sexta-feira, 11 de junho de 2021

Liturgia: sopro do Espírito

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo de Daniel Reis


 ‘A liturgia é obra da Trindade (opus Trinitatis). Nela, a Igreja, pela ação do Espírito Santo, é congregada e constituída no corpo de Cristo, que, exercendo seu sacerdócio, presta a Deus Pai o culto que lhe é devido, para o louvor de sua glória e para a nossa santificação (cf. Sacrosanctum Concilium, n. 7). Cada pessoa divina age na liturgia de acordo com seus atributos e características próprias, mas sempre em unidade e em plena comunhão.

No que pese a ação litúrgica ser essencialmente trinitária, costuma-se destacar as figuras do Pai, como fonte e fim da liturgia, e do Filho como mediador. Por um certo esquecimento histórico que a Igreja no Ocidente carrega em relação ao Espírito Santo, sua presença e atividade nas celebrações são percebidas com maior dificuldade. Isso se deve ao fato de que são tímidas, de modo expresso, as referências à terceira Pessoa da Trindade nos formulários e textos eucológicos (oracionais) da liturgia romana. No missal, por exemplo, a maioria das Orações coleta só mencionam o Espírito Santo como arremate (‘...na unidade do Espírito Santo.’), e a maioria esmagadora das Orações sobre as oferendasOrações depois da comunhão e mesmo os Prefácios não citam o Espírito, dirigindo-se a Deus (Pai), ‘por Cristo, nosso Senhor’.

O catecismo da Igreja Católica (CIC 1091-1112) nos apresenta uma belíssima pneumatologia litúrgica, ajudando-nos a reconhecer a atuação do Espírito Santo nas celebrações da Igreja em quatro frentes : preparação da assembleia, recordação de Cristo, atualização de seu mistério e realização da comunhão (cf. CIC 1092). Vejamos cada uma delas, tomando como base a celebração da eucaristia.

O Espírito Santo nos prepara para nos aproximarmos da fonte da liturgia, da qual ele mesmo é a água pura, inspirando-nos o desejo e a disposição para nela nos dessedentarmos. Nos Ritos Iniciais, somos reunidos em assembleia por sua ação unitiva, pois sendo o Amor do Amante (o Pai) e do Amado (o Filho), nos enlaça na caridade divina e nos abre para acolhermos a graça salvífica dispensada e celebrada na liturgia.

Na Liturgia da Palavra, ‘o Espírito Santo recorda primeiro à assembleia litúrgica o sentido do evento da salvação, dando vida à palavra de Deus, que é anunciada para ser recebida e vivida’ (CIC 1100). A ruah divina é o fôlego de Cristo - que se dirige à assembleia (cf. SC 7) através dos ministros leitores, salmistas e do homiliasta -, inspirando a encarnação do Verbo em seus corações e expirando esta mesma palavra da salvação nos ouvidos da assembleia. Esta, por sua vez, também com o auxílio do Espírito, inspira a palavra proclamada, acolhendo-a pela escuta atenta, devendo expirá-la através de seus gestos e ações na vida.

Pelo Espírito Santo, ‘memória viva da Igreja’ (cf. Jo 14,26 e CIC 1099), somos recordados das maravilhas realizadas por Deus ao povo de Israel e das obras de Cristo às pessoas de seu tempo, e somos inseridos nessa história da salvação pela atualização que o Espírito Santo realiza no ‘hoje’ de cada celebração litúrgica. Como ensina magistralmente o catecismo :

A liturgia cristã não somente recorda os acontecimentos que nos salvaram, como também os atualiza, torna-os presentes. O mistério pascal de Cristo é celebrado, não é repetido; o que se repete são as celebrações; em cada uma delas sobrevém a efusão do Espírito Santo que atualiza o único mistério’ (CIC 1104).

É a força do Espírito que rompe as malhas do tempo (chronos) e do espaço, fazendo de cada liturgia o momento histórico da salvação (kairós). Pelo impulso do Sopro Santo, a assembleia celebrante é introduzida no evento pascal, colocada aos pés da cruz no calvário e à porta do túmulo vazio da ressurreição, haurindo os frutos da redenção na atualidade salvífica que o Espírito realiza na liturgia.

O ‘fim da missão do Espírito Santo em toda ação litúrgica’ (CIC 1108) é realizar a comunhão da Igreja. De modo especial, na Oração Eucarística o invocamos (epiclese) uma primeira vez sobre os dons do pão e do vinho para que sejam transformados no corpo e no sangue de Cristo, e uma segunda vez sobre nós, comungantes, para que ‘quando recebermos pão e vinho, o corpo e sangue dele oferecidos, o Espírito nos una num só corpo, para sermos um só povo em seu amor’ (Oração Eucarística V).

Nos Ritos finais, uma vez alimentados e transformados no corpo de Cristo, somos impelidos por seu Espírito a agir como ele, em favor de nossos irmãos e irmãs, estendendo ao mundo a comunhão que experimentamos na celebração. Através da liturgia, o Espírito Santo sopra sobre nós as virtudes do Filho e os desígnios do Pai, a fim de que ‘todos se tornem um só corpo bem unido, no qual todas as divisões sejam superadas’ (Oração Eucarística VII).’

 

Fonte : *Artigo na íntegra https://domtotal.com/noticia/1520624/2021/06/liturgia-sopro-do-espirito/

Nenhum comentário:

Postar um comentário