*Artigo
de Padre Bernardino Frutuoso,
Missionário Comboniano
‘No
mundo hodierno globalizado que, como dizia Bento XVI, nos faz vizinhos, mas não
irmãos, a cultura dominante orienta-se pela lógica do poder e manifesta-se no
dano à Natureza, na dominação dos povos – muitas vezes recorrendo à força das
armas, um dos grandes negócios globais – e no controlo dos mercados. Uma
cultura da «modernidade líquida»,
como bem a descreve o sociólogo polaco Zygmunt Bauman, que gera solidão,
egoísmo, insegurança, medo, indiferença. Nesse sentido, é sugestivo o tema da
mensagem do Papa Francisco para a 49.ª Jornada Mundial da Paz – Vence a
indiferença e conquista a paz –, comemorada no dia 1 de Janeiro. O texto alerta
a todas as pessoas de boa vontade para o fenômeno da «globalização da indiferença», interpelando-as a superar essa «anestesia», fazendo-se próximas dos
irmãos e irmãs, sobretudo os mais pobres e marginalizados, e a construir a paz
em chave de misericórdia, que é «o
coração de Deus» e condição fundamental do Evangelho.
O papa recorda que «a primeira forma de indiferença na sociedade
humana é a indiferença para com Deus». Essa perda do sentido místico e da
consciência de que temos um Pai comum, Senhor da vida e criador do Universo, é
a causa primeira de onde deriva a indiferença para com o próximo e com a
Natureza, a nossa casa comum.
No espírito do
Jubileu da Misericórdia, o papa – que tem marcado o seu pontificado pela
revolução do amor e da misericórdia, como afirma o cardeal alemão Walter Kasper
–, lança um tríplice apelo às nações mais poderosas. Primeiro, a não arrastarem
outros povos para a guerra ou conflitos que «destroem não só as suas riquezas materiais, culturais e sociais, mas
também a sua integridade moral e espiritual»; segundo, «o cancelamento ou a gestão sustentável»
da dívida internacional dos países mais empobrecidos; terceiro, a adopção de
«políticas de cooperação» que não se submetam «à ditadura das ideologias», mas respeitem os valores das populações
e procurem o autêntico bem dos povos. Francisco pede aos Estados que realizem «gestos concretos, atos corajosos a bem das
pessoas mais frágeis da sociedade, como os reclusos, os migrantes, os
desempregados e os doentes».
Os seguidores de
Jesus Cristo, afirma o Sumo Pontífice, somos chamados a converter o coração, a
reconhecer como se manifesta a indiferença na nossa vida pessoal e na
comunidade a que pertencemos. Esse exame de consciência deve impelir-nos a
mudar a mente e o coração e, em fidelidade à opção evangélica preferencial
pelos pobres, que são uma «porta santa»
para os cristãos, «fazer do amor, da
compaixão, da misericórdia e da solidariedade um verdadeiro programa de vida,
um estilo de comportamento nas relações de uns com os outros». Só quando
construímos uma autêntica cultura de paz podemos vencer a indiferença.’
Fonte :
* Artigo na íntegra http://www.alem-mar.org/cgi-bin/quickregister/scripts/redirect.cgi?redirect=EuVkpZlAkEWFMJifPh
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