Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
teólogo
‘Aproxima-se
o Natal, festa entre as mais importantes e significativas para os cristãos e
cristãs. É o marco da memória da irrupção do eterno em nossa temporalidade; o
encontro incontornável entre o humano e o divino. Memória e celebração do
nascimento do menino-Deus, mas não aniversário : ainda que nossas festas de
aniversários sejam símbolos importantes para nós, celebrar o Natal do Senhor é
ocasião ainda mais significativa. Trata-se, pois, da noite em que se entoa, a
viva voz, aquilo que a narrativa evangélica diz que os anjos cantaram : Glória
a Deus nas alturas, e paz na terra aos homens [e mulheres] de boa-vontade!
Fora
aquelas pessoas que se dedicam ao estudo da Liturgia, pouco se reflete a
respeito do Hino do Glória, momento importante da celebração litúrgica cristã.
Católicos e católicas possivelmente já presenciaram o repicar dos sinos no
momento em que, na Noite de Natal, entoa-se o Glória. Não é à toa : é o hino
por excelência que celebra a encarnação do Filho de Deus em meio à humanidade,
motivo de festa e alegria. O texto oficial é longo, poético e profundamente
rico, teologicamente. Entende-se bem, assim, o arrepio provocado em
liturgistas, quando versões alheias ao texto oficial são executadas nas
celebrações.
Mas
o que é a glória de Deus? Biblicamente, o que traduzimos por glória, em
hebraico é kabôd, que, literalmente, significa peso. É
o peso da presença ou da importância de alguém. Falar da glória de Deus, pois,
é falar da força e do peso da sua presença. Em uma palavra, podemos dizer que a
glória de Deus é Deus mesmo! No Antigo Testamento, fala-se da glória de Deus
que preenchia o Santo dos Santos, no Templo de Jerusalém : era
uma maneira de dizer que Deus habitava aquele lugar. A glorificação
a Deus, que costumamos considerar como um louvor ao Criador, vocação última de
toda criatura, significa reconhecer o que Deus é, e o modo como ele atua
salvificamente em nosso favor.
Quando
a narrativa evangélica traz que os anjos cantaram glória a Deus, por ocasião no
nascimento do menino-Deus-conosco, numa gruta em Belém, fala-se que ali,
naquele cocho onde se alimentavam os animais, irrompeu a presença do próprio
Deus, em sua glória. E esse é um motivo de paz, a todos os homens e mulheres de
boa-vontade. Não aos poderosos, apegados em seu próprio poder a serviço da
opressão, pois estes são escravos de si próprios e da injustiça que cometem.
Paz na terra aos homens e mulheres de boa-vontade, porque estes, apesar dos
pesares da vida, abrem-se à manifestação de Deus.
Louvar
a presença salvífica de Deus não é tarefa de quem pretende bajular o Criador,
como se Deus fosse um ser vaidoso que se alimenta de elogios. O louvor é o
reconhecimento, agradecido, por seu amor para conosco, que o faz chegar ao
ponto de enviar seu próprio Filho, para correr os riscos da dramaticidade
humana, só para que pudéssemos ser elevados até Ele. A maior glória de Deus é
que o ser humano viva, rezavam os Padres da Igreja, nos primeiros séculos do
cristianismo. Deus é glorificado quando pessoas se abrem à graça salvífica,
permitindo-se, por força do Espírito, conformarem-se à filialidade de Jesus
Cristo, que é a plena manifestação da glória do Pai.
Entoar
o Hino do Glória é coisa séria, profunda, inspiradora! A glorificação a Deus é
nossa adesão à salvação que ele nos oferece por pura graça e amor. Há, pois, um
componente ético nesse canto de louvor : ao reconhecer nosso lugar de
criaturas, que podem alcançar gratuitamente o caráter de filhos e filhas de
Deus, somos chamados a nos comprometer existencialmente com esse Deus que nos
assume como Pai. É coisa de gente que tem boa-vontade, para que, em paz, aquela
paz inquieta, não a dos cemitérios, participe da glória desse Deus que vem até
nós, para que possamos ir até Ele. A glória de Deus é o Reino dos Céus
acontecendo : é isso que somos chamados a entoar, a plenos pulmões. A depender
de nós, há lugar para a glória de Deus em nosso mundo atual?’
Fonte : *Artigo na íntegra https://domtotal.com/noticia/1488091/2020/12/ha-lugar-em-nosso-mundo-para-a-gloria-de-deus/
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