*Artigo de Dom Walmor Oliveira de Azevedo,
Arcebispo Metropolitano de
Belo Horizonte, MG
‘A
pluralidade ideológico-partidária é um vetor de grande importância para
alimentar as dinâmicas que provocam reflexões, discernimentos e escolhas na
construção da sociedade. A política partidária, assim, é constitutiva do tecido
democrático, porém, neste momento, se desenvolve sem o respaldo de uma cultura
político-cidadã consistente, com capacidade para sustentar os embates pautados
pelo inegociável compromisso com o bem comum. A responsabilidade com o país não
pode ser jamais negociada por interesses mesquinhos e por esquemas de
corrupção. Para além de sua competência
específica, os políticos são cidadãos como todos os outros, alimentados no
horizonte de uma mesma sociedade, portanto filhos iguais da mesma cultura. Se essa cultura cidadã, que é básica, está
comprometida, será sofrível o nível da política partidária.
A
falta de envergadura nos exercícios políticos, ao se constatar equívocos em
administrações, mediocridades em representações e obscuridades, evidencia
desajustes nessa cultura cidadã. Assim, é indispensável investir num novo
tecido político para subsidiar uma cidadania que consiga produzir líderes mais
nobres, capazes de abrir frentes e encontrar novas respostas, ajudando no
avanço inadiável de instituições e instâncias todas da sociedade. É necessário
cultivar uma consistência nova que sustente a cidadania na sociedade
brasileira. Esgotou-se a tentativa muito comum, ante os desarranjos da
política, de alguém se apresentar no cenário político partidário como ‘salvador da pátria’, com soluções quase
mágicas para os muitos problemas.
A
política partidária, ao cair nas mazelas dos interesses mesquinhos pela sedução
terrível do dinheiro e do poder, perde a moral e compõe um cenário rejeitado
pela população. Candidatos, quando eleitos, com pouco tempo expõem suas
fragilidades e inércias. Exercem responsabilidades, quando o fazem, a ‘passo de tartaruga’. E, no período
eleitoral, começa a mesma cantilena partidária. Falta uma dinâmica mais
adequada para o exercício da política, o que agrava crises por carência de
líderes lúcidos e competentes. Tudo se resume num falatório e em discussões sem
força para mudar cenários ou para alcançar respostas assertivas. Há de se considerar o investimento diuturno
em busca de um tecido político mais qualificado na sociedade brasileira. Agora é hora oportuna, no enfrentamento das
crises, para se abrir um novo horizonte, superar vícios e procedimentos que,
mantidos, impedirão transformações importantes e na velocidade esperada. Sem
essas mudanças, a sociedade continuará a amargar atrasos e a perda de
oportunidades para seu esperado crescimento.
O
investimento em educação, sem dúvida, é um ponto de grande relevância, mas não
basta somente investir no ensino formal. A intervenção precisa ser mais
abrangente, no âmbito da cultura. Nessa dimensão, muitos aspectos merecem
análises para serem modificados. Sabe-se que não basta apenas ser detentor de
conhecimento. É preciso ser capaz de valer-se da riqueza das informações para
articulações de alta complexidade e, assim, alargar horizontes, acionar a
lucidez da inteligência que aponta soluções e a disposição cidadã de tudo fazer
para dar ao conjunto da sociedade o desenvolvimento almejado.
Exercícios
precisam ser praticados para que se avance no processo de melhorias do tecido
político. Um rosário de tarefas pode ser
apontado. Quando se considera os cenários de pobreza e miséria que desenham a
sociedade brasileira, é indispensável priorizar os clamores dos pobres, como
princípio e lei acima de normas vigentes, de direitos do Estado ou de defesa de
interesses particulares. Também é hora do empresariado investir em projetos
sérios, de credibilidade. É o momento dos agentes na política partidária
abrirem mão de benesses que estão na contramão das expectativas de seus
representados. Devem-se qualificar melhor, humanisticamente, para o exercício
da liderança. De um modo geral, são necessárias novas práticas cidadãs, o que
inclui respeitar tudo o que se relaciona ao bem comum. Não se avançará muito e
não se conseguirá superar os graves problemas deste momento se não se encontrar
o caminho, as dinâmicas, os modos e a boa vontade de todos para se constituir
um novo tecido político.’
Fonte :
* Artigo na íntegra de http://www.domtotal.com/colunas/detalhes.php?artId=5324
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