*Artigo
da Radio Vaticano
‘A
história conhece Bento XV (papa de 1914 a 1922) como o papa que chamou a guerra
de ‘massacre inútil’. Célebre expressão com a qual definiu dolorosamente
o absurdo da Primeira Guerra Mundial, depois de muitos apelos à paz e esforços
para mediação. Mas Bento XV pode também, como todo direito, ser recordado como
o ‘Papa das Missões’, pois graças às suas inúmeras iniciativas que o
anúncio do Evangelho retomou um impulso já durante a guerra e principalmente
depois do desastre bélico. A ação de Bento XV levou as Igrejas locais,
divididas e agravadas pelos sentimentos nacionalistas fomentados pelo conflito,
a recuperarem em uma visão universal, e com novo dinamismo, o mandato de Jesus
aos discípulos : ‘Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda a
criatura’.
Grande visão
A
Carta Maximum illud, assinada em 30 de novembro de 1919, é o
instrumento com o qual o papa se serve para abrir novos horizontes. Na realidade,
o terreno sobre o qual amadurecem as páginas do documento, revelam a capacidade
de ver e providenciar à Orbe sem sair da Urbe. As provas são a instituição do
Dia Mundial do Migrante e Refugiado (1915) e a criação da Congregação para as
Igrejas Orientais (1917).
Missões além das
fronteiras
Alguns
estudos ligam a criação da Carta Apostólica a situação do início do século 20
quando aumentavam os riscos, na Europa e na Ásia, de expulsão dos missionários
que estavam em campo. Mais uma vez o motivo é o nacionalismo que se espalha,
por isso, por exemplo, os missionários alemães tornam-se pessoas indesejáveis
na Inglaterra. Ou são os sentimentos anti-colonialistas que, principalmente no
Oriente, acreditam que a ação missionária sirva os interesses das potências
ocidentais e portanto é uma presença a ser erradicada. Propaganda Fide
conserva numerosas correspondências da época que contam o quanto era grande a
preocupação neste sentido. Preocupação que Bento XV conhece muito bem.
‘Recordai-vos
que não deveis difundir o reino dos homens, mas o de Cristo; não vos compete
aumentar o numero de cidadãos para a pátria terrena, mas para a pátria celeste’.
Carta profética
Em
2017 o papa Francisco destacou que a Carta que nasceu deste e outros
pensamentos tem um ‘espírito profético e franqueza evangélica’ bem mais
amplas do que as contingências nas quais foi concebida. No início do texto
Bento XV cita o nome de alguns grandes apóstolos que levaram o Evangelho nos
continentes e não esconde uma certa surpresa em constatar que ‘apesar dos
exemplos de fortaleza’, o número dos batizados não somariam ‘um bilhão’.
Por isso, decide articular o documento em três partes. Na primeira dirige-se
aos que têm a responsabilidade principal do anúncio : os bispos, os vigários
apostólicos, os superiores religiosos. O papa estimula-os ao ‘zelo exemplar’
para que todos seus colaboradores percebam uma proximidade cheia de ‘bondade
e caridade’. Ao contrário, desonra o comportamento dos que considerassem a
missão que lhe fora confiada ‘como propriedade exclusiva, com inveja que
outros a toquem’.
Casa de todos os povos
Na
segunda parte, Bento XV recorda, com particular sagacidade, que o missionário
deve ter no coração principalmente o ‘bem espiritual’ das pessoas às
quais anuncia Cristo, porque, sustenta, as populações que não conhecem o
Evangelho identificam perfeitamente a presença de interesses que não sejam
apostólicos. Por fim, na terceira parte, o papa da Igreja pede aos simples
fiéis o apoio da oração, a única verdadeira coluna de toda a experiência de
missão. Mas toda a Carta poderia ser sintetizada em uma frase, válida
para todas as épocas, como revelou o papa Francisco :
‘A Igreja de Deus é universal, e portanto não é
estrangeira para nenhum povo’.’
Fonte
:
* Artigo na íntegra https://domtotal.com/noticia/1406699/2019/12/maximum-illud-a-igreja-nao-e-estrangeira-para-nenhum-povo/
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