Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
Cardeal Joseph Ratzinger antes de sua eleição como papa
*Artigo de Fabrício Veliq,
teólogo protestante
‘Pensar a própria fé é uma tarefa teológica. Toda e qualquer
pessoa que se propõe a se debruçar sobre a teologia precisa estar disposta a
fazer esse exercício. Ao mesmo tempo, a fé deve ser compreendida como um
movimento vivo, sempre tendo clareza de que a teologia se faz a partir de
questões de nosso tempo. Toda teologia que não acompanha seu tempo tende a não
cumprir seu papel e se mostrar como sistema morto para o momento em que se
está.
Ratzinger exemplifica muito bem essa situação ao utilizar o
conto de Kierkegaard, colocando o teólogo como um palhaço sem máscara que tenta
avisar uma aldeia que o circo no qual trabalha está a pegar fogo e este
atingirá a cidade se nada for feito. Por acharem que o palhaço está a fazer
palhaçadas, todos da aldeia não lhe dão atenção. Como consequência, o circo
pega fogo, a cidade pega fogo e todos morrem. O mesmo drama que sofre o
palhaço ao ver que não lhe dão ouvidos, assim também sofre o teólogo no mundo
de hoje ao tentar expor sua fé com a antiga roupagem medieval (RATZINGER,
Joseph. Introdução ao Cristianismo. 1970, p.9).
Vemos em Ratzinger a preocupação com essa teologia que deve ser
atualizada para o mundo contemporâneo e que sirva de base para diversos
cristãos que querem responder a respeito de sua fé.
Na atualidade, por sua vez, é possível perceber certo movimento
duplo: ao mesmo tempo em que há grande valorização daquilo que é comprovável
pela ciência e pode ser tangível, também há a busca constante das experiências
espirituais por parte do ser humano contemporâneo. A sociedade de hoje busca a
experiência, o novo, o diferente, como que em uma tentativa feroz de sair
daquilo que pode ser visto e cientificamente provado.
É comum surgir novos movimentos que propõem a explicação do
Universo, o encontro consigo mesmo, a interação com a natureza. Diante disso,
poderíamos nos perguntar : haveria nessa atitude impressa a necessidade da
busca por algo que transcende a nós mesmos? Estaria nossa sociedade cansada de
tanta comprovação e partiria a buscar algo que não pode ser explicada pela via
científica e histórica? Terá nossa sociedade a necessidade de algo que seja
mistério, somente experimentado pelo mais profundo do ser?
Ratzinger, por sua vez, está longe de ser um místico no sentido
comumente pensado do termo. Todo aquele que se dispuser a ler suas obras com
atenção perceberá que a intenção de nosso teólogo é fazer a conciliação entre
razão, história e fé. Esta talvez pode ser caracterizada como uma de suas
principais bandeiras ao longo da trajetória como teólogo. Porém, ao mesmo tempo
em seus escritos, revela-se como alguém que vê com grande valor a experiência
de fé.
Dessa forma, Ratzinger se mostra como teólogo que busca de
alguma maneira contribuir para o enriquecimento da fé cristã, seja por meio da
grande pesquisa científica que faz, seja pelo grande interesse que tem em
propor um relacionamento pessoal com Jesus Cristo para todo aquele que se
dispõe a Segui-lo.
Revisitar o pensamento de Ratzinger se mostra de grande valia
para o cristianismo contemporâneo, visto seu esforço enquanto teólogo ter se
mostrado como tentativa de trazer a fé cristã para um mundo que não está mais
na cristandade, mantendo o comprometimento intelectual demandado pelo nosso
tempo e uma fé genuína, ancorada na pessoa de Jesus Cristo.
Caso o leitor e a leitora desse pequeno texto tenham interesse
em conhecer mais sobre a obra de Ratzinger, recomendo seu livro Introdução
ao Cristianismo, elaborado com base nos cursos de verão dados em 1967,
bem como sua trilogia escrita a partir de 2005, Jesus de Nazaré.’
Fonte : *Artigo na íntegra https://domtotal.com/noticia/1511634/2021/04/razao-historia-e-fe-algo-sobre-o-percurso-de-joseph-ratzinger/
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