e assistência médica, etc.
ACN disse que também apoia o Líbano, que nos últimos anos tem
refugiado 1,5 milhão de sírios, mas que agora o governo ‘já não é capaz de
sustentá-los’ devido à crise política e econômica.
A fundação apoia projetos educativos e de assistência humanitária
da diocese de Zahle, em benefício dos sírios refugiados, e oferece ‘bônus e
ajudas de subsistência’ aos libaneses, que ‘se veem igualmente afetados
pela pobreza e pelas dificuldades econômicas’, pois ‘a pandemia e a
explosão destrutiva do porto de Beirute’ agravaram a crise econômica.’
Fonte : *Artigo na íntegra https://www.acidigital.com/noticias/ha-mais-de-15-milhoes-de-deslocados-e-a-maioria-e-perseguida-pela-fe-diz-acn-73826
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