Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo de Dom Walmor Oliveira de Azevedo,
Arcebispo
Metropolitano de Belo Horizonte, MG
‘O
compromisso de partilhar o dom da vida, dádiva sagrada de Deus, é o horizonte
para responder a esta questão : ‘por que
servir mais?’. A medida dessa oferta se alarga, sem limites, para o cristão
na incansável missão de contribuir para a edificação de uma sociedade fraterna
e solidária. Temos, assim, um longo caminho a percorrer, de diálogos e
reflexões, no interno da Igreja, e da Igreja com a sociedade, junto aos irmãos
bispos, que me confiaram a missão de presidir a Conferência Nacional dos Bispos
do Brasil (CNBB), e com o apoio do povo de Deus. O exemplo é sempre Jesus Cristo, que entrega
sua vida para que todos tenham vida, e não dispensa seus discípulos de se
dedicarem a fazer o bem. O grande desafio : o seu seguimento.
O
porquê dessa pergunta - ‘por que servir
mais?’ - se desdobra, ainda, em outro questionamento : ‘Para que servir mais?’. As urgências da
vida, que é dom, exigem providências, respostas, e as comodidades não podem
adiá-las. Indicam que o bem, a verdade, a justiça e o amor não podem esperar o
amanhã. É preciso encontrar as respostas logo, se comprometer. Ter a necessária
disposição para enfrentar sacrifícios, o que exige abrir mão das vaidades, e
coragem para além de todo medo, por saber a dimensão do desafio que se
apresenta. É preciso trabalhar para a recomposição dos tecidos esgarçados dos
relacionamentos e dos funcionamentos da sociedade, em razão das grandes
mudanças e das polarizações, para encontrarmos o caminho do respeito, sobretudo
da fidelidade aos valores do evangelho. E sem as generosidades, sem a presença
incondicional e plena, os projetos e as instituições não se sustentam nem se
impulsionam. Sobretudo quando a busca é qualificar as condições de servir e de
promover a existência de todos, com especial e urgente atenção aos mais pobres,
às vítimas das indiferenças e das violências - tudo o que a vida, dom sagrado,
exige para ‘ontem’.
No
horizonte dessas urgências, a cultura contemporânea submerge numa avalanche de
complexas mudanças, com essa preocupante configuração de polarizações e
extremismos. Realidade que mostra a falta de clarividência, gerando até
exigências de tratamento criminal para as incivilidades e desrespeitos à
sacralidade da vida. Assim, conjugando-se mediocridade e comodidade, arrisca-se
a desistir da missão de servir.
Por
razão de fé e cidadania, a comodidade e a indiferença não devem prevalecer
sobre as necessidades da vida, que não pode perder a sua inteireza. Torna-se
urgente servir mais, oferecer o que se pode a mais, incluir sacrifícios,
elevando a altos níveis o altruísmo, que não pode faltar no coração de cada
pessoa. A vida só alcança a qualidade de dom na medida em que esse dom é vivido
como oportunidade de servir e ser operário de uma construção social, política,
cultural e religiosa, sobre os alicerces da verdade, justiça e do amor.
Põe-se
aqui relevante questão ética no sentido de balizar ações, conceitos, e suas
consequências : a responsabilidade de cada indivíduo ante a seriedade de suas
posições, escolhas e pronunciamentos, pois a complexidade do momento pode gerar
medos e acovardar posturas. Quando se decide por ‘servir mais’ é imprescindível pensar, corajosamente, sobre a
oportunidade de se trabalhar por um novo momento civilizatório, considerando a
importância de uma ampla reconstrução sócio-cultural-antropológica.
Urge,
pois, a configuração de um novo momento. Este é possível! Requer coerência e
destemor, ancorados na fidelidade ao Evangelho de Jesus Cristo, numa vida com
força testemunhal e irretocável credibilidade, avançando na direção do bem e da
verdade. Presidir a CNBB é uma missão especial, pois somos bispos, chamados por
Jesus Cristo, para ajudar a humanidade a se abrir ao amor de Deus. Nosso
compromisso é servir sempre mais. Vale relembrar as palavras de São Martinho de
Tours : se precisam de mim, não recuso trabalho.’
Fonte
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