terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

O escândalo da desigualdade

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo de Padre Bernardino Frutuosa,
Missionário Comboniano

Há uns anos, quando cheguei a Bogotá, capital da Colômbia, percebi de maneira paradigmática a questão da desigualdade. Os ricos vivem no Norte da cidade, em luxuosas vivendas. Separados da maioria da população, indiferentes ao mundo que os rodeia, muitos não conhecem a zona sul, onde se concentra a multidão dos empobrecidos, os deslocados, os desfavorecidos. Ali, sobrevivem em condições paupérrimas, sem sonhos de um futuro melhor.

Podemos extrapolar, facilmente, esta realidade local da desigualdade para a escala global. Thomas Piketty, economista francês e autor do êxito de vendas O Capital no século XXI, documenta, nas quase 700 páginas do livro, como a desigualdade se realiza por meio da atividade financeira de carácter especulativo e o capital herdado, que está a crescer e a criar uma oligarquia. A tese do autor sublinha que a desigualdade não é um acidente, mas uma característica do capitalismo.

Em Janeiro, a ONG Oxfam divulgou os últimos dados sobre a desigualdade. Nos últimos cinco anos, o patrimonio dos 62 multimilionários do planeta aumentou 44%. Simultaneamente, o rendimento das camadas mais pobres da população caiu 41%. No ano passado, a riqueza acumulada por 1% da população mundial superou a dos restantes 99%. Diferença abissal, que nos assinala como a riqueza se concentra nas mãos de uma pequena elite.

Para os crentes, esta situação de desigualdade é um pecado social, como refere o Pensamento Social da Igreja. O Papa Francisco, na mensagem que dirigiu aos participantes na 46.ª edição do Fórum Economico Mundial (Davos, Suíça, 20-23 de Janeiro) pede aos responsáveis internacionais que «dêem vida a novos modelos empresariais que, ao promover o desenvolvimento de tecnologias avançadas, sejam também capazes de as utilizar para criar um trabalho digno para todos, apoiar e consolidar os direitos sociais e proteger o meio ambiente». Segundo dados divulgados no Fórum de Davos, a chamada quarta revolução industrial – assente em sistemas ciberfísicos – implicará a perda de cinco milhões de empregos nos próximos cinco anos. Serão os pobres os mais afetados, pois dependem em grande medida da renda obtida pelo seu trabalho.

A redução das desigualdades só é viável se existe uma luta concentrada, como refere a Oxfam, contra os paraísos fiscais e se onera o capital no âmbito internacional e as rendas altas. Thomas Piketty defende que os excessos só podem ser alterados por meio da intervenção estatal, ao estabelecer taxas sobre a riqueza em todo o planeta. Um capital que poderia ser posto ao serviço do bem comum, pondo em prática políticas de desenvolvimento com rosto humano.

Começamos a Quaresma. É tempo de conversão. Francisco, na mensagem ao Fórum de Davos, deseja que a «cultura do bem-estar» não «anestesie» os mais favorecidos, recordando a necessidade de «chorar diante do drama dos outros», sobretudo quando as próprias ações são «causa de injustiça e desigualdade». Este é o tempo propício para, como família humana, superarmos a «globalização da indiferença» e construirmos um mundo mais justo e fraterno.’


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