Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo de Paolo M. Alfieri
Tradução : Moisés Sbardelotto
‘Enquanto
os países ricos estão em contagem regressiva para o início das campanhas de
imunização contra o coronavírus (depois do Reino Unido, os EUA também estão
prontos para começar), bilhões de pessoas no Sul do mundo correm o risco de não
conseguir se vacinar sequer em 2021. É uma constatação amarga divulgada nessa
terça-feira pelas organizações da People’s Vaccine Alliance, da qual fazem
parte, entre outros, a Anistia Internacional, a Global Justice Now e a Oxfam.
Os
países ricos já garantiram doses iguais a três vezes as da sua população para
as vacinações do ano que vem, durante o qual, por outro lado, em 67 países
pobres, apenas uma em cada 10 pessoas poderá se vacinar contra o coronavírus.
Uma desigualdade que infelizmente reflete dinâmicas relacionadas também a
outros setores, mas que é ainda mais humilhante considerando-se que estamos
falando da saúde de bilhões de pessoas.
Ainda
no dia 19 de setembro passado, o Papa Francisco havia enfatizado : ‘Seria
triste se, no fornecimento da vacina, se desse prioridade aos mais ricos, ou se
essa vacina se tornasse propriedade desta ou daquela nação’. E, invocando
uma globalização do cuidado, havia concluído que a vacina ‘deverá ser
universal, para todos’.
‘De
acordo com a tendência atual, estamos diante de uma enorme desigualdade no
acesso à vacina, que é o principal instrumento para erradicar a pandemia’,
destacou a Oxfam, observando que um país como o Canadá garantiu doses
suficientes para vacinar a sua população quase cinco vezes, e a União Europeia,
2,3 vezes.
Daí
o apelo da Oxfam, junto com as organizações da People’s Vaccine Alliance, a
todas as empresas farmacêuticas que trabalham com as vacinas anti-Covid-19 para
compartilharem a sua tecnologia e os direitos de propriedade intelectual,
aderindo a uma iniciativa promovida pela OMS.
‘Só
assim poderão ser produzidos bilhões de doses de vacinas seguras e eficazes,
disponibilizadas a todos aqueles que delas necessitam’, afirma uma nota. A
People’s Vaccine Alliance também pediu aos governos que façam tudo o que
estiver ao seu alcance para garantir que as vacinas anti-Covid-19 se tornem um
bem público global, distribuído igualmente.
‘Um
primeiro passo seria apoiar a proposta apresentada nesta semana pela África do
Sul e pela Índia à Organização Mundial do Comércio de suspender os direitos de
propriedade intelectual para as vacinas, os testes e as terapias anti-Covid-19
até que todos estejam protegidos’, afirma o apelo.
‘A
acumulação das vacinas por parte de poucos países corre o risco de anular os
esforços globais para garantir que todos, onde quer que seja, possam estar
protegidos do vírus’, denunciou a Anistia Internacional.
‘Até
hoje, todas as doses da Moderna e 96% das produzidas pela Pfizer-BioNTech foram
adquiridos por países ricos’, continua a Oxfam, acrescentando que o
consórcio Oxford-AstraZeneca, por sua vez, se comprometeu a fornecer 64% das
doses aos países em desenvolvimento (a preço de custo), ‘mas, para o próximo
ano, poderá abastecer no máximo 18% da população mundial’.
Cerca
de 96% das doses da Pfizer-BioNTech, em vez disso, irão para os países ricos.
Mesmo para as poucas doses restantes, levanta-se a questão da temperatura de
armazenamento necessária para a distribuição, embora, de acordo com os
produtores, a segunda geração da vacina, que poderia chegar em seis meses,
poderá ser transportada em temperatura ambiente.
O
mais importante projeto internacional para distribuir a vacina é a Covax
Alliance, criado pela Gavi Alliance e que inclui dezenas de países, da Itália à
China. O objetivo é garantir uma distribuição justa de dois bilhões de doses da
vacina, 450 milhões das quais para 92 países pobres e em desenvolvimento, a um
custo máximo de três dólares cada. Mas a população total desses 92 países é de
3,9 bilhões de pessoas.
Além
disso, os acordos unilaterais dos países ricos com as empresas farmacêuticas
reduzem as quantidades disponíveis no mercado. Ao contrário, os países pobres
dependerão exclusivamente dos programas de distribuição internacional. É
necessário um empurrão moral para que as suas esperanças não sejam frustradas.’
Fonte : *Artigo na íntegra https://domtotal.com/periscopio/2285/2020/12/vacina-os-pobres-serao-excluidos/
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