Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo de Emmanuel Pellat,
Jornalista
‘Como
entrar no mistério do Natal? E como cultivar as graças da Natividade ao longo
do ano? A seguir, uma entrevista com o Irmão Éric Bidot, capuchinho, guardião
do convento francês de Clermont-Ferrand.
Por que, em 1223, São
Francisco criou um presépio vivo?
Francisco
viveu com Cristo. Ele o viu nos acontecimentos e nos encontros da vida
quotidiana, reconheceu-o nos irmãos, especialmente nos mais pobres. Francisco
tinha apenas um desejo : encontrar, ver, tocar seu Senhor. No Evangelho, dois
mistérios da vida de Cristo trouxeram lágrimas aos seus olhos : a crucificação
e a natividade. Francisco se apresenta como um homem ‘simples’, é
artista, poeta, sensível. Para entender o evangelho, ele precisava vê-lo,
tocá-lo, experimentá-lo.
Como as pessoas
reagiram?
Mesmo
se não temos nenhum vestígio do que Francisco disse durante seu sermão, diz a
lenda popular que as pessoas ficaram tão tocadas que saíram com os fios de
palha, a ponto de não sobrar nem um só. Além disso, sua maneira de falar sobre
Jesus despertou fé e fervor. Tendo a pensar que Francisco pregava sobre a
humildade de Deus : como o Deus três vezes santo, criador do universo, senhor
do tempo e da história, pôde fazer-se homem, e nascer tão pobre? O presépio
revoluciona a imagem que poderíamos ter de Deus : um Deus que se humilha para a
nossa salvação.
Como entrar na
contemplação deste mistério?
Concordemos
em deixar-nos levar e ser tomados pelo mistério que se vive diante de nossos
olhos. Coloquemo-nos na escola da humildade de Deus. Para aplaudir o maior
milagre da história, precisamos encontrar nossa criança interior. Devíamos
ficar chateados com o presépio, pois nossos berços nunca serão bonitos o
suficiente. Devemos tentar torná-los ícones reais e contemplá-los com admiração
por tão grande mistério!
É
importante que, no presépio, sejam representadas as atividades ordinárias e
concretas das pessoas de ontem e de hoje, imersas na vida cotidiana. Por que
não adicionar médicos, operários da construção, fazendeiros, comerciantes, aos
personagens tradicionais? No presépio, toda a criação é convocada : o cosmos,
os elementos naturais, o pequeno e o grande deste mundo. Deus se faz homem para
renovar e reconciliar toda a criação por dentro.
É este o cerne da
mensagem do presépio?
O
presépio é um mistério de simplicidade. Percebamos verdadeiramente que os
pastores – as primeiras testemunhas do nascimento do Salvador – estavam entre
os mais pobres e os mais desprezados dos judeus de seu tempo. Se tivéssemos
coração e mãos de pobres, facilmente entraríamos no júbilo da contemplação
deste grande mistério.
No
Natal, a presença do Emanuel (‘Deus conosco’) revela-nos a simplicidade
do Amor. Deus é simples. Somos nós que nos complicamos com o nosso pecado. Na
manjedoura, Deus está lá. Mistério que ecoa a exclamação de Santo Agostinho : ‘Tarde
demais eu Te amei! Eis que estavas dentro, e eu, fora – e fora Te buscava, e me
lançava, disforme e nada belo, perante a beleza de tudo e de todos que criaste.
Estavas comigo, e eu não estava contigo… seguravam-me longe de ti as coisas que
não existiriam senão em ti.’
Como você cultiva a
graça do Natal ao longo do ano?
Permitindo
que Deus transforme todos os nossos relacionamentos : nosso relacionamento com
ele, com nós mesmos e com os outros. Esta não é uma técnica psicológica, mas
uma verdadeira conversão espiritual. E para isso só existe um caminho : a
oração pessoal. Sem ela é impossível viver da graça do Natal. É um pedido
exigente, mas é a verdade. Todos os dias, Deus só pede para renascer em nós,
para nos dar a paz e a alegria do Natal. Não uma fachada de paz e alegria
entusiasmada, mas uma paz profunda e a alegria de saber que se é amado. Não
temos pelo menos cinco minutos por dia para que Deus se encarne em nós?
Correndo o risco de
soar provocativo, uma pergunta : por que Deus se encarnou?
Para
nos dizer que todo homem é filho e filha de Deus! Para nos revelar a verdadeira
face de Deus e, ao mesmo tempo, restaurar nosso relacionamento com o Pai no
céu. ‘Deus se fez homem para que o homem se tornasse Deus’, dizia Santo
Irineu no século II. Jesus, sendo verdadeiro Deus e verdadeiro homem,
reconcilia o homem na sua pessoa com Deus e conduz o homem à sua dimensão
verdadeira e plena. Encarnando-se, o Verbo Eterno revela a onipotência da sua
bondade, da sua misericórdia e da sua ternura. Em Jesus, ele se faz muito
próximo, muito pequeno para não nos assustar. A manjedoura, como a Eucaristia,
é a revelação de um Deus que se faz servo de cada homem para nos anunciar toda
a sua força de amor. Como diz uma das canções de natal mais antigas : ‘Da
manjedoura à crucificação, Deus nos revela um grande mistério’.’
Fonte : *Artigo na íntegra https://pt.aleteia.org/cp1/2020/12/22/natal-descubra-os-tesouros-escondidos-no-misterio-do-presepio/
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