‘‘Creio que a consciência da história do cristianismo no Oriente Médio – hoje Iraque – não seja uma mera extravagância cultural, mas sim uma abordagem que permite compreender as razões e os eventos dramáticos desta região, de apreciar a sua vida e a sua cultura, assim como os testemunhos de fé e as motivações que estão por trás do apego dos cristãos por esta terra’. Assim expressou-se o Prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos, Cardeal Fernando Filoni, ao pronunciar-se esta quarta-feira, 17, em Budapest, na Conferência Acadêmica sobre os impactos religiosos da imigração nas sociedades europeias.
Livro sobre a Igreja Caldeia
O Prefeito do Dicastério missionário falou sobre o tema ‘A Igreja no Iraque : história, desenvolvimento e missão, desde o início aos nossos dias’, visto que é autor de um livro sobre o tema, atualmente em tradução para o inglês, espanhol e árabe. O objetivo da obra é ‘chamar a atenção para a bela história nesta antiga Igreja oriental, conhecida como Igreja caldeia’, e sobre a qual ainda não havia sido escrita uma história completa.
Na Mesopotâmia, em 100 anos, os cristãos passaram de 15% a menos de 2%
A Igreja no Iraque tem as suas raízes em uma ‘pequena, antiga comunidade cristã, que há dois mil anos vive na região da Mesopotâmia’, explicou o Cardeal Filoni em seu pronunciamento. ‘Nesta região, há cem anos, os cristãos representavam 15% da população total. Hoje estão entre 1% a 2%. Desde o tempo do Genocídio Armênio (1,2 milhões de vítimas) e o assassinato de 250 mil caldeus, armênios e sírios, quer católicos como ortodoxos, teve início um êxodo dos povos da região, e estas migrações de massa aceleraram até os nossos dias, provocadas pelas guerras, discriminações, falta de coexistência pacífica e de trabalho’.
Ausência de paz é a razão do êxodo bíblico das populações do Oriente Médio
O Cardeal Filoni, que viveu por muitos anos no Oriente Médio e em 2014 foi enviado ao Iraque pelo Papa Francisco como representante pessoal, concentrou seu pronunciamento no fenômeno migratório, sublinhando que ‘as sociedades europeias nunca foram um ‘unicum’. Não o eram ontem, não o são hoje e não o serão amanhã. A Europa é mais parecida com um recipiente...’. Não obstante as diversidades, três fatores desenvolveram um papel unificante na Europa : a religião, o conceito de direito ligado à pessoa, a beleza e a arte. ‘O motivo profundo que levou a um êxodo de proporções bíblicas das populações do Oriente Médio em direção à Europa é a ausência de paz’, evidenciou o Cardeal, reiterando que ‘cada um tem o direito de viver em paz, que representa a mais alta das aspirações. Todas as grandes emigrações tiveram início com a guerra.’’
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