Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
Tradução : Luisa Rabolini
‘‘Carrego no corpo o fato de ter
nascido em Codogno. Em um ano, muitas pessoas caras para mim morreram. Amigos,
conhecidos, sacerdotes. A imagem histórica de caminhões carregados de caixões
marca o início da consciência de algo que mudaria toda a humanidade, não apenas
a Itália ou a Europa. Marca o início de uma nova temporada que a humanidade
sozinha não conseguiria enfrentar imediatamente. Depois, há outra imagem, ainda
mais poderosa’, diz em entrevista Dom Rino Fisichella, presidente do
Pontifício Conselho para a Nova Evangelização e um dos teólogos mais
reconhecidos do mundo.
Qual é a outra imagem?
Em 27 de março do ano passado. O Papa
sozinho na Basílica de São Pedro. Representa a humanidade desorientada em busca
de sentido. As pessoas estavam fechadas em suas casas, sem ter relações
interpessoais com as pessoas próximas e queridas e com a consciência das mortes
que se avolumavam sem sequer poder dar-lhes uma última despedida. Talvez nunca
como naquela época marcada pela Covid a humanidade tenha erguido os olhos ao
céu.
Foi realizada uma enquete : desde o
ano passado até hoje aumentou a percepção da incerteza, do medo, da tristeza
...
Há uma reflexão enorme e macroscópica
a fazer. Estamos diante de um fenômeno significativo para a cultura de nosso
tempo. Estamos tocando com a nossa mão o início da pós-modernidade. O que está
acontecendo nos diz que a época moderna acabou e ainda não sabemos como será o
futuro. Diante desses fatos, a ilusão de que tudo é tão lindo quanto nos foi
apresentado nas últimas décadas e que o homem sozinho administra a sua vida,
nos faz entender que não é assim. No dia 27 de março do ano passado, o Papa
falou a São Pedro sobre o barco no meio da tempestade e quase gritou : por
que vocês estão com medo, vocês perderam a fé?
Ainda há espaço para esperança?
A imagem do barco de Pedro é
fundamental. O Papa nos lembrou que o drama não é uma tragédia. Na tragédia
nunca há esperança, mas no drama sim. A morte, segundo a mesma enquete, parece
que está impressionando menos, como se tivéssemos criado um calo...
A morte entrou efetivamente na nossa
vida cotidiana e desmantelou um tabu. As imagens dos caixões que saíam nos
caminhões militares de Bérgamo deixaram claro que a morte não era uma ficção e
ficaram impressas. O imaginário mudou desde então.
Se há necessidade de esperança,
por que as igrejas ficam vazias?
O problema de dar voz à esperança está
relacionado com a capacidade de falar uma linguagem nova. Talvez ainda
estejamos inseridos numa linguagem demasiado tradicional. Talvez devêssemos
refletir sobre como melhor utilizar aquelas que são as mensagens da fé, sobre o
fato de que a morte, a doença e o sofrimento são vividos e foram vencidos.
Como a fé pode andar em paralelo
com a ciência?
O homem de fé sempre tem confiança na
ciência porque tem confiança na obra criativa, na inteligência do homem : saber
falar de esperança significa ir além das mensagens e criar sinais de esperança.
Esse é o grande desafio que marca o momento histórico que estamos vivendo.
Talvez a Igreja fale muito pouco
sobre a vida após a morte?
Temos a tendência de raramente falar
sobre isso porque também nós somos vítimas da crise de fé que se vive no
Ocidente. Às vezes, há a incapacidade de dar primazia ao mistério da nossa
vida. O mistério não é o que não se compreende, mas o ficar em silêncio a
contemplar a fim de entrar em profundidade e deixar a mente e o coração abertos
para receber também uma iluminação. Esquecemos essa dimensão, trazer de volta o
mistério de um Deus que se faz homem e vence a morte.
O que dizer para aqueles que perderam amigos
e parentes por causa do Covid?
Quem amamos tanto mantém uma forte
presença entre nós. A força do amor dura para sempre. O amor autêntico vai além
da morte. E Deus que é amor venceu a morte. E quando se fala com uma pessoa que
vive o luto, ela bem sabe que tem a presença da pessoa falecida ao seu lado,
que se transformou em outra forma.’
Fonte : *Artigo na íntegra https://domtotal.com/periscopio/2317/2021/04/eterno-minuto-de-silencio/
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