Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
teólogo protestante
‘O
mês de dezembro é um mês muito caro a todas as pessoas cristãs, independentemente
da tradição a que pertencem : sejam católicas, protestantes ou ortodoxas. Por
se celebrar o nascimento de Jesus Cristo, é comum que em todas se viva o tempo
do advento. Nas duas primeiras semanas do mês refletimos sobre a esperança
cristã da parusia, ou também conhecida como segunda vinda de Cristo; e nas duas
últimas semanas sobre o nascimento do Messias, conforme narrado nos evangelhos.
O
tema da vigilância aparece no texto bíblico quando Jesus fala a seus discípulos
a respeito de sua segunda vinda. Nesses textos, uma vez que pertencem ao gênero
apocalíptico, Jesus se utiliza de diversos símbolos para tratar das últimas
coisas e que, por isso mesmo, precisam ser decodificados a fim de serem
compreendidos.
Um
dos temas recorrentes nos evangelhos sinóticos é o tema da vigilância. Em
todos, aparece a famosa frase, mesmo que com algumas variações : ‘Vigiai,
porque não sabeis nem o dia nem a hora em que virá o Filho do Homem’. Esse
conselho de Jesus muitas vezes foi usado para instaurar o medo em fiéis.
Afinal, lendo o texto de maneira literal, o que se tem é um evento
cataclísmico, no qual o céu será abalado, haverá chuva de meteoros sobre a
terra, tudo pegando fogo e um caos generalizado para que, dos céus, se veja o
Filho do Homem vindo com poder e glória para colocar um fim na história. Nesse
contexto, ai daquele e daquela que não vigia, uma vez que serão castigados por
não cuidarem dos bens do senhor da casa.
Não
precisamos de muito esforço para compreender porque esse tipo de mensagem gerou
e ainda gera tanto temor para muitos cristãos ainda hoje, e uma espécie de ‘cobrança
de santidade’ se faça presente em diversas igrejas e comunidades cristãs
espalhadas pelo mundo.
No
entanto, compreender o tema da vigilância não deveria causar medo ou espanto.
Vigiar é observar com atenção, estar atento a algo ou a alguma pessoa. Nesse
sentido, aquele e aquela que vigia é uma pessoa que presta atenção e está
focada naquilo que deve fazer, sendo o foco uma das características principais
quando falamos do tema. Com isso em mente, o conselho de Jesus deve ser
compreendido como instrução para que, como seus discípulos e discípulas,
estejamos atentos aos sinais dos tempos e àquilo que eles mostram. Se o Filho
vem de maneira que ninguém percebe e em hora que ninguém espera, então somente
os que estão atentos e atentas são capazes de acolher a sua chegada.
Longe
de ser uma espécie de adivinhação do futuro autorizada, estar atento aos sinais
dos tempos visa capacitar-nos a manter a esperança de que o Senhor da casa há
de chegar. Aqui, a imagem de Noé, apresentada em Mateus 24,37-39, mostra-se
importante. Voltando ao mito do dilúvio é possível perceber que este veio por
causa da maldade humana. Noé, homem justo, foi chamado por Deus para construir
um espaço de preservação de vida no meio do caos que haveria de vir sobre a
terra, fruto do pecado da humanidade. A arca, nesse sentido, representa tanto o
cuidado de Deus, quanto a esperança de que, no meio de todo caos, Deus não
havia abandonado os que praticam a justiça. Em outras palavras, a justiça de um
ser humano é suficiente para que o mundo não pereça.
Vigiar
e ter esperança se mostram, então, intimamente ligados. Somente aquele que tem
a esperança de que o senhor da casa há de chegar é capaz de vigiar. Nesse
sentido, o conselho para a vigilância não tem a ver com o medo da punição, mas
com a manutenção da esperança de que, mesmo nos momentos escuros e de trevas
pelos quais passamos, devemos nos manter atentos à prática da justiça e naquilo
que fomos chamados a fazer para o Reino de Deus, porque temos a esperança que,
em algum momento, o Filho chegará e um novo dia chegará sobre a humanidade.’
Fonte : *Artigo na íntegra https://domtotal.com/noticia/1488692/2020/12/vigiai-um-conselho-aos-esperancosos/
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