Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
'A destruição do Templo do Vício' (1832)
*Artigo de Charles C. Camosy,
publicado originalmente em Crux Now
Tradução : Ramón Lara
‘John Gillman Ph.D., é conferencista do Departamento para o
Estudo da Religião da San Diego State University e educador certificado pela
ACPE para Educação Pastoral Clínica. Também é Editor Associado do The Catholic
Biblical Quarterly. Entre outras publicações, e é autor de What does
the Bible say about life and death? (O que a Bíblia diz sobre a vida e
a morte?, em tradução literal). Neste artigo reproduzimos uma
entrevista com Charles Camosy sobre seu novo livro What does the Bible
say about angels and demons? (em tradução literal, O que a
Bíblia diz sobre anjos e demônios?).
Você pode nos contar um pouco sobre sua formação e como isso o
levou a escrever um livro sobre anjos e demônios?
Primeiro, um pequeno histórico : cresci em uma família católica
tradicional em uma pequena cidade no sudeste de Indiana. Depois de completar
meus estudos de doutorado na Katholieke Universiteit Leuven, na Bélgica, uma
universidade fundada em 1425, dediquei minha vida profissional a uma combinação
de trabalho pastoral e academia. Servi como capelão em diversos ambientes, como
educador certificado para Programas de Educação Pastoral Clínica (CPE) e como
professor universitário no Departamento de Estudos da Religião em San Diego,
onde nos últimos três anos lecionei um curso sobre ‘Morte, falecer e viver após
a morte’. Atualmente, sou editor associado do Catholic Biblical
Quarterly.
A resposta à pergunta sobre como vim a ser co-autor deste livro
é muito simples. O editor da série estava procurando alguém para concluir o
projeto depois que o autor original teve que se retirar por motivos de saúde.
Aceitei o convite, caso contrário, provavelmente não teria começado a escrever
sobre este assunto. Assim que comecei trabalhar no material, no entanto, fiquei
fascinado com o tema. Eu não pensava muito em anjos desde a infância, quando
memorizei a oração tradicional do anjo da guarda. Quanto aos demônios, fiquei
intrigado com o filme O Exorcista (1973), o nono filme de
maior bilheteria de todos os tempos nos EUA e Canadá. Além disso, anos atrás,
uma mulher perturbada me pediu para abençoar sua casa e protegê-la do que
acreditava ser uma presença demoníaca. Eu fiz a bênção - não era um exorcismo -
e parecia ter trazido algum conforto.
Anjos e demônios são tópicos populares em nossa imaginação
cultural, mas adotar um ângulo especificamente bíblico é interessante. Existe
algo como uma visão bíblica coerente sobre anjos e demônios? Até que ponto essa
visão se sobrepõe - ou não - ao nosso imaginário cultural popular?
Os anjos raramente faziam mais do que aparições no Antigo e no
Novo Testamento. Eles não são o foco central. As exceções são os anjos nas
narrativas da infância de Mateus e Lucas (onde o anjo se chama Gabriel) e o
Livro de Tobias, onde encontramos Rafael. Na última história, Rafael é enviado
por Deus a Tobias e sua família servindo como guia e protetor, mediador do
casamento, conselheiro de cura e fonte de orações.
Ao contrário dos anjos na cultura popular, onde às vezes são
retratados como humanos que partiram, os anjos bíblicos funcionam não por sua
própria autoridade, mas como mensageiros celestiais de Deus. Uma sobreposição
ocorre na assistente social angelical Monica da popular série de TV O toque
de um anjo (1994-2003). O seriado oferece uma intervenção útil na vida
das pessoas em dificuldades.
Embora a crença em demônios tenha uma longa história que remonta
à Mesopotâmia e à Grécia, os demônios estão praticamente ausentes no antigo
Israel. Satanás, não apresentado como um demônio, mas como um acusador,
desempenha um papel no início do Livro de Jó. O diabo só aparece no Novo
Testamento, cerca de 35 vezes, mais proeminentemente nas tentações de Jesus.
Hoje, os cristãos podem atribuir a fonte da tentação ao diabo e
as pessoas, em geral, podem atribuir eventos horríveis e a discórdia divisora a
espíritos demoníacos ou malignos. Por exemplo, após uma eleição contenciosa, o
cardeal Gregory de Washington, DC, declarou : ‘Temos muitos espíritos
malignos que de alguma forma estão destruindo e trazendo mal para a nação,
fazendo com que pessoas de diferentes raças, culturas, línguas e religiões tenham
medo de uns dos outros’ (janeiro de 2021).
Entendo, só tenho que perguntar algo porque um colega meu (teólogos
podem ser pessoas estranhas!) é meio obcecado com esse assunto. A Bíblia tem
uma visão de anjos e demônios que permite que alguns deles sejam algo diferente
do espírito? Para ser mais direto : a Bíblia imagina que alguns anjos e
demônios têm corpos?
A resposta curta é sim. No Livro de Tobias, mencionado acima,
Rafael aparece pela primeira vez disfarçado de jovem e não é identificado como
um anjo até muito mais tarde na narrativa. O demônio que confronta Jesus no
deserto é apresentado com características humanas : o demônio leva Jesus até um
ponto alto para mostrar-lhe todos os reinos do mundo, leva-o a Jerusalém e o
seduz por meio de palavras comuns, tudo em vão. Seria ir além da narrativa da
tentação, porém, sustentar que o diabo que aparece tem um corpo físico.
É uma coisa muito católica acreditar no Anjo da guarda. Existe
um fundamento bíblico para essa crença?
Embora seja verdade que a crença no Anjo da guarda é uma ‘coisa
católica’, alguns protestantes também têm crenças semelhantes. Por exemplo,
a declaração de Martinho Lutero ‘que os anjos estão conosco é muito certo, e
ninguém deveria ter duvidado disso’ se aproxima de uma crença em anjos da guarda.
Embora a expressão ‘anjo(s) da guarda’ não apareça na Bíblia, há alguns
textos que apontam nessa direção, como no Salmo 91,11. ‘Porque a seus anjos
Ele dará ordens a seu respeito, para que o protejam em todos os seus caminhos’.
Em Mateus 18,10 é relatado que Jesus disse : ‘Cuidado para não desprezarem
um só destes pequeninos! Pois eu digo que os anjos nos céus estão sempre vendo
a face de meu Pai Celeste’. E em Atos 12,15, quando Pedro chegou à casa de
Maria, os presentes acreditaram que era ‘seu anjo’. Em Hebreus 1,14,
surge a pergunta ‘Os anjos não são, todos eles, espíritos ministradores
enviados para servir aqueles que hão de herdar a salvação?’.
Muitos relatam ter um anjo da guarda. No outro dia, encontrei a
história de Francisca de Roma (1340-1440), que recebeu um anjo da guarda
enviado por Deus depois que seu marido se foi e um filho morreu, para servir
como companheiro constante durante os últimos vinte anos de sua vida. Ela teria
sido capaz de ver este anjo. Pouco antes de sua morte, disse : ‘O anjo
terminou sua tarefa - ele me chama para segui-lo’. Entre aqueles que
acreditam em anjos, poucos parecem ter uma experiência tão vívida.
Esta é uma pergunta complexa, mas é outra que tenho que fazer.
Suspeito que muitas pessoas se interessam por anjos e demônios pelos mesmos
motivos pelos quais se interessam por dragões, alienígenas e zumbis. Leva você
de seu mundo atual, totalmente físico, para um lugar fantástico de imaginação
encantada. Mas seu livro deixa claro que, para as pessoas da Bíblia, este não
era um mero lugar fantástico de imaginação. A existência de anjos e demônios
para os antigos era muito séria. É possível para nós, pessoas da modernidade,
entrar na mentalidade encantada que abre espaço para a realidade de anjos e
demônios?
Existem tantas oportunidades através de programas de TV, filmes
e outras mídias, para entrar em um mundo tão encantado. No entanto, não tenho
certeza se uma pessoa precisa entrar em uma ‘mentalidade encantada’ para
criar espaço para essa realidade. Algumas semanas atrás, comentei com um amigo
da caminhada sobre meu livro sobre anjos e demônios. Ele se virou para mim e
disse : ‘Não tenho certeza do que acredito nos anjos’. Em seguida,
passou a contar o que começou como uma história mundana sobre como a luz de
verificação do motor em seu carro havia se acendido durante uma viagem para
fora do estado. Meu amigo parou para investigar, e descobriu que havia algum
outro problema relacionado ao funcionamento seguro de seu carro que não tinha
conexão com o indicador ‘verificar motor’. Subiu as mãos e se perguntou :
de que se tratava esse aviso?
Agora sobre os demônios : quando o ataque ao Capitólio dos EUA
ocorreu em 6 de janeiro de 2021, o representante Jim McGovern, um veterano da
Marinha, disse depois que ‘viu o mal’ nos olhos dos atacantes. Se isso
era o mal personificado, o demônio em ação ou simplesmente loucura, ele não
diz. Não é absurdo interpretar isso como algo mais do que uma turba fora de
controle envolvida em algo que as pessoas mais razoáveis imaginariam como
totalmente impensável.
Para muitos, a questão permanece em aberto se o espaço (sobre o
qual você pergunta) deve ser aberto para anjos e demônios. Outros podem ter
fortes convicções de um lado ou do outro. A Bíblia oferece suporte para tal
realidade e, de muitas maneiras, nossa cultura contemporânea também o faz.’
Fonte : *Artigo na íntegra https://domtotal.com/noticia/1510568/2021/04/o-pequeno-mas-importante-papel-dos-anjos-e-demonios-na-biblia/
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