Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
‘Perdoar é um caminho desafiador,
uma tarefa que, muitas vezes, revela-se árdua diante das feridas profundas
infligidas por aqueles mais próximos a nós, como familiares e amigos. Em alguns
casos, o distanciamento se instala, deixando relações abaladas, enquanto em
situações mais graves somos marcados pela violência que permeia essas conexões.
Contudo,
a decisão ética de perdoar vai além do mero relacionamento interpessoal; ela
implica interromper o ciclo tóxico do desgosto, do ódio e da vingança, que
perpetua o ciclo de violência e sofrimento.
Nessa
jornada de perdão, olhamos para o exemplo de Jesus, que, mesmo sendo
injustiçado e crucificado, proferiu as palavras ‘Pai, perdoa-lhes, porque não
sabem o que fazem’ (Lc 23,34). Ele nos ensinou que o perdão é uma escolha
poderosa que transcende as injustiças, promovendo a reconciliação e a cura.
A
extensão desse princípio cristão perpassa a reconciliação e a justiça para as
pessoas mais descartadas da sociedade, da vida e missão da Igreja e do convívio
familiar. A reconciliação é a cura das relações sociais feridas a partir do
respeito à diversidade. Jesus acolheu todas as pessoas, independentemente de
sua origem, religião, gênero, status social ou passado. Nele encontramos uma
absoluta atitude de amor e inclusão. Ao perdoar e respeitar a diversidade,
seguimos o exemplo daquele que ensinou que o amor supera todas as barreiras
porque a reconciliação passa por toda forma de amor.
O
perdão, em sua essência, é um ato libertador.
Ele
não apenas redime o ofensor, mas também resgata o ofendido do peso do rancor,
livrando-o do constante regurgitar da dor infligida. Apegar-se de forma doentia
a uma relação ferida só serve para ocupar a mente e o coração, impedindo a
abertura para outras relações e possibilidades de vida. Ao perdoar, encontramos
a liberdade para explorar novos horizontes emocionais e construir conexões
saudáveis. Ao mesmo tempo é crucial não infligir a si mesmo e aos demais a
culpa pela suposta ‘inabilidade’ em perdoar. Cada pessoa tem seus próprios
tempos e limites emocionais e, quando profundamente machucadas, podem carregar
cicatrizes ao longo da vida.
O
perdão não é um processo linear. Na verdade, é um caminho sinuoso que exige
tempo, compreensão e compaixão. Reconhecer a própria vulnerabilidade e aceitar
que o perdão é um processo gradual permite uma abordagem mais compassiva
consigo mesmo e com os demais.
De
fato, perdoar não é simplesmente absolver o erro alheio. Trata-se de uma jornada
interna de cura que nos liberta das correntes emocionais que nos prendem ao
passado. É uma escolha ética que transcende o desejo de retribuição, oferecendo
a oportunidade de construir um presente e um futuro mais saudáveis.
Perdoar
e respeitar a diversidade são pilares fundamentais para construir uma sociedade
e relacionamentos saudáveis. Essas atitudes não apenas promovem a paz interior,
também contribuem para a construção de comunidades mais compassivas e
empáticas. Ao seguir os ensinamentos de Jesus somos desafiados a transcender as
diferenças, nutrindo um espírito de perdão e aceitação que fortalece a harmonia
e a diversidade em nosso convívio.’
Fonte : *Artigo na íntegra
https://revistaavemaria.com.br/wp-content/uploads/2023/11/dezembro-2023.pdf
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