*Artigo
de Padre Bernardino Frutuosa,
Missionário Comboniano
‘Há
uns anos, quando cheguei a Bogotá, capital da Colômbia, percebi de maneira
paradigmática a questão da desigualdade. Os ricos vivem no Norte da cidade, em
luxuosas vivendas. Separados da maioria da população, indiferentes ao mundo que
os rodeia, muitos não conhecem a zona sul, onde se concentra a multidão dos
empobrecidos, os deslocados, os desfavorecidos. Ali, sobrevivem em condições
paupérrimas, sem sonhos de um futuro melhor.
Podemos
extrapolar, facilmente, esta realidade local da desigualdade para a escala
global. Thomas Piketty, economista francês e autor do êxito de vendas O Capital no século XXI, documenta, nas
quase 700 páginas do livro, como a desigualdade se realiza por meio da atividade
financeira de carácter especulativo e o capital herdado, que está a crescer e a
criar uma oligarquia. A tese do autor sublinha que a desigualdade não é um
acidente, mas uma característica do capitalismo.
Em Janeiro, a ONG
Oxfam divulgou os últimos dados sobre a desigualdade. Nos últimos cinco anos, o
patrimonio dos 62 multimilionários do planeta aumentou 44%. Simultaneamente, o
rendimento das camadas mais pobres da população caiu 41%. No ano passado, a
riqueza acumulada por 1% da população mundial superou a dos restantes 99%.
Diferença abissal, que nos assinala como a riqueza se concentra nas mãos de uma
pequena elite.
Para os crentes,
esta situação de desigualdade é um pecado social, como refere o Pensamento
Social da Igreja. O Papa Francisco, na mensagem que dirigiu aos participantes
na 46.ª edição do Fórum Economico Mundial (Davos, Suíça, 20-23 de Janeiro) pede
aos responsáveis internacionais que «dêem
vida a novos modelos empresariais que, ao promover o desenvolvimento de
tecnologias avançadas, sejam também capazes de as utilizar para criar um
trabalho digno para todos, apoiar e consolidar os direitos sociais e proteger o
meio ambiente». Segundo dados divulgados no Fórum de Davos, a chamada
quarta revolução industrial – assente em sistemas ciberfísicos – implicará a
perda de cinco milhões de empregos nos próximos cinco anos. Serão os pobres os
mais afetados, pois dependem em grande medida da renda obtida pelo seu
trabalho.
A redução das
desigualdades só é viável se existe uma luta concentrada, como refere a Oxfam,
contra os paraísos fiscais e se onera o capital no âmbito internacional e as
rendas altas. Thomas Piketty defende que os excessos só podem ser alterados por
meio da intervenção estatal, ao estabelecer taxas sobre a riqueza em todo o
planeta. Um capital que poderia ser posto ao serviço do bem comum, pondo em
prática políticas de desenvolvimento com rosto humano.
Começamos a
Quaresma. É tempo de conversão. Francisco, na mensagem ao Fórum de Davos,
deseja que a «cultura do bem-estar»
não «anestesie» os mais favorecidos,
recordando a necessidade de «chorar
diante do drama dos outros», sobretudo quando as próprias ações são «causa de injustiça e desigualdade». Este
é o tempo propício para, como família humana, superarmos a «globalização da indiferença» e construirmos um mundo mais
justo e fraterno.’
Fonte :
* Artigo na íntegra http://www.alem-mar.org/cgi-bin/quickregister/scripts/redirect.cgi?redirect=EuVuylEkEpQiOJvbfk
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