Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo de Daniel Reis
No que pese a ação litúrgica ser essencialmente trinitária,
costuma-se destacar as figuras do Pai, como fonte e fim da liturgia, e do Filho
como mediador. Por um certo esquecimento histórico que a Igreja no Ocidente
carrega em relação ao Espírito Santo, sua presença e atividade nas celebrações
são percebidas com maior dificuldade. Isso se deve ao fato de que são tímidas,
de modo expresso, as referências à terceira Pessoa da Trindade nos formulários
e textos eucológicos (oracionais) da liturgia romana. No missal, por exemplo, a
maioria das Orações coleta só mencionam o Espírito Santo como
arremate (‘...na unidade do Espírito Santo.’), e a maioria esmagadora
das Orações sobre as oferendas, Orações depois da comunhão e
mesmo os Prefácios não citam o Espírito, dirigindo-se a Deus
(Pai), ‘por Cristo, nosso Senhor’.
O catecismo da Igreja Católica (CIC 1091-1112) nos apresenta uma
belíssima pneumatologia litúrgica, ajudando-nos a reconhecer a atuação do
Espírito Santo nas celebrações da Igreja em quatro frentes : preparação da
assembleia, recordação de Cristo, atualização de seu mistério e realização da
comunhão (cf. CIC 1092). Vejamos cada uma delas, tomando como base a celebração
da eucaristia.
O Espírito Santo nos prepara para nos aproximarmos da fonte da
liturgia, da qual ele mesmo é a água pura, inspirando-nos o desejo e a
disposição para nela nos dessedentarmos. Nos Ritos Iniciais, somos
reunidos em assembleia por sua ação unitiva, pois sendo o Amor do Amante (o
Pai) e do Amado (o Filho), nos enlaça na caridade divina e nos abre para
acolhermos a graça salvífica dispensada e celebrada na liturgia.
Na Liturgia da Palavra, ‘o Espírito Santo recorda
primeiro à assembleia litúrgica o sentido do evento da salvação, dando vida à
palavra de Deus, que é anunciada para ser recebida e vivida’ (CIC 1100). A
ruah divina é o fôlego de Cristo - que se dirige à assembleia (cf. SC 7)
através dos ministros leitores, salmistas e do homiliasta -, inspirando a
encarnação do Verbo em seus corações e expirando esta mesma palavra da salvação
nos ouvidos da assembleia. Esta, por sua vez, também com o auxílio do Espírito,
inspira a palavra proclamada, acolhendo-a pela escuta atenta, devendo expirá-la
através de seus gestos e ações na vida.
Pelo Espírito Santo, ‘memória viva da Igreja’ (cf. Jo 14,26
e CIC 1099), somos recordados das maravilhas realizadas por Deus ao povo de
Israel e das obras de Cristo às pessoas de seu tempo, e somos inseridos nessa
história da salvação pela atualização que o Espírito Santo realiza no ‘hoje’
de cada celebração litúrgica. Como ensina magistralmente o catecismo :
‘A liturgia cristã não somente recorda os acontecimentos que
nos salvaram, como também os atualiza, torna-os presentes. O mistério pascal de
Cristo é celebrado, não é repetido; o que se repete são as celebrações; em cada
uma delas sobrevém a efusão do Espírito Santo que atualiza o único mistério’
(CIC 1104).
É a força do Espírito que rompe as malhas do tempo (chronos)
e do espaço, fazendo de cada liturgia o momento histórico da salvação (kairós).
Pelo impulso do Sopro Santo, a assembleia celebrante é introduzida no evento
pascal, colocada aos pés da cruz no calvário e à porta do túmulo vazio da
ressurreição, haurindo os frutos da redenção na atualidade salvífica que o
Espírito realiza na liturgia.
O ‘fim da missão do Espírito Santo em toda ação litúrgica’
(CIC 1108) é realizar a comunhão da Igreja. De modo especial,
na Oração Eucarística o invocamos (epiclese) uma
primeira vez sobre os dons do pão e do vinho para que sejam transformados no
corpo e no sangue de Cristo, e uma segunda vez sobre nós, comungantes, para que
‘quando recebermos pão e vinho, o corpo e sangue dele oferecidos, o Espírito
nos una num só corpo, para sermos um só povo em seu amor’ (Oração
Eucarística V).
Nos Ritos finais, uma vez alimentados e transformados
no corpo de Cristo, somos impelidos por seu Espírito a agir como ele, em favor
de nossos irmãos e irmãs, estendendo ao mundo a comunhão que experimentamos na
celebração. Através da liturgia, o Espírito Santo sopra sobre nós as virtudes
do Filho e os desígnios do Pai, a fim de que ‘todos se tornem um só corpo
bem unido, no qual todas as divisões sejam superadas’ (Oração Eucarística
VII).’
Fonte : *Artigo na íntegra https://domtotal.com/noticia/1520624/2021/06/liturgia-sopro-do-espirito/
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