*Artigo
de Marta Arrais,
cronista
‘Há
qualquer coisa de sagrado no coração de cada um. É como se todos tivéssemos uma
capela interna para onde podemos correr quando tudo nos desarma.
Ali,
onde todas as nossas histórias, lutas, verdades e mágoas se guardam é terreno
movediço. Nem todos nós podemos orgulhar do que guardamos dentro do peito. Há
finais felizes e sonhos cumpridos, mas também dramas por chorar, episódios que
ainda precisam do carimbo do perdão ou raivas que acordariam qualquer monstro.
Quando
deixamos que alguém reze a sua vida na nossa, estamos a permitir que entrem no
nosso espaço mais precioso. Estamos a permitir que entrem na nossa capelinha
privada.
No
entanto, apercebo-me da nossa falta de querer deixar que os outros nos
conheçam, nos invadam, nos desarrumem. Preferimos uma capelinha limpa de
presenças, mas segura e sem riscos. Achamos que sabemos sempre quem vem por Bem
ou por Mal, mas não. Não sabemos. E a alternativa a isso não poderá ser :
fechar as portas a todos.
No
mês de desembrulhar o presépio e de o trazer à luz das coisas com importância,
valerá a pena varrer a nossa capelinha de medos, orgulhos, arrogâncias ou
superioridades e semear espaço para o que o Céu nos quiser dar.’
Fonte
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