Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo de Luan de Amorim Moreira,
jesuíta em formação
‘Diante da dor e do luto apresentadas
por tantos meios de comunicação e pelas redes sociais, nossa oração acaba
perdendo o seu sentido. Parece que em meio a essa ‘contaminação’ de
informações pessimistas, nossa fé perde a esperança. Então de qual forma podemos
cultivar neste tempo o contato com Deus através da oração? Como conversar com
Deus quando o nosso coração está como o do salmista a se interrogar : ‘de
onde virá meu socorro’ (Sl 121,1)?
Uma belíssima imagem que surge no meio
deste tempo nebuloso e de falta de respostas, é a do papa Francisco que
mostra-se uma liderança coerente e um exemplo de pessoa de fé. No final do mês
de março do ano passado, fomos surpreendidos com seu gesto simples, mas tão
significativo. Diante de um dia chuvoso e uma praça profundamente vazia e
invadida por um silêncio que refletia a dor de toda humanidade, ele se coloca
em oração por todas as vítimas da pandemia.
Ali Francisco é o símbolo de todos
homens e mulheres que se sentem só, perante a calamidade desta doença tão
aterrorizante, mas que deixam seu coração pulsar pelas dores e esperanças da
humanidade. Sua oração é um convite a corresponsabilidade com a vida, através
de gestos humanitários concretos. Como ele mesmo disse, estamos ‘frágeis e
desorientados’, mas ‘todos chamados a remar juntos.’
Ao assumirmos os remos da
vida, como somos convidados por Francisco, em meio as ondas agitadas de nosso
tempo, não podemos cair no imediatismo que muitas vezes apresenta em nossas
orações. Parece que nos habituamos a ‘uma oração delivery’, baseada em
um monólogo pessoal com uma lista de tarefas apresentada a Deus para que ele
resolva prontamente.
Nossa oração simplesmente reflete os
desassossegos existenciais que emergiram no contexto da pandemia, pelas ondas
caudalosas das ilusões sobre Deus e sobre nós mesmos. Ao desmascararmos estas
falsas imagens, deixamos desvelar no horizonte da fé o mistério da presença de
Deus, que nos envolve e se revela pouco a pouco diante dos olhos. Esta é uma
relação, como toda relação humana, que se cultiva e cresce aos poucos.
Como dizia um padre que admiro muito, ‘só
podemos dizer que construímos uma amizade verdadeira quando conseguimos nos
colocar em silêncio diante do nosso amigo, e não nos sentirmos incomodados, mas
habitado pela presença dele’. A oração que brota do nosso interior é sempre
verdadeira, é um encontro com um amigo que partilha da vida conosco, mas um
outro com sua alteridade. Mesmo que nesta hospedagem mutua não conseguimos
entender o que Ele nos fala.
Não podemos esquecer que a oração também
é uma entrega esperançosa, mais ativa nas mãos de Deus. É assumir e
comprometer-se com o projeto de vida indicado na práxis de Jesus. Projeto este
de inclusão e amor por todas e todos. Nossa fé nos lança, mesmo em meio as
tempestades desumanas que a nossa humanidade está passando, a ter esperança e
encontrar forças de escutar a voz de Deus e a nos encorajarmos fraternamente a
dar respostas concreta.
A redescoberta da oração neste tempo,
deve ser feito com coisas simples :
- Diante dos
inúmeras notícias que recebemos que tal usá-las em nossa oração,
confrontando-a com os textos bíblicos? Um bom orante tem em suas mãos a
vida e a bíblia.
- Os salmos
também podem nos ajudar nessa jornada. Como tradição de oração do povo
judeu, trazem muitíssimos textos que falam do nosso estado interior e nos
ajuda a expressar o que estamos sentindo.
- Nos
evangelhos nos deparamos com vários textos que apresentam a indignação de
Jesus diante da dor humana. Eles podem nos ajudar a não nos paralisarmos
diante da pandemia, mas a agir esperançosamente. O ato de indignar faz
parte da nossa vida, nos ajuda a sairmos do nosso comodismo e buscar
soluções perante a frieza humana.
- Criar
comunidades ou grupo de reflexão por meio das redes sociais para nós aproximarmos
um dos outros e podermos nos fortalecer.
- Por fim, a
caridade, como diziam os primeiros cristãos, é uma forma de oração. Nela
concretizamos os apelos que surgem em nossa oração e somos capazes de sair
de nós mesmos.
A oração neste tempo exige uma
abertura a sentir com o outro, contemplar esta ação silenciosa de Deus no
cotidiano da vida que passa por nossas mãos. Não nos deixemos abalar pelas
tempestades, elas são sempre passageiras.’
Fonte : *Artigo na íntegra https://domtotal.com/noticia/1508187/2021/04/oracao-em-tempo-pandemia-exige-profunda-compaixao/
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