Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo
de Fabrício Veliq,
teólogo
protestante
‘A
humanidade de Jesus foi um dos grandes problemas que o cristianismo nascente no
século 1º teve que enfrentar. De início, em sua luta contra o pensamento
judaico e sua expectativa messiânica, considerava impossível que o Messias
morresse em uma cruz que o tornasse maldito. Isso porque um senhor crucificado
estava bem distante do rei que era esperado no tempo de Jesus.
Mais
tarde, com a pregação do Evangelho chegando aos gentios, novos problemas começaram
a surgir. Afinal, como justificar para os pagãos que o Deus de toda terra
estava se misturando, na encarnação, com a matéria do mundo, que aos olhos de
várias culturas daquele período era vista como, até mesmo, origem do mal?
E
os problemas não pararam por aí. A cada novo período surgiam novas demandas, de
maneira que a fé cristã foi levada a pensar e repensar seus dogmas a fim de
responder essas novas questões. São a partir delas que diversas verdades
cristãs começam a tomar forma, tais como a Trindade, a própria encarnação, as
naturezas humana e divina de Cristo, a ação e vida do Espírito Santo etc., o
que mostra que toda teologia séria sempre deve estar atenta às perguntas que
lhe são feitas para poder, a partir delas, propor respostas que vão ao encontro
a essas perguntas.
Embora
dogmaticamente esteja resolvida a questão da encarnação, sendo ensinada em
diversas escolas dominicais e catequeses do mundo, ainda é muito comum se ouvir
ideias estranhas a respeito dessa temática.
Uma
das mais comuns é a ideia de que Jesus só fez aquilo que fez porque era Deus
encarnado. Como consequência, não tem como ninguém ser como ele foi e fazer o
que fez, já que ele era perfeito. Contudo, essa fala - que pode muito bem ser
usada como desculpa para não se viver o Evangelho – traz em seu cerne algo
muito complicado que compromete a própria encarnação. Se Jesus só pôde fazer as
coisas que fez porque era Deus encarnado, então, até que ponto realmente
assumiu a humanidade em sua integralidade? Esse ‘a mais’, que é a única coisa que permite que ele viva da forma que
viveu, e que não é acessível aos outros humanos, não faria da encarnação
somente um grande teatro no qual Jesus apenas atuava como humano?
Assumir
a premissa de que Jesus só fez o que fez por ser Deus encarnado causa um grande
problema. O que se está dizendo com isso é que ninguém pode imitar seus passos.
Se assim o for, a fala de Paulo ‘sede
meus imitadores como eu sou de Cristo’ traz como consequência duas opções :
ou Paulo é um mentiroso (uma vez que ninguém conseguiria imitar Jesus), ou
aquilo demandado de seus seguidores é inatingível e, nesse sentido, Paulo seria
um hipócrita por exigir algo assim.
Isso
nos leva a concluir que se assumimos a encarnação como regra de fé, então é
necessário também assumir que Jesus viveu, pensou e agiu como humano que era,
ou seja, como judeu que vivia na Galileia do século 1º, sofrendo e se alegrando
como qualquer pessoa naquele tempo. Em outras palavras, implica assumir a
radicalidade da própria encarnação.
Tirar
o aspecto mágico que é colocado sobre a encarnação se mostra, então, como
tarefa necessária para seguir a proposta de Jesus, que consiste em se abrir
totalmente a Deus e totalmente ao próximo, revelando nisso o amor de Deus e o
próprio Deus. Ao mesmo tempo, isso leva o cristão a repensar seu comportamento
frente ao mundo e o implica no compromisso de tentar andar como Jesus andou,
sem a desculpa de que ele só conseguiu se abrir totalmente ao próximo e a Deus
porque era o próprio Deus.
Diante
disso, ao invés de se pensar que não é possível ser como Jesus porque ele é
Deus, como cristãos e cristãs precisamos a cada dia tentar ser como Jesus foi e
seguir seu exemplo nas pequenas coisas, assumir a carne do mundo, sofrer com os
que sofrem e alegrar com os que se alegram, mostrando, assim, a beleza do amor
e da graça divina que, em Jesus, revelou quem Deus é e como o ser humano
deveria ser.’
Fonte
:
* Artigo na íntegra https://domtotal.com/noticia/1360043/2019/05/a-humanidade-de-jesus-como-problema-e-desculpa/
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