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quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Por que monges e freiras usam cores diferentes – Parte 1

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo de Philip Kosloski,
escritor e designer gráfico


‘Filmes e programas de TV difundiram o estereótipo de que as freiras sempre usam hábitos pretos e os monges católicos sempre se vestem de marrom. No entanto, basta frequentar qualquer grande evento eclesial para constatar que a realidade é muito mais cheia de cores e tons.

Como a variedade e quantidade de congregações religiosas é, graças a Deus, quase ‘inelencável’, ofereceremos aqui um ‘guia básico’ sobre os hábitos de quatro das principais e mais conhecidas ordens religiosas da história da Igreja – e a maioria das comunidades religiosas que usam hábito estará conectada, ao menos perifericamente, a uma dessas ordens : beneditinos, carmelitas, franciscanos e dominicanos.

Neste artigo, veremos as duas primeiras ordens.


Beneditinos

Irmã Andrea Staderman, OSB / Abadessa Maria-Michael Newe, OSB


Fundada no século VI por São Bento de Núrsia, a ordem beneditina adota hábitos negros compostos por uma túnica, uma capa escapular que vai até os pés e um cinto de couro. A cor preta simboliza a penitência e o morrer para o mundo, além de ser, em termos práticos, a cor de tecido mais barata disponível no século VI. Os monges usam capuzes e as freiras véus : aliás, é neste aspecto que as comunidades religiosas da ordem costumam se diferenciar umas das outras.

Um elemento distintivo do hábito beneditino é a ausência do rosário pendente, principalmente porque os beneditinos tradicionais, com seu célebre lema ‘Ora et Labora’ (‘Ora e Trabalha’), cultivavam o campo e faziam eles próprios as construções nos seus mosteiros, o que tornava impraticável usar o rosário pendente no dia-a-dia. Os beneditinos que já professaram os votos religiosos permanentes usam capuz preto sobre o hábito durante a oração litúrgica e em ocasiões comunitárias importantes.

Além de São Bento, incluem-se entre os santos beneditinos mais famosos Santa Hildegarda de Bingen, Santa Escolástica, o Papa São Gregório Magno, Santa Gertrude e São Beda, o Venerável. Entre os leigos beneditinos incluem-se São Francisco de Roma, o rei Santo Henrique II, a serva de Deus Dorothy Day e os escritores Rumer Godden, Flannery O ‘Connor e Walker Percy.


Carmelitas


Fundada formalmente no século XII, a ordem monástica dos carmelitas vem de raízes que remontam a um grupo de eremitas que viviam no Monte Carmelo, na Terra Santa. Seu hábito é de cor marrom e também apresenta o manto escapular, ou escapulário, uma espécie de ‘dupla capa’, longa e retangular, que pende pela frente e por trás e que servia para proteger o hábito durante os trabalhos pesados, mais ou menos como um avental. Esta peça é a origem do escapulário que conhecemos hoje como um dos mais importantes sacramentais oferecidos aos católicos, a partir de uma aparição da Santíssima Virgem Maria a São Simão Stock. A cor marrom evoca a cruz e a terra, lembrando aos carmelitas a sua própria cruz e a humildade que devem cultivar – já que a palavra ‘humildade’ vem de ‘húmus’, terra, e nos recorda que ‘somos pó e ao pó retornaremos’.

Além do escapulário marrom escuro, a veste carmelita se identifica também por uma capa de cor mais clara, em tom amarelado, que é sobreposta ao hábito durante a liturgia. O carmelita usa ainda um cinto de couro e um grande rosário pendente. Os carmelitas também usam o crucifixo da sua profissão religiosa preso ao escapulário.

O ramo da ordem que se tornou conhecido como ‘carmelitas descalços’ segue o carisma inspirado a Santa Teresa de Ávila (ou Santa Teresa de Jesus), uma grande reformadora da ordem. Existem também, mundo afora, comunidades carmelitas de vida apostólica.

Entre os mais conhecidos santos carmelitas incluem-se o grande místico São João da Cruz, Santa Teresinha de Lisieux, Santa Isabel da Trindade e Santa Edith Stein, filósofa judia que se converteu ao catolicismo, entrou no carmelo, adotou o nome religioso de Teresa da Cruz e foi morta pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. Já entre os leigos carmelitas listam-se personalidades históricas como Éamon de Valera, presidente da Irlanda, e os reis espanhóis Fernando e Isabel, conhecidos como ‘os Reis Católicos’.’


Fonte :


segunda-feira, 25 de maio de 2015

Santa Teresa : monja de clausura pelos caminhos de Espanha

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo de Frei Patrício Sciadini, OCD,
Provincial dos carmelitas descalços no Egito

‘O V Centenário do nascimento de Santa Teresa d’Ávila, fundadora das carmelitas descalças e dos carmelitas descalços, coloca em discussão tanto nossa maneira de pensar como de viver. Hoje gostaria de evidenciar um aspecto do momento atual, onde a Igreja, mãe e mestra, se encontra com uma certa dificuldade e que Teresa pode oferecer uma luz e um caminho novo e corajoso : a clausura. O que nós entendemos quando falamos de monjas de clausura ou de Carmelitas Descalças, fundadas por Santa Teresa d’Ávila, naquela manhã quente e esplendida do 14 de agosto de 1562? A fundação de São José foi preparada no silêncio, às escondidas. O povo de Ávila acordou com as badaladas do sino do pequenino mosteiro e ficou assustado, preocupado por ter que manter economicamente um outro mosteiro e outras monjas. Tentou-se todo o possível para fechar o mosteiro, mas não teve jeito. O bispo Dom Álvaro estava de acordo e especialmente Teresa era uma ‘cabeça dura’, que não desanimava diante de coisas deste tipo. 

Quando nós falamos hoje de clausura entendemos monjas contemplativas que decidem separarem-se do mundo, para viver uma maior intimidade com Deus, e que querem abraçar, com a oração, todas as necessidades da Igreja e serem uma presença viva, atuante, dentro da comunidade, não pelas formas de apostolado, nem pelas obras, mas sim pela oração e uma  intensa vida espiritual. Se fala de clausura papal. Não podem sair a não ser por determinados motivos e normas. E se obrigam a uma vida de sacrifício, de distância do mundo e etc dos etceteras. Tudo bem. Nada contra isto. Mas como Teresa soube ‘administrar tudo isto’, como ela e suas monjas souberam viver a clausura naquele tempo? E como deveria ser vivida hoje?

Não é caso de perder-nos em estéreis discussões sobre isto, tanto mais que eu não sou monja de clausura, mas sim ver como Teresa amou intensamente a clausura como ‘recanto de solidão’ para estar na escuta de Deus e viver, como dizia o seu filho e mestre espiritual João da Cruz, ‘a solidão sonora e música silenciosa’. Mas ao mesmo tempo o seu zelo pela missionaridade a levou muitíssima vezes a ‘sair da clausura’ para levar a presença de Cristo e do Carmelo no coração das cidades. Isto podemos comprová-lo olhando ‘o entusiasmo e uma certa ânsia de fundar mosteiros a toque de caixa’, em 20 anos, isto é de 1562 ao 1582. Teresa fundou quase 20 mosteiros de monjas e 13 de frades. Um ritmo impressionante, uma atividade que poderíamos chamar ‘frenética’, e projetou um Carmelo em Madri, mesmo que nunca conseguiu realizar.

Às vezes Teresa tinha que sair da clausura para consolar princesas depressivas ou jovens princesas como a de Alba de Tormes, que estava prestes a dar a luz, que queria a presença da madre Teresa. Ela chegará mais tarde para morrer em Alba de Tormes. Foi convidada a sair da clausura pelos Superiores sem motivos sérios, e hoje diríamos inúteis, mas Teresa é obediente e se coloca em caminho, com dificuldades e vai. Sabe como se relacionar com bispos e convencê-los a aceitar e apoiar as fundações, como a de Burgos e de Sevilha.

 A clausura de Teresa foi muitas vezes as ruas e as viagens, ou o seu ‘Carmelo itinerante’, em carruagem, onde nunca faltava o famoso sino, para chamar e marcar os horários das orações, do silêncio, da recreação. E convidava aos cocheiros a fazer silêncio e, se obedeciam, dava para eles uma boa porção de comida. Viveu a clausura com uma certa ‘elasticidade e liberdade interior’ e se sentiu bem. Mais tarde, depois de sua morte, vieram superiores, como o Padre Doria, que amará mais a lei que a pessoa humana. A clausura para Teresa não é mais importante que a missão, e nem a pessoa humana. Ela era uma mulher livre e a sua liberdade a viveu a com uma atenção às leis, à obediência à Igreja, mas também às necessidades do seu tempo.

O que diria Teresa de Ávila da clausura de hoje? Vamos deixar para um próximo artigo, que o meu espaço terminou. Mas creio que é necessário ter uma visão de clausura, de contemplação, que seja ao mesmo tempo um estilo de vida, com normas jurídicas, mas com uma visão do que diz Jesus : ‘não é o homem que é feito para os sábado, mas o sábado para o homem’. Nasce sem dúvida uma nova reflexão sobre este tema tão importante ao se colocar em discussão, a clausura. Mas será que se rompe a clausura só saindo do mosteiro? Creio que os meios de comunicação, se não bem usados, são um meio não para conservar o silêncio e solidão, para uma maior intimidade com Deus, mas para fazer entrar o mundo e a ‘mundanização’ nos conventos de clausura e nos corações dos contemplativos e dos consagrados.

Teresa de Ávila teria bem usado os meios de comunicação de hoje, seja a internet, WatsApp, twiter, como a seu tempo soube bem usar  a comunicação mediante livros, cartas e encontros, e como ‘andarilha de Deus’, pelos caminhos da Espanha e comunicou o evangelho e a oração com todos os meios e forças  e capacidade, que Deus lhe deu. Teresa é a cantora da liberdade sadia, forte, divina e humana. Soube voar e bem, de um lado ao outro, para anunciar o seu amor a Jesus e à Igreja, na escuta de Deus e da Igreja. Podemos estar em ‘clausura’ e ter o coração como um aeroporto ou rodoviária, de vai e vem. E podemos ir pelo mundo com o coração cheio de Deus e viver um ‘clausura de amor’, onde o mundo não pode perturbar-nos. ‘Onde está o teu tesouro aí está o teu coração’’.


Fonte :
* Artigo na íntegra de http://www.zenit.org/pt/articles/santa-teresa-monja-de-clausura-pelos-caminhos-de-espanha
  

domingo, 14 de dezembro de 2014

São João da Cruz, Presbítero e Doutor da Igreja

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)


‘A vida de São João da Cruz  foi marcada pela pobreza. ‘Pobreza que primeiro o abraçou e que depois fora por ele abraçado como valor no qual achou um grande tesouro’.

Quando seu pai morreu, São João da Cruz tinha apenas dois anos. Com nove anos foi acolhido numa espécie de orfanato para meninos pobres e ali recebe os primeiros estudos e os meios para sobreviver. Precisou trabalhar desde cedo para ajudar no sustento da família. Teve, portanto, uma infância pobre e difícil, marcado por privações de todo o tipo.

Esta realidade dura da vida poderia ter-lhe enchido de revolta e o levado a sucumbir à ganância de ter o que lhe faltou. Mas ao contrário, para São João da Cruz a pobreza que ele viveu foi à chave para as suas grandes experiências no caminho de Deus. É por ela que conseguimos compreender a noite, a negação, o nada. Ele experimentou concretamente a ausência de tudo o que o coração humano deseja (bens, afetos, consolações) e nesta ausência encontrou Deus, o Tudo, diante do qual todas as coisas são nada.

A experiência da pobreza, por ele vivida à flor da pele, molda profundamente o seu espírito.

Fez-se carmelita logo jovem. Mas descontente com a vivência autêntica do evangelho do Carmelo estava decidido ir para a ordem Cartuxa, que possui uma vivência particularmente radical da vida consagrada. Foi quando conhece Santa Tereza de Jesus, que lhe garante poder viver essa radicalidade almejada no Carmelo mesmo. Para tanto, fala de seus anseios reformadores já em exercícios e o convida a ajudá-la a iniciar a reforma no ramo masculino. Seus anseios e suas buscas coincidiam, havia uma comunhão de desejo e ideal entre eles, dois grandes corações que se identificam, de modo que empreendem juntos a reforma do Carmelo.

Houve um momento onde a reforma carmelita começa a ser perseguida para desacelerar o processo. Os Padres calçados tomam medidas para impedir a expansão e até mesmo conseguir a eliminação dos calçados. Em meio a esses conflitos frei João da Cruz foi o que mais sofreu as consequências sendo preso duas vezes : uma no início de 1576 e outra em dezembro e 1577. Esse último foi o tempo mais doloroso, mais também o mais rico da vida de João da Cruz.

Foi nos nove meses de prisão – num rincão sujo, sem luz nem diálogo, respirando o mesmo ar e vestindo a mesma roupa – que tem a maior experiência do nada que o acompanhou a vida toda e ele nunca hesitou em abraçar. Transformou o momento doloroso de privações de toda espécie num profunda experiência religiosa e psicológica. Em meio a escuridão, o isolamento, o abandono por parte de seus irmãos, a privação da Eucaristia, os maus tratos, ele confirma suas convicções evangélicas para saborear Deus na sua total pureza sem misturá-lo com os consolos terrenos. Privado de tudo, de toda espécie de consolo material, humano ou espiritual ele se une a Deus num amor verdadeiramente puro.

Depois da prisão ele reassume seus cargos no Carmelo até o momento em que, num capítulo da ordem ele teve que se opor aos caminhos que queriam tomar contrários às inspirações de Tereza, já falecida. Em função disso tiram tudo dele e até querem expulsá-lo da ordem; ele é posto de lado, maltratado, desprezado, abandonado, caluniado e passa por mais uma terrível noite. Mas com o seu coração abrandado e unido a Deus, não se deixa abater. No fim de sua vida, já doente, onde poderia escolher um tratamento melhor, prefere ir para um mosteiro cujo o superior o olhava com maus olhos. Oprimido pelas dores físicas e morais era consolado pela sua união de amor com Deus, falecendo em 1591.

São João da Cruz é místico, filósofo, teólogo e escritor – poeta – e doutor da Igreja. São João da Cruz define o amor como trabalhar em despojar-se e desnudar-se por Deus de tudo que não é Deus (2º livro da Subida, 5,7), colocando em relevo a necessidade de purificação do amor, partindo da realidade desordenada em que o amor se encontra e revelando aquilo que toca o homem no seu ordenamento.


Fontes :
* Artigo na íntegra de http://pantokrator.org.br/po/artigos-pantokrator/historia-de-sao-joao-da-cruz/


sábado, 14 de dezembro de 2013

São João da Cruz, Presbítero e Doutor da Igreja

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

* Artigo de Bento XVI, Papa Emérito
                                                                                                                                                        
            Reformador da ordem carmelita, com Santa Teresa, São João da Cruz foi proclamado doutor da Igreja pelo Papa Pio XI em 1926, e chamado na tradição Doctor mysticus, Doutor místico.

            João da Cruz nasceu em 1542 no povoado de Fontiveros, perto de Ávila, na Velha Castela, filho de Gonzalo de Yepes e de Catalina Alvarez. A família era extremamente pobre porque o pai, de nobre origem de Toledo, tinha sido explulso de casa e deserdado por ter casado com Catalina, uma humilde tecelã de seda. Órfão de pai em tenra idade, com nove anos transferiu-se com a mãe e o irmão Francisco para Medina del Campo, perto de Valladolid, centro comercial e cultural. Ali frequentou o Colegio de los Doctrinos, desempenhando também alguns trabalhos humildes para as irmãs da Igreja – Convento da Madalena. Em seguida, considerando as suas qualidades humanas e os seus resultados nos estudos, foi admitido primeiro como enfermeiro no Hospital da Conceição, depois no Colégio dos Jesuítas, recém-fundado em Medina del Campo : ali João entrou com dezoito anos e estudou ciências humanas, retórica e línguas clássicas durante três anos. No final da formação, ele viu claramente qual era a sua vocação : a vida religiosa e, entre as muitas ordens presentes em Medina, sentiu-se chamado ao Carmelo.
 
            No verão de 1563 começou o noviciado com os Carmelitas da cidade, assumindo o nome religioso de João de São Matias. No ano seguinte foi destinado à prestigiosa Universidade de Salamanca, onde por três anos estudou artes e filosofia. Em 1567 foi ordenado sacerdote e voltou a Medina del Campo para celebrar a sua primeira Missa circundado pelo carinho dos familiares. Precisamente ali teve lugar o primeiro encontro entre João e Teresa de Jesus. O encontro foi decisivo para ambos : Teresa expôs-lhes o seu plano de reforma do Carmelo também no ramo masculino da ordem e propôs a João que se adaptasse ‘para maior glória de Deus’; o jovem sacerdote ficou fascinado pelas idéias de Teresa, a ponto de se tornar um grande defensor do projeto. Os dois trabalharam juntos alguns meses, compartilhando idéias e propostas para inaugurar quanto antes possível a primeira casa de Carmelitas Descalços : a abertura ocorreu a 28 de dezembro de 1568 em Duruelo, lugar solitário da província de Ávila. Com João formavam esta primeira comunidade masculina reformada outros três companheiros. Ao renovar a sua profissão religiosa segunda a Regra primitiva, os quatro assumiram um novo nome : João denominou-se ‘da Cruz’, como depois será conhecido universalmente. No final de 1572, a pedido de Santa Teresa, tornou-se confessor e vigário do Mosteiro da Encarnação em Ávila, onde a santa era prioresa. Foram anos de estreita colaboração e amizade espiritual, que a ambos enriqueceram. A esse período remontam inclusive as mais importantes obras teresianas e os primeiros escritos de João.
 
            A adesão à reforma carmelita não foi fácil e causou a João também graves sofrimentos. O episódio mais traumático foi, em 1577, o seu rapto e aprisionamento no Convento dos Carmelitas de Antiga Observância de Toledo, devido a uma acusação injusta. O santo permaneceu preso durante meses, submetido a privações e constrições físicas e morais. Ali compôs, além de outras poesias, o célebre Cântico espiritual. Finalmente, na noite entre 16 e 17 de agosto de 1578, conseguiu fugir de modo aventuroso, refugiando-se no Mosteiro das Carmelitas Descalças da cidade. Santa Teresa e os companheiros reformados celebraram com imensa alegria a sua libertação e, após um breve período de recuperação das forças, João foi destinado para a Andaluzia, onde transcorreu dez anos em vários conventos, especialmente em Granada. Assumiu cargos cada vez mais importantes na ordem, até se tornar vigário provincial, e completou a redação dos seus tratados espirituais. Depois, voltou para a sua terra natal, como membro do governo geral da família religiosa teresiana, que já gozava de plena autonomia jurídica. Habitou no Carmelo de Segóvia, desempenhando a função de superior daquela comunidade. Em 1591 foi eximido de qualquer responsabilidade e destinado à nova província religiosa do México. Enquanto se preparava para a longa viagem com outros dez companheiros, retirou-se num convento solitário perto de Jaén, onde adoeceu gravemente. João enfrentou com serenidade e paciência exemplares enormes sofrimentos. Faleceu na noite entre 13 para 14 de dezembro de 1591, enquanto os irmão de hábito recitavam o Ofício matutino. Despediu-se deles, dizendo : ‘Hoje vou cantar o Ofício no Ceu’. Os seus restos mortais foram transladados para Segóvia. Foi beatificado por Clemente X em 1675 e canonizado por Bento XIII em 1726.
 
            João é considerado um dos mais importantes poetas líricos da literatura espanhola. As obras principais são quatro : Subida ao Monte Carmelo, Noite escura, Cântico espiritual e Chama de amor viva.
 
            No Cântico espiritual, São João apresenta o caminho de purificação da alma, ou seja, a posse progressiva e jubilosa de Deus, até que a alma chegue a sentir que ama a Deus com o mesmo amor com que é por Ele amada. A Chama de amor viva continua nesta perspectiva, descrevendo mais pormenorizadamente o estado de união transformadora com Deus. A comparação utilizada por João é sempre a do fogo : assim como o fogo, quanto mais arde e consome a madeira, tanto mais se torna incandescente até se tornar chama, também o Espírito Santo, que durante a noite escura purifica e ‘limpa’ a alma, com o tempo ilumina-a e aquece-a como se fosse uma chama. A vida da alma é uma festa contínua do Espírito Santo, que deixa entrever a glória da união com Deus na eternidade.
 
            A Subida ao Monte Carmelo apresenta o itinenário espiritual sob o ponto de vista da purificação progressiva da alma, necessária para escalar a montanha da perfeição cristã, simbolizada pelo cimo do monte Carmelo. Tal purificação é proposta como um caminho que o homem empreende colaborando com a obra divina, para libertar a alma de todo o apego ou afeto contrário à vontade de Deus. A purificação, que para alcançar a união com Deus deve ser total, começa a parir da vida dos sentidos e continua com a que se alcanca por meio das três virtudes teologais : fé, esperança e caridade, que purificam a intenção, a memória e a vontade. A Noite escura descreve o aspecto ‘passivo’, ou seja, a intervenção de Deus neste processo de ‘purificação’ da alma. Com efeito, o esforço humano sozinho é incapaz de chegar às profundas raízes das más inclinações e hábitos da pessoa : só os pode impedir, mas não os consegue erradicar completamente. Para o fazer, é necessária a ação especial de Deus, que purifica radicalmente o espírito e o dispõe para a união de amor com Ele. São João define ‘passiva’ tal purificação, precisamente porque, embora seja aceita pela alma, é realizada pela obra misteriosa do Espírito Santo que, como chama de fogo, consome toda a impureza. Neste estado, a alma é submetida a todo o tipo de provações, como se se encontrasse numa noite escura.
 
            Estas indicações sobre as obras principais do santo ajudam-nos a aproximar-nos dos pontos salientes da sua vasta e profunda doutrina mística, cuja finalidade é descrever um caminho seguro para alcançar a santidade, a condição de perfeição à qual Deus chama todos nós. Segundo João da Cruz, tudo o que existe, criado por Deus, é bom. Através das criaturas, nós conseguimos chegar à descoberta daquele que nelas deixou um vestígio de Si. De qualquer modo, a fé é a única fonte confiada ao homem que conhecer Deus como Ele é em si mesmo, como Deus Uno e Trino. Tudo o que Deus queria comunicar ao homem, disse-o em Jesus Cristo, a Sua Palavra que Se fez carne. Jesus Cristo é o único e definitivo caminho para o Pai (cf. Jo 14,6). Qualquer coisa criada nada é em comparação com Deus, e nada vale fora d’Ele : por conseguinte, para alcançar o amor perfeito de Deus, todos os outros amores se devem conformar em Cristo com o amor divino. Daqui deriva a insistência de São João da Cruz sobre a necessidade da purificação e do esvaziamento interior para se transformar em Deus, que é a única meta da perfeição. Esta ‘purificação’ não consiste na simples falta física das coisas ou do seu uso; o que torna a alma pura e livre, ao contrário, é eliminar toda a dependência desordenada das coisas. Tudo deve ser inserido em Deus como centro e fim da vida. Sem dúvida, o longo e cansativo processo de purificação exige o esforço pessoal, mas o verdadeiro protagonista é Deus : tudo o que o homem pode fazer é ‘dispor-se’, estar aberto à obra divina e não lhe por obstáculos. Vivendo as virtudes teologais, o homem eleva-se e valoriza o próprio compromisso. O ritmo de crescimento da fé, da esperança e da caridade caminha a par e passo com a obra de purificação e com a união progressiva com Deus, até se transformar n’Ele. Quando alcança esta meta, a alma imerge-se na própria vida trinitária, e São João afirma que ela consegue amar a Deus com o mesmo amor que Ele a ama, porque a ama no Espírito Santo. Eis por que motivo o doutor místico afirma que não existe verdadeira união de amor com Deus, se não culmina na união trinitária. Neste estado supremo, a alma santa conhece tudo em Deus e já não deve passar através das criaturas para chegar a Ele. A alma já se sente inundada pelo amor divino e alegra-se completamente nele.
 
            Caros irmãos e irmãs, no fim permanece esta pergunta : com a sua mística excelsa, com este árduo caminho rumo ao cimo da perfeição, este santo tem algo a dizer também a nós, ao cristão normal que vive nas circunstâncias desta vida de hoje, ou é um exemplo, um modelo apenas para poucas almas escolhidas que podem realmente empreender este caminho da purificação, da ascese mística? Para encontrar a resposta, em primeiro lugar temos de ter presente que a vida de São João da Cruz não foi um ‘voar sobre as nuvens místicas’, mas uma vida muito árdua, deveras prática e concreta, quer como reformador da ordem, onde encontrou muitas oposições, quer como superior provincial, quer ainda no cárcere dos seus irmãos de hábito, onde esteve exposto a insultos incríveis e a maus-tratos físicos. Foi uma vida dura, mas precisamente nos meses passados na prisão ele escreveu uma das suas obras mais bonitas. E assim podemos compreender que o caminho com Cristo, o andar com Cristo, ‘o Caminho’, não é um peso acrescentado ao fardo já suficientemente grave da nossa vida, não é algo que tornaria ainda mais pesada esta carga, mas é algo totalmente diferente, é uma luz, uma força que nos ajuda a carregar este peso. Se um homem tem em si um grande amor, este amor quase lhe dá asas, e suporta mais facilmente todas as moléstias da vida, porque traz em si esta grande luz; esta é a fé : ser amado por Deus e deixar-se amar por Deus em Cristo Jesus. Este deixar-se amar é a luz que nos ajuda a carregar o fardo de todos os dias. E a santidade não é uma obra nossa, muito difícil, mas é precisamente esta ‘abertura’ : abrir as janelas da nossa alma, para que a luz de Deus possa entrar, não esquecer Deus, porque é precisamente na abertura à Sua luz que se encontra a força, a alegria dos remidos. Oremos ao Senhor para que nos ajude a encontrar esta santidade, deixando-nos amar por Deus, que é a vocação de todos nós e a verdadeira redenção.
 
(16 de fevereiro de 2011)
 
Fonte :
* Bento XVI, Santos e Doutores da Igreja (catequeses condensadas), Lisboa, Paulus Editora, 2012.  
 
 

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Santa Teresa de Ávila

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 A Liturgia da Horas e a reflexão no dia de Santa Teresa de Jesus
( nascida em Ávila, Espanha ) :


 Ofício das Leituras


Segunda leitura
Das Obras de Santa Teresa de Jesus, virgem 
(Opusc. De librovitae, cap.22,6-7.14)  (Séc.XVI) 
Lembremo-nos sempre do amor de Cristo  

Com tão bom amigo presente, com tão esforçado chefe, tudo se pode sofrer. Serve de ajuda e dá reforço; a ninguém falta. É amigo verdadeiro. Sempre tenho visto claramente que, para contentarmos a Deus e para que nos faça ele mercês, quer que seja por intermédio desta humanidade sacratíssima, na qual declarou Sua Majestade ter posto suas complacências. 
É o que muitíssimas vezes e muito bem tenho visto por experiência, e também me disse o Senhor. Tenho compreendido claramente que por esta porta havemos de entrar, se quisermos que nos mostre grandes segredos a soberana Majestade. De modo que não se queira outro caminho, ainda que se esteja no cume da contemplação. Por aqui se vai seguro. É por meio deste Senhor nosso que nos vêm todos os bens. Ele ensinará o caminho: contemplemos sua vida, porque não há modelo melhor. 
O que mais queremos, do que ter a nosso lado tão bom amigo, que não nos deixará nos trabalhos e nas tribulações, como fazem os amigos deste mundo? Bem-aventurado quem o amar de verdade e sempre o trouxer junto de si. Olhemos o glorioso São Paulo de cujos lábios, por assim dizer, não saía senão o nome de Jesus, tão bem gravado o tinha no coração. Desde que entendi isto, tenho considerado atentamente alguns santos, grandes contemplativos, tais como São Francisco, Santo Antônio de Pádua, São Bernardo, Santa Catarina de Sena. Com liberdade havemos de andar neste caminho, entregues às mãos de Deus. Se Sua Majestade quiser elevar-nos à categoria de seus íntimos e confidentes dos seus segredos, vamos de boa vontade. 
Quando pensarmos em Cristo, sempre nos lembremos do amor com que nos concedeu tantas graças e da grande ternura que nos testemunhou em nos dar tal penhor do muito que nos ama, pois amor pede amor. Procuremos sempre ir considerando estas verdades e estimulando-nos a amar. Porque, uma vez que nos conceda o Senhor a graça de que este amor nos seja impresso no coração, tudo nos será mais fácil: faremos grandes coisas muito depressa e com pouco trabalho. 
Fonte :
‘In Liturgia das Horas IV’, pg. 1380 a 1381 
  

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Santa Teresinha de Lisieux



 Da Liturgia da Horas ( Próprio dos Santos - dia 1 de Outubro ) : 

 Ofício das Leituras
   
Segunda leitura
Da Autobiografia de Santa Teresa do Menino Jesus, virgem
  (Manuscrits autobiographiques, Lisieux 1957,227-229)   (Séc.XIX)
No coração da Igreja serei o amor 

          Meus imensos desejos me eram um autêntico martírio. Fui, então, às cartas de São Paulo a ver se encontrava uma resposta. Meus olhos caíram por acaso nos capítulos doze e treze da Primeira Carta aos Coríntios. No primeiro destes, li que todos não podem ser ao mesmo tempo apóstolos, profetas, doutores, e que a Igreja consta de vários membros; os olhos não podem ser mãos ao mesmo tempo. Resposta clara, sem dúvida, mas não capaz de satisfazer meu desejo e dar-me a paz. 
Perseverei na leitura sem desanimar e encontrei esta frase sublime: Aspirai aos melhores carismas. E vos indico um caminho ainda mais excelente (1Cor 12,31). O Apóstolo esclarece que os melhores carismas nada são sem a caridade, e esta caridade é o caminho mais excelente que leva com segurança a Deus. Achara enfim o repouso. 



Ao considerar o Corpo místico da Igreja, não me encontrara em nenhum dos membros enumerados por São Paulo, mas, ao contrário, desejava ver-me em todos eles. A caridade deu-me o eixo de minha vocação. Compreendi que a Igreja tem um corpo formado de vários membros e neste corpo não pode faltar o membro necessário e o mais nobre: entendi que a Igreja tem um coração e este coração está inflamado de amor. Compreendi que os membros da Igreja são impelidos a agir por um único amor, de forma que, extinto este, os apóstolos não mais anunciariam o Evangelho, os mártires não mais derramariam o sangue. Percebi e reconheci que o amor encerra em si todas as vocações, que o amor é tudo, abraça todos os tempos e lugares, numa palavra, o amor é eterno. 


Então, delirante de alegria, exclamei: Ó Jesus, meu amor, encontrei afinal minha vocação: minha vocação é o amor. Sim, encontrei o meu lugar na Igreja, tu me deste este lugar, meu Deus. No coração da Igreja, minha mãe, eu serei o amor e desse modo serei tudo, e meu desejo se realizará. 


 
Fonte :
‘In Liturgia das Horas IV, pg. 1332 a 1333 
   

terça-feira, 16 de outubro de 2012

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Santa Teresinha de Lisieux

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)


Ladainha de Santa Teresinha

Senhor, tende piedade de nós
Cristo, tende piedade de nós
Senhor, tende piedade de nós
Pai do Céu que sois Deus                                            Tende piedade de nós
Filho, Redentor do mundo que sois Deus
Espírito Santo que sois Deus
Santíssima Trindade que sois um só Deus 

Santa Maria                                                                     Rogai por nós
Santa Mãe de Deus
Rainha e Formosura do Carmo
Todos os Santos Anjos
São José
S. Elias, profeta
S. Alberto de Jerusalém
Nossa mãe, Santa Teresa de Jesus
Nosso pai, São João da Cruz
S. Teresa do Menino Jesus e da Santa Face              Rogai por nós
S. Teresinha, enlevo do Pai do Céu
S. Teresinha, identificada com Cristo
S. Teresinha, abrasado no amor do Espírito Santo
S. Teresinha, curada pelo sorriso de Maria
S. Teresinha, pérola do Carmo
S. Teresinha, amor no coração da Igreja
S. Teresinha, S. Teresinha, dom de Deus ao mundo
S. Teresinha, brinquedo do Menino Jesus
S. Teresinha, apaixonada pela face de Jesus
S. Teresinha, santificada no sangue de Jesus
S. Teresinha, que «escolheu tudo» o que Jesus queria
S. Teresinha, sorriso de Deus nesta terra
S. Teresinha, rosa desfolhada aos pés do Divino Mestre
S. Teresinha, entregue ao Amor Misericordioso
S. Teresinha, filha admirável de S. Teresa de Jesus
S. Teresinha, filha e discípula de S. João da Cruz
S. Teresinha, de mãos vazias diante de Deus
S. Teresinha, que nada recusou a Deus
S. Teresinha, inflamada pelo amor da Eucaristia
S. Teresinha, irmã e amiga dos sacerdotes
S. Teresinha, sentada à mesa dos pecadores
S. Teresinha, devorada pela sede de salvação dos irmãos
S. Teresinha, doutora da Igreja
S. Teresinha, modelo de juventude
S. Teresinha, nossa irmã e intercessora
Todos os Santos e Santas do Carmo
Cordeiro de Deus que tirais o pecado do mundo, perdoai-nos Senhor
Cordeiro de Deus que tirais o pecado do mundo, ouvi-nos, Senhor
Cordeiro de Deus que tirais o pecado do mundo, tende piedade de nós, Senhor
Oremos :
Ó Deus Todo-poderoso e eterno, que abris as portas do Vosso Reino aos pequeninos e aos humildes. Concedei-nos a graça de seguirmos os passos da nossa irmã S. Teresa do Menino Jesus e da Santa Face pelo caminho pequenino da confiança que ela nos assinalou e pelo qual ele nos deseja conduzir. E assim, pela sua oração e pela sua sabedoria alcançaremos a revelação da Vossa glória. Por Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito

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