‘Imigrantes
são estuprados, baleados e torturados em sua jornada para a Europa antes mesmo
de arriscarem a vida cruzando o Mediterrâneo, revela uma médica. Ao tratar de
homens, mulheres e crianças que chegam à Itália, Anna Crepet, dos Médicos sem
Fronteiras (MSF), se sente ‘em uma zona
de guerra’.
No
porto siciliano de Pozzallo, muitos imigrantes chegam com ferimentos que podem
ser fatais, mas que só são tratados quando estes alcançam segurança.
— Às vezes parece que estamos trabalhando em
uma zona de guerra, mas acho que é ainda pior, porque vemos casos que não
receberam tratamento por semanas — conta. — Vemos fraturas resultantes de espancamento, muitas feridas de tiros.
Encontramos balas nos músculos e sob a pele.
Ela
lembra de um homem que chegou à Sicília com um buraco de bala que atravessou
uma coxa e se alojou na outra perna. Mas algumas feridas são mais difíceis de
serem notadas. Crepet diz que grande parte das mulheres que fazem a travessia
de suas casas na África ou no Oriente Médio é estuprada no caminho, muitas
vezes chegando grávidas à Itália.
— Elas costumam falar muito pouco sobre o que
passaram, mas algumas vezes identificamos marcas do estupro — comentou. — Sabemos que a maioria das que chegam
sozinhas deve ter sido estuprada. E não são poucas que viajam assim.
Crepet
já ouviu relatos de tortura, de imigrantes sendo estuprados diante dos
familiares, fossem homens ou mulheres. Alguns com apenas 13 anos.
As
histórias são similares : sequestros, feitos reféns e espancados por gangues na
Líbia que exigem dinheiro. Mesmo antes de chegarem ao país, de onde muitos
barcos de traficantes partem em direção à Europa, pessoas originárias da África
subsaariana ou do Oriente Médio passam semanas em picapes superlotadas.
Para
a médica, o Saara é ‘uma das partes mais
fatais da jornada’, com muitos imigrantes sendo assassinados ou morrendo em
acidentes de carro ou de desidratação.
Ela
conheceu um eritreu que teve a perna amputada, após cair do caminhão e ser
atropelado. Um adolescente da Somália contou que quando seu grupo chegou à
Líbia foi sequestrado e cada um foi obrigado a pagar mais US$ 300. Uma das
mulheres, após ser solta, tentou se matar.
— Não podíamos falar entre nós e apanhávamos
constantemente — contou o jovem, que só foi solto após a mãe enviar o
dinheiro’.
Fonte :
* Artigo na íntegra de http://oglobo.globo.com/mundo/imigrantes-sao-espancados-torturados-estuprados-caminho-da-europa-17206786
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