Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo
de Fabrício Veliq,
teólogo
protestante
Esse
tipo de visão, por sua vez, é sempre fomentada pelos diversos filmes e séries
que são produzidas, principalmente, a respeito da vida de Jesus, em que o
colocam como um super homem, que não sente dor, nunca ia ao banheiro, nunca ficava
bravo com as situações, estava sempre sorrindo e parecia que caminhava sobre
nuvens para não tocar as ruas de Jerusalém contaminadas com o pecado.
Com
isso, pensa-se um Jesus totalmente diferente do ser humano e a santidade como
algo que não é tangível no dia a dia. Ligar santidade com reclusão ou
abstinência é tão comum que, na maioria das vezes, quando se pede para imaginar
um santo ou uma santa, não se pensa em alguém do cotidiano, mas, sim, em alguma
espécie de asceta vivendo nas montanhas e contemplando as coisas espirituais.
No
entanto, é preciso entender que a santidade está totalmente ligada ao conceito
de encarnação, de maneira que compreender este é imprescindível para se
compreender aquela, o que implica estar atento ao fato de que por meio da
encarnação o santo entra no profano, santificando o que antes era chamado
assim. Dessa forma, a encarnação vem nos mostrar que a santidade é algo que
deve ser feita e vivida no cotidiano de cada um, uma vez que não há mais
separação entre um Deus que vive no céu e os seres humanos que estão aqui
embaixo aguardando para serem ouvidos. A encarnação mostra que Deus se faz
presente conosco, na vida hodierna e, assim, demanda daqueles e daquelas que
dizem ser seus seguidores, que vivam uma vida como a que Jesus viveu.
Ver
Jesus como homem que se abriu inteiramente ao próximo e como alguém que se
abriu inteiramente a Deus é imprescindível para compreender que a santidade
vivida por ele é também possível de ser vivida por nós. Tirar a humanidade de
Jesus, colocando sobre ele um plus que o permitia viver em santidade é,
automaticamente, negar a própria encarnação como evento em que Deus assume
inteiramente a humanidade.
Ser
santo, que quer dizer ser separado, não é algo intangível ou somente para
algumas pessoas. Retirar dessa palavra a aura de intangibilidade que foi
colocada sobre ela é necessário caso se queira que as pessoas que se dizem
seguidoras de Jesus possam realmente compreender que ser santo é se abrir para
o que tem fome, sede, ou qualquer tipo de necessidade humana, revelando a ela o
amor de Deus pelo qual fomos alcançados e que se reflete numa ação efetiva para
com os que sofrem.
Abrir-se
inteiramente para o próximo é um reflexo direto de que essa pessoa também se
abriu inteiramente a Deus, não podendo o segundo ser verdadeiro se o primeiro
for mentira, como bem disse João em uma de suas cartas : ‘Se alguém afirmar : ‘Eu amo a Deus’, mas odiar seu irmão é mentiroso,
pois quem não ama seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê.’
(1 Jo 4:20).
Desmistificar
a ideia de santidade é algo urgente em nossos dias, principalmente em ambientes
em que se crescem os discursos fundamentalistas que ligam santidade a
cumprimento de ordens. Assim, podemos dizer que amar continua sendo a maior
prova de santidade para o mundo e somente por meio do amor é possível que o
mundo reconheça que somos discípulos de Jesus Cristo (cf. Jo 13,35).’
Fonte
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