Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
teólogo protestante
‘Recentemente se discutiu a questão
acerca da reabertura de templos durante o período da pandemia. Da mesma forma,
na câmara de Belo Horizonte tem se tentando colocar as igrejas como serviços
essenciais, projeto que tem como autoria um pastor evangélico, e que teve
aprovação já no primeiro turno, devendo ser novamente votado em segundo turno,
a ser definido pela câmara. O STF, por 9 a 2, decidiu que estados e municípios
têm autonomia para proibirem os cultos e missas durante a pandemia.
Simplesmente o fato de se colocar essa
questão para se discutir num momento como o que se vive no país já revela algo
muito importante, que é a falta de senso de urgência por parte das bancadas
cristãs que povoam a câmara e o congresso. Qualquer câmara sensata estaria
preocupada em exigir do governo federal a compra de vacinas, a assistência
financeira às pessoas carentes do país e do município, o aumento de
distribuição de cestas básicas, máscaras e itens de higiene para a população
carente ao invés de querer que templos sejam reabertos.
Do ponto de vista social, tais
propostas legislativas se mostram como mais um absurdo em meio à crise
sanitária que o país enfrenta. Em outras palavras, tudo indica que tais
representantes do povo não estão se importando muito com a população que os
elegeu, da mesma forma que parece que tais pastores e padres que exigem
reabertura dos templos estão mais preocupados com a volta das arrecadações dos
dízimos e ofertas, do que preocupados em preservar as pessoas que frequentam
tais igrejas.
Do ponto de vista teológico, revela-se
uma ausência de compreensão acerca de uma eclesiologia proposta pelo Novo
Testamento. Uma simples leitura das
cartas paulinas e dos Evangelhos serviria para se perceber que a velha
estrutura do templo, tão cara aos israelitas e judeus, foi fortemente condenada
por Jesus. Paulo também, ao escrever suas cartas, deixou bem claro que Deus não
habita em templos feitos por mãos (algo que já se manifesta em alguns salmos no
Antigo Testamento), mas que a verdadeira Igreja, corpo de Cristo, são as
pessoas e não os lugares.
A insistência por parte de pastores e
padres para que templos sejam abertos para o sustento da fé das pessoas somente
revela o baixo conhecimento bíblico que tais líderes possuem, preferindo levar
seus fiéis à morte a ensinar o que a Bíblia fala a respeito do que é ser Igreja
e onde ela se localiza. A saber, no coração de todo aquele e aquela que crê.
Dessa maneira, qualquer tentativa
teológica de se promover abertura de templos, afirmando que crentes estão
dispostos a morrer pela sua fé se mostra de uma desonestidade intelectual
enorme, chegando até mesmo a manchar o nome de mártires da fé, aqueles que,
sendo verdadeiramente Igreja, morreram defendendo a fé verdadeira, que não
tinha nada a ver com irem aos templos para ‘adorar a Deus’.
Perceberam que adorar a Deus tinha a
ver com fazer a sua vontade. Sendo cristãos, então, significava para eles
assumir o senhorio de Cristo e, consequentemente, a causa dos pobres, dos
desfavorecidos e dos perseguidos. Em outras palavras, assumir o mesmo lado no
qual Jesus se colocou enquanto estava entre nós.
Jesus durante sua vida condenou
fortemente a estrutura do templo que servia para explorar o povo, impondo sobre
ele fardos pesados e pregando um legalismo que fazia com que qualquer pessoa
comum se sentisse afastada de Deus. Em outras palavras, um templo que matava
seu povo por meio da lei.
Hoje, temos diversos pastores e padres
que, como o templo daquele tempo, também fazem o povo morrer. Essa morte,
porém, é a morte do corpo atingido por um vírus que se potencializa pelo
contato. Não é difícil, pois, perceber que reabrir os templos nesse momento é
levar pessoas a morte. Templos e igrejas não são atividades essenciais na
perspectiva cristã. O que é essencial é o cuidado da vida e sua manutenção.
Do ponto de vista cristão, se algo
atenta contra a vida se mostra como contrário a Deus e, por isso mesmo,
demoníaco. Assim, reabrir templos e igrejas neste momento no Brasil é pregar
contra a vida das pessoas e, por isso mesmo, revela-se como pregação satânica.’
Fonte : *Artigo na íntegra https://domtotal.com/noticia/1510327/2021/04/reabrir-os-templos-hoje-uma-obra-satanica/
2 comentários:
Aprecio o blog...contudo achei controverso o artigo do escritor protestante , sinceramente gostaria de abastecer me mais de escritos monasticos por aqui, são uma fonte de sustento e inspiração . Procurar autores católicos não estaria mais alinhado com o blog? Fraternalmente uma assídua leitora carioca .
Muito bom termos uma assídua leitora carioca. Compreendo sua observação.
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