quinta-feira, 22 de abril de 2021

Razão, história e fé: algo sobre o percurso de Joseph Ratzinger

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
Cardeal Joseph Ratzinger antes de sua eleição como papa

*Artigo de Fabrício Veliq,

teólogo protestante

 

Pensar a própria fé é uma tarefa teológica. Toda e qualquer pessoa que se propõe a se debruçar sobre a teologia precisa estar disposta a fazer esse exercício. Ao mesmo tempo, a fé deve ser compreendida como um movimento vivo, sempre tendo clareza de que a teologia se faz a partir de questões de nosso tempo. Toda teologia que não acompanha seu tempo tende a não cumprir seu papel e se mostrar como sistema morto para o momento em que se está.

Ratzinger exemplifica muito bem essa situação ao utilizar o conto de Kierkegaard, colocando o teólogo como um palhaço sem máscara que tenta avisar uma aldeia que o circo no qual trabalha está a pegar fogo e este atingirá a cidade se nada for feito. Por acharem que o palhaço está a fazer palhaçadas, todos da aldeia não lhe dão atenção. Como consequência, o circo pega fogo, a cidade pega fogo e todos morrem.  O mesmo drama que sofre o palhaço ao ver que não lhe dão ouvidos, assim também sofre o teólogo no mundo de hoje ao tentar expor sua fé com a antiga roupagem medieval (RATZINGER, Joseph. Introdução ao Cristianismo. 1970, p.9).

Vemos em Ratzinger a preocupação com essa teologia que deve ser atualizada para o mundo contemporâneo e que sirva de base para diversos cristãos que querem responder a respeito de sua fé.

Na atualidade, por sua vez, é possível perceber certo movimento duplo: ao mesmo tempo em que há grande valorização daquilo que é comprovável pela ciência e pode ser tangível, também há a busca constante das experiências espirituais por parte do ser humano contemporâneo. A sociedade de hoje busca a experiência, o novo, o diferente, como que em uma tentativa feroz de sair daquilo que pode ser visto e cientificamente provado.

É comum surgir novos movimentos que propõem a explicação do Universo, o encontro consigo mesmo, a interação com a natureza. Diante disso, poderíamos nos perguntar : haveria nessa atitude impressa a necessidade da busca por algo que transcende a nós mesmos? Estaria nossa sociedade cansada de tanta comprovação e partiria a buscar algo que não pode ser explicada pela via científica e histórica? Terá nossa sociedade a necessidade de algo que seja mistério, somente experimentado pelo mais profundo do ser?

Ratzinger, por sua vez, está longe de ser um místico no sentido comumente pensado do termo. Todo aquele que se dispuser a ler suas obras com atenção perceberá que a intenção de nosso teólogo é fazer a conciliação entre razão, história e fé. Esta talvez pode ser caracterizada como uma de suas principais bandeiras ao longo da trajetória como teólogo. Porém, ao mesmo tempo em seus escritos, revela-se como alguém que vê com grande valor a experiência de fé.

Dessa forma, Ratzinger se mostra como teólogo que busca de alguma maneira contribuir para o enriquecimento da fé cristã, seja por meio da grande pesquisa científica que faz, seja pelo grande interesse que tem em propor um relacionamento pessoal com Jesus Cristo para todo aquele que se dispõe a Segui-lo.

Revisitar o pensamento de Ratzinger se mostra de grande valia para o cristianismo contemporâneo, visto seu esforço enquanto teólogo ter se mostrado como tentativa de trazer a fé cristã para um mundo que não está mais na cristandade, mantendo o comprometimento intelectual demandado pelo nosso tempo e uma fé genuína, ancorada na pessoa de Jesus Cristo.

Caso o leitor e a leitora desse pequeno texto tenham interesse em conhecer mais sobre a obra de Ratzinger, recomendo seu livro Introdução ao Cristianismo, elaborado com base nos cursos de verão dados em 1967, bem como sua trilogia escrita a partir de 2005, Jesus de Nazaré.

 

Fonte : *Artigo na íntegra https://domtotal.com/noticia/1511634/2021/04/razao-historia-e-fe-algo-sobre-o-percurso-de-joseph-ratzinger/

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