Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
O primeiro socorro às vítimas,
após o atentado na igreja de São Sebastião, no Sri Lanka,
no Domingo de Páscoa. (ACN Portugal)
*Artigo
da revista Sete Mares
‘É
evidente que existem correntes anti-semitas um pouco por todo o lado, na linha
duma malfadada tradição milenar, mas que foi agravada nas últimas décadas, em
particular a partir do nazismo. Os judeus são, de fato, um povo especial, e a
história mostra de forma recorrente que pagaram um preço elevado pela sua
singularidade, com perseguições, expulsões e execuções em massa. Mas decerto
que a animosidade contra os judeus se deve hoje, em grande parte, à atuação
política do moderno estado de Israel, em particular na difícil convivência com
os palestinos.
O
islã também se pode queixar do passado. Sendo uma religião de vocação
universalista, tal como o cristianismo – ao contrário do judaísmo –, ambas
teriam que chocar entre si, inevitavelmente, com vista ao desígnio da sua
expansão. Mas hoje a islamofobia cresceu exponencialmente pela mão da
extrema-direita, dos nacionalismos e dos supremacistas brancos no mundo
ocidental, em resultado dos populismos que se vão instalando paulatinamente e
da problemática dos refugiados e migrantes.
Consta
que em dez meses foram queimados onze templos cristãos em França. A verdade é
que a investigação do Pew Research Center publicado em Julho de 2018 e
referente à situação em 2016, ‘os cristãos são o grupo religioso com
mais restrições em todo o mundo, em termos absolutos’. Nesse ano
registaram-se restrições e assédio em 144 dos 198 países analisados. Só depois
surgem os muçulmanos, que viram a sua atividade religiosa limitada e que foram
alvo de assédio em 142 países.
Sendo
o cristianismo a maior religião do mundo em termos de fiéis, não admira que
sejam igualmente os mais perseguidos. Segundo Nelson Jones, autor do blog Heresy
Corner, citado por Alexandre Martins, pela mesma lógica, seria de esperar que
os muçulmanos fossem o segundo grupo mais perseguido. E de fato é isso que se
depreende dos números do Pew Research Center : ‘O assédio aos membros
dos dois maiores grupos religiosos – cristãos e muçulmanos – por governos e
grupos sociais continua a ser generalizado em todo o mundo, e ambos foram alvo
de um aumento do número de países que os assedia em 2016.’
Mas
o terceiro grupo religioso mais perseguido em todo o mundo é o judaísmo, o que
é estranho tendo em conta a sua reduzida expressão numérica. Julga-se que os
judeus representem apenas 0,2% da população mundial, em comparação com 31% de
cristãos e 24% de muçulmanos. Portanto, os judeus continuam a ser o grupo
religioso mais perseguido, em termos relativos, dada a sua população.
O
conjunto dos ataques perpetrados por bombistas suicidas cingaleses no Sri Lanka
contra igrejas cristãs (católicas e protestante), assim como em hotéis, terão
uma leitura mais política visando a indústria do turismo. O grupo extremista
islâmico local Thawahid Jaman já era conhecido pela autoria de atos de
vandalismo contra símbolos da maioria budista do país. Contudo, diga-se que
muito do que é identificado como perseguição religiosa não é mais do que luta
pelo poder, onde a religião funciona apenas como pretexto ou catalisador
emocional.
Mas
a resposta das comunidades cristãs locais é de paz e perdão. Segundo a revista
americana Relevant, mesmo face a esta terrível tragédia, o pastor
da Igreja de Zion (protestante), Roshan Mahesan, diz que perdoa os homens-bomba
responsáveis pelos ataques do Domingo de Páscoa. Numa mensagem em vídeo, o
pastor Roshan declarou : ‘Estamos feridos. Também estamos zangados, mas
ainda assim, como pastor titular da Igreja de Sião Batticaloa, toda a
congregação e toda a família afetada, dizemos ao homem-bomba, e também ao grupo
que o enviou, que os amamos e perdoamos. Não importa o que tenham feito, nós
amamo-vos porque cremos no Senhor Jesus Cristo’.
O
deputado Abraham Sumanthiran resolveu fazer também uma importante declaração de
fé : ‘Eu sou cristão e compartilho da tristeza da igreja cristã no Sri
Lanka neste momento. Cremos em Jesus Cristo, que veio a este mundo, sofreu como
nós e levou o pior do mal para si e foi crucificado injustamente. Mas ele
derrotou todo o mal através do amor sacrificial, que é o que celebramos na
Páscoa – o dia da ressurreição’.O sentimento é que, ainda que a população
esteja em sofrimento, não quer entregar-se ao ódio e vingança. De igual modo, o
padre Jude Fernando, que oficiava numa das igrejas atacadas, declarou : ‘Nós
amamos a paz. Nós perdoamos. O nosso Deus é um Deus de paz, e não de vingança. Nós
vos amamos e perdoamos’.
Este
é o caminho.’
Fonte
:
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