‘Profundos
cortes feitos com armas brancas, ferimentos à bala e sinais de violência sexual
são algumas das marcas que os imigrantes resgatados no mar Mediterrâneo que
desembarcam na Itália apresentam como mostra do que viveram nas mãos das
máfias.
Cicatrizes
que os médicos que atendem essas pessoas descobrem que foram feitas com maior
crueldade quando se trata de mulheres e crianças, que mal conseguem relatar o
que aconteceu porque as quadrilhas continuam com as ameaças e as vítimas têm
envergonha de falar dos abusos.
‘Encontramos muitos casos de torturas,
fraturas ósseas, ferimentos de faca, golpes de fuzil e danos neurológicos após
fortes impactos na cabeça. As mulheres e as crianças são as mais vulneráveis,
as que sofrem mais violência nas torturas e são muitas vezes vítimas da
exploração sexual, mas não dizem isso abertamente porque os criminosos as
perseguem e porque se envergonham de terem sido estupradas e agredidas’,
descreveu Anna Crepet, médica da organização Médicos sem Fronteiras, em
declarações à Agência Efe.
Muitas
mulheres, a maioria menores de idade, sobretudo vindas da Nigéria e do nordeste
africano foram prostitutas na Líbia durante muito tempo, até juntar dinheiro
suficiente para fazer a viagem pelo Mediterrâneo.
‘Muitas delas chegam grávidas e nem sabem. Só
descobrimos quando fazemos o exame. Depois nos dizem que foram estupradas.
Também há muitas crianças que sofreram violência’, ressaltou a médica.
Crepet
contou que já se deparou com casos muito graves nos quais ‘não importa se é menino ou menina para que apliquem violência sobre
eles. Quase todos os menores, e especialmente os que viajam sozinhos, chegam
com cicatrizes no tronco e marcas de tortura na cabeça e no rosto’.
A
médica relatou alguns dos casos mais difíceis que enfrentou, como o de um menor
que de tanto apanhar teve o tímpano perfurado e a história de uma menina de 15
anos que chegou com traumatismo craniano e danos neurológicos. ‘Temos um repertório de histórias horríveis’,
lamentou.
Horríveis
como as mortes nos últimos dias de dois jovens, um deles menor de idade, por
causa de maus-tratos das máfias : um deles era somali e tinha 15 anos. Morreu a
bordo do navio Dignity I da MSF após ser resgatado perto do litoral da Itália.
A segunda vítima era um jovem sudanês que faleceu por causa de diabetes
agravado pelas difíceis condições da viagem, conforme informou a Agência da ONU
para Refugiados (Acnur).
Para
a diretora do programa Itália-Europa da organização Save the Children, Raffaela Milano, o drama que milhares de menores
sofrem nos navios confirma a violência que passaram durante a permanência na
Líbia, de onde partem as embarcações.
‘Desde o começo ano, pelo menos 7.600 menores
não acompanhados chegaram à Itália, a maioria da Eritreia e da Somália, quase
sempre em condições críticas por causa da violência e dos abusos’,
acrescentou.
Crianças
e adolescentes contaram à ONG como ao longo de suas viagens - tanto nos países
que percorrem quanto na Líbia - foram obrigadas a trabalhar para juntar
dinheiro e conseguir entrar em um dos navios que partem rumo à Europa.
São
histórias como a de um adolescente de 16 anos forçado a colher frutas de
plantas com espinhos que machucavam as mãos e os braços e que os mafiosos
quebraram após baterem nele, ou a de outro garoto de 15 anos que quebrou dois
dedos depois de receber marteladas dos criminosos.’
Fonte :
* Artigo na íntegra http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/efe/2015/08/28/cicatrizes-dos-imigrantes-comprovam-crueldade-das-mafias.htm
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