quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Os 1.500 anos da Abadia de Saint-Maurice, 'um farol de fé'

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

St-Maurice, son abbatiale  

‘A Abadia São Mauricio de Agaunum (Saint-Maurice de Agauno), no Cantão suiço de Valais, celebra com um Ano Jubilar, a ser concluído em 22 de setembro – os 1.500 anos de fundação. Em 1º de agosto passado, acolheu o 95º abade de sua história, Jean Cesar Scarcella.

Foi por desejo do Rei dos burgúndios, Sigismundo – o primeiro rei bárbaro a converter-se ao cristianismo – que a Abadia de Saint-Maurice foi construída, em 22 de setembro de 515, sobre um maciço de rocha nos Alpes, em torno ao vale do Rio Rodão. Sigismundo, que sucedeu ao pai Gondebaudo em 516, fez da abadia uma meta de peregrinação para o seu povo, obrigado a segui-lo na adesão à nova fé. Talvez por isto, tenha escolhido o lugar em que, em 381, o Bispo de Martigny eregiu um primeiro santuário dedicado a acolher os restos mortais de São Maurício. Também Maurício era pagão, um general romano que, convertendo-se ao cristianismo, foi morto junto a todos os soldados da Legião Tebaica no final do século III, pois se recusava a oferecer sacrifícios ao imperador.


A mais antiga abadia da Europa Ocidental ocupada de modo permanente, desempenhou um papel fundamental na história da região. O centro monástico – não obstante o saque dos Longobardos em 574 – floresceu nos primeiros dois séculos de existência, com 500 monges que se alternavam dentro da Igreja para oficiar o rito da laus perennis. O ininterrupto louvor a Deus era o preço da expiação de seu fundador, Sigismundo, manchado pela morte do filho Sigerico. Esta forma de oração foi mantida até o século IX. No entanto, a presença dos monges começou a declinar, enquanto diversos terremotos, obrigaram a reconstrução dos prédios.

Reis e Imperadores arrogaram a sua posse na mudança das dinastias e das alianças políticas. O Rei dos francos, Carlos, o Calvo (840-877) a obtém por meio do tio materno Umberto, que a presenteou ao sobrinho Boson V de Provença. Em 888, foi coroado em Saint-Maurice o primeiro Rei da Borgonha, Rodolfo.

Entre 1103 e 1147, Amadeu III de Savoia, que era um abade leigo, favoreceu o renascimento do complexo monástico. Em 1128 os canônicos, que neste meio tempo haviam substituído os monges - abraçaram a regra de Santo Agostinho.

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A Alta Idade Média foi o período em que a abadia desempenhou um relevante papel político no território, pelos abades que acabaram tornando-se também Bispos de Sion e portanto, Condes de Valais, e em outros casos, se aliando com a Casa de Savoia em oposição ao Bispo-conde de Valais. Esta influência política cessou em 1789 com a revolução valesana, quando a Saint-Maurice torna-se abadia territorial.

Em 3 de Julho de 1840 com o breve ‘In amplissimo’ do Papa Gregorio XVI dirigido aos abades de Saint-Maurice, foi concedido ‘in perpetum’ o título de Bispos de Belém. Em 4 de agosto do mesmo ano, o próprio Papa com o breve ‘Ea est dignitas’ concedeu à abadia numerosos privilégios, enquanto os confins com a Diocese de Sião foram sancionados em 11 de outubro de 1933 com a Bula ‘Pastoralis cura’, do Papa Pio XI

A abadia, assim como a localidade de Saint-Maurice, formam o percurso da Via Francígena – a antiga via das peregrinações em direção à Roma – e se coloca no centro do diálogo intercultural e inter-religioso das diversas Igrejas Cristãs presentes em seu percurso.



Em 1º de agosto, Jean Cesar Scarcella, o 95º abade da história da Abadia de Saint-Maurice, recebeu das mãos do Bispo de Sion, Jean-Marie Lovey, as insígnias pontifícias – o anel, a mitra e o báculo – enquanto a leitura do mandato apostólico do Papa Francisco assinalou a ligação com a Igreja universal. ‘Sim, o quero’, respondeu o abade às perguntas do rito : a fidelidade ao compromisso canônico, a instrução e a guia dos irmãos, a obediência à Igreja, a oração pelo povo de Deus.

Em um comunicado redigido pelo abade anterior, Joseph Roduit, os prelados da Conferência Episcopal Suiça, da qual o abade faz parte, sublinharam a importância da religião na história do país, ‘quer na promoção do bem, quer, às vezes, do mal, infelizmente suscitado. Mesmo que a Suiça tenha conhecido as tristes guerras de religião – reiteram - é necessário reconhecer o papel essencial das Igrejas. Elas perseveraram no anúncio do Evangelho’.

No contexto de um mundo que muda constantemente – escreveu ainda o Abade Riduit – esta abadia permanece como um farol dentro da tempestade de ideias que em tantas ocasiões buscaram desacreditar os valores da oração e a ação cristã inspirada no Evangelho’.

São Maurício é um dos santos mais populares da Europa ocidental. Existem mais de 650 lugares sagrados que levam seu nome na França. Mais de setenta cidades levam o nome dele. Sua memória, junto com seus companheiros, é celebrada na Igreja em 22 de setembro. A maioria das relíquias dos corpos dos soldados cristãos da Legião Tebana, são veneradas no Convento de São Mauricio de Agaunum’.

 

Fonte :
* Artigo na íntegra de http://www.news.va/pt/news/os-1500-anos-da-abadia-de-saint-mauriceum-farol-de

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