sexta-feira, 29 de setembro de 2023

A Idade Média foi “noite escura”?

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo de Veritatis Splendor


‘A Idade Média é por vezes considerada qual «noite de mil anos» que se abateu sobre a civilização, constituindo, pela barbárie e ignorância de seus homens, verdadeira mancha no decorrer da História.

É o que, conforme alguns autores, a própria designação «Idade Média» deveria incutir. Esta foi forjada pelos humanistas do séc. XVI, que com tal denominação queriam caracterizar o período da língua latina, que vai da idade clássica antiga ao Renascimento da mesma, no séc. XVI. Entre duas épocas áureas estaria [então] uma fase intermediária ou «média», fase apagada ou decadente na História do idioma latino.

Em 1688, o historiador alemão Cristóvão Keller (Cellarius) na sua «Historia Medii Aevi» (=‘História da Idade Média’) adotou pela primeira vez o nome no setor da História da Civilização, o que dava a entender que o período decorrente entre a Idade Antiga e a Renascença foi igualmente uma época apagada e decadente.

Nem todos os autores, porém, concordaram com tal modo de ver…

O historicismo do século passado tinha a Idade Média na conta de período cheio de realizações construtivas.

Vejamos o que há de objetivo nestas diversas apreciações.

1) O período Antigo ou Greco-Romano da civilização termina com a ruína do Império Romano, o qual cedeu aos golpes das invasões bárbaras (Roma caiu em 476). A Europa e a África Setentrional foram ocupadas pelos germanos invasores que, após haver derrubado as instituições antigas, eram incapazes de construir a vida social, pois careciam de valores culturais correspondentes. Ora, tendo desaparecido a figura do Imperador no Ocidente, a única autoridade capaz de tomar as rédeas da situação europeia dos séculos V/VII era a autoridade eclesiástica : o Papa, então, os bispos e os monges se puseram a preservar da perda total os valores da civilização greco-romana, utilizando-os na confecção de nova síntese cultural.

Não há dúvida de que a Religião Católica foi altamente benemérita neste trabalho de reconstrução; criaram-se valores e instituições de vulto no início e no decurso da Idade Média. Detendo-nos apenas na história da educação e da cultura, devemos mencionar que foram os clérigos e monges que asseguraram o ensino primário nas escolas catedrais, monacais e palatinas (isto é, erguidas respectivamente junto a uma igreja catedral, a um mosteiro, a um palácio de rei).

Eis alguns documentos a propósito :

Teodulfo, bispo de Orléans no séc. VIII, promulgou a seguinte lei :

– ‘Os sacerdotes mantenham escolas nas aldeias, nos campos. Se qualquer dos fiéis lhes quiser confiar os seus filhos para aprender as letras, não os deixem de receber e instruir, mas ensinem-lhes com perfeita caridade. Nem por isto exijam salário ou recebam recompensa alguma, a não ser por exceção, quando os pais voluntariamente a quiserem oferecer por afeto ou reconhecimento’ (Sirmond, Concilia Galliae 2,215).

Este decreto passou verbalmente para as legislações eclesiásticas da Inglaterra. Frequentemente os Concílios regionais dos séc. VIII/IX repetiram semelhantes normas. O III concilio ecumênico do Latrão em 1179, por sua vez, lavrou o seguinte cânon :

– ‘A Igreja de Deus, qual mãe piedosa, tem o dever de velar pelos pobres aos quais, pela indigência dos pais, faltam os meios suficientes para poderem facilmente estudar e progredir nas letras e nas ciências. Ordenamos, portanto, que em todas as igrejas catedrais se proveja um benefício (rendimento) conveniente a um mestre, encarregado de ensinar gratuitamente aos clérigos dessa igreja e a todos os alunos pobres’ (cân. 18, Mansi 22,227-228).

Também o ensino superior na Idade Média se ministrava por iniciativa, ou ao menos sob a tutela, de bispos e príncipes cristãos. As primeiras Universidades foram fundadas por volta de 1100. Constituem uma das criações mais originais e valiosas da Idade Média : no período greco-romano cada filósofo e cada mestre de ciências tinham sua escola — o que implicava justamente no contrário de uma Universidade. Esta, na Idade Média, reunia mestres e discípulos de várias nações, os quais constituíam poderosos focos de erudição.

Até 1440, foram erigidas na Europa 55 Universidades e 12 Institutos de Ensino Superior, onde se ministravam cursos de Direito, Medicina, Línguas, Artes, Ciências, Filosofia e Teologia. Em 1200, Bolonha contava dez mil estudantes (italianos, lombardos, francos, normandos, provençais, espanhóis, catalães, ingleses, germanos etc.). O Papa Clemente V, no Concílio de Viena, em 1311, mandou que se instaurassem nas escolas superiores cursos de línguas orientais (hebreu, caldeu, árabe, armênio etc.), o que em breve foi executado em Paris, Bolonha, Oxford, Salamanca e Roma.

Poder-se-iam multiplicar dados deste gênero. Estes, porém, já dão a ver que a Idade Média não foi alheia à cultura, justamente em virtude da influência da Igreja que nela se exerceu.

2. É preciso, porém, reconhecer uma particularidade da ciência medieval : os homens da época careciam do aparato técnico necessário a experiências e investigações precisas; o seu horizonte geográfico e astronômico também era bastante restrito. Sendo assim, a ciência medieval era levada não raro a julgar os fenômenos segundo a sua aparência e pouco habilitada a exercer o senso crítico.

Outra consequência da penúria de meios de observação é que os cientistas medievais procediam por dedução mais do que por indução; não podendo formular as leis da natureza na base de experiências exatas físico-químicas, os medievais as formulavam recorrendo a princípios especulativos, abstratos, dos quais julgavam poder deduzir a explicação dos fenômenos da natureza. Este trabalho, porém, era em alta escala sujeito a erro : os medievais não raro julgavam (e nisto se enganavam) que a Bíblia Sagrada podia ser utilizada para elucidar não somente questões teológicas, mas também temas de ciências profanas, de sorte que, na falta de outros critérios, apelavam para a Escritura a fim de resolver problemas de ordem biológica, astronômica etc. (haja vista o que ainda no séc. XVII se deu no caso «Galileu», do qual trata o artigo O caso de Galileu).

Deve-se sublinhar que tal atitude se devia em grande parte à falta de instrumentos precisos para a investigação da natureza (falta bem compreensível na Idade Média, já que o homem só aos poucos progride na conquista do mundo que o cerca). Não seria justo dizer que os cristãos medievais tinham medo da ciência empírica e que as autoridades eclesiásticas travavam os estudos a fim de evitar conflitos de Ciência e Fé; entre os pioneiros dos avanços científicos medievais contam-se eclesiásticos, monges e cristãos de valor, como Santo Alberto Magno (op), Rogério Bacon (ofm), João Peckam (ofm; arcebispo de Cantuária), Dietrich de Freiberg (op), Jordão Nemorário, Guilherme de Moerbeke (op)…

Muito significativo é um dos últimos depoimentos sobre o assunto, proferido em 1957 por um grupo de estudiosos que, sem intenção confessional alguma, escreveram a História da Ciência Antiga e Medieval :

– ‘Parece-nos impossível aceitar a dupla acusação de estagnação e esterilidade levantada contra a Idade Média latina. Por certo, a herança (cultural) antiga não foi totalmente conhecida nem sempre judiciosamente explorada; (…) mas não é menos verdade que de um século para outro — mesmo de uma geração a outra dentro do mesmo grupo — há evolução e geralmente progresso. A Igreja (…) na Idade Média salvou e estimulou muito mais do que freou ou desviou. Por isso, embora só queira apelar para a Antiguidade, a Renascença é realmente a filha ingrata da Idade Média’ (‘La Science Antique et Médiévale’, sob a direção de René Taton, Presses Universitaires de France, Paris, 1957, pp.581-582).

Em particular, com referência ao fato de que só a partir de fins do séc. XIII se começaram a fazer dissecações e observações em cadáveres humanos, dizem os mencionados estudiosos :

– ‘Como quer que seja, não se poderia aceitar a opinião um tanto simplista segundo a qual a Igreja teria sido ‘a grande responsável da estagnação dos estudos de anatomia’’ (ibidem, p.580).

Estes testemunhos tão insuspeitos levam a concluir que as crenças cristãs dos homens medievais não prejudicaram a cultura humana; antes, a favoreceram – apesar das consequências errôneas que em matéria de ciências os medievais julgavam por vezes dever deduzir da sua fé.

Dê o observador muito maior atenção a outra faceta da cultura medieval : a capacidade humana de especulação filosófica parece ter atingido então o auge de sua clareza e agudez, criando as famosas Sumas de Lógica, Ontologia e Metafísica da Idade Média. Estas obras, continuando as dos grandes pensadores gregos (principalmente de Aristóteles), até hoje são monumentos perenes, não ultrapassados, da cultura humana.

É, sem duvida, este aspecto positivo que merece preponderância numa apreciação objetiva da Idade Média.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://pt.aleteia.org/2017/03/14/a-idade-media-foi-noite-escura/

quinta-feira, 28 de setembro de 2023

A mentalidade católica e o sofrimento

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
 *Artigo de Francisco Borba Ribeiro Neto


‘Recebi um pequeno vídeo em que o filósofo e educador Rubem Alves (1933-2014) fala sobre o sofrimento na mentalidade católica. Teólogo presbiteriano, professor da Unicamp, dedicado aos temas de educação e filosofia, ele foi um dos mais brilhantes e simpáticos intelectuais brasileiros de sua geração. Representava um humanismo em diálogo com o cristianismo, otimista e carregado de afeto. Nem por isso estava correto em tudo aquilo que dizia.

No vídeo, Rubem Alves diz que tem ‘um grilo sério com gente de convento, porque toda a nossa tradição espiritual ocidental, é baseada no sofrimento’ e que as pessoas religiosas, ao irem fazer promessas, oferecem coisas sofridas e não coisas prazerosas… Bem, em primeiro lugar é preciso recordar que ele falava de coisas com as quais não estava familiarizado (como presbiteriano tinha pouco contato com a vida monástica e conventual), repetindo preconceitos muito em voga na sua época (difundidos inclusive por católicos com uma visão distorcida da própria Igreja).

Contudo, esse preconceito, apesar de datado, ainda hoje se reflete na visão que muitos católicos e não católicos têm sobre o vínculo entre religião e sofrimento. Sendo assim, o tema vale algumas considerações. Como sempre, saliento que meus comentários são os de um sociólogo buscando entender a mentalidade de nosso tempo, não os de um teólogo dando catequese…

O medo irracional à dor

A cultura moderna e pós-moderna desenvolveu um verdadeiro horror ao sofrimento e à dor. Ninguém, em tempo algum, gosta de sofrer, sentir dor ou lidar com a morte. Mas, em nosso tempo, vivemos uma esperança utópica de chegarmos, ainda nessa vida, a um paraíso utópico onde não haverá mais dor, nem sofrimento, onde tudo será perfeito e todos seremos permanentemente alegres e felizes – uma realização atualizada da ‘terra sem males’, dos povos originários da América do Sul. A dura realidade cotidiana dos pobres, dos fracos e dos doentes se tornou, com inegável justiça, motivo de escândalo e indignação. E, quando se trata de almejar a felicidade, frequentemente ignoramos os choros e tristezas dos ricos, dos famosos e saudáveis – sinal inequívoco que o sofrimento, como a chuva, cai sobre bons e maus, ricos e pobres, sãos e doentes, sobre os que têm e sobre os que aparentemente não têm motivo para sofrer.

O passar do tempo e a desilusão com as muitas utopias em voga no século XX nos explicam a sabedoria da Igreja : a questão não é fugir dos sofrimentos, devemos combater aqueles que podem ser evitados, mas não todos, pois muitos são inevitáveis… E, para o sofredor, no auge do sofrimento, sua dor sempre parece maior do que todas.

O sofrimento é superado pelo amor

Dificilmente encontraremos, no catolicismo contemporâneo, um documento sobre o tema mais profundo e grandioso que Salvifici doloris, de São João Paulo II. Publicada em 1984, três anos depois do atentado que quase o matou e comprometeu seriamente sua saúde, não é apenas uma reflexão teórica sobre o sofrimento, mas reflete a própria experiência espiritual do Papa.

O texto, em síntese, propõe que o ser humano não pode escapar do sofrimento, mas foi feito para superá-lo; ser capaz de descobrir a felicidade não tentando fugir ou se esquecer da dor, mas aprendendo a conviver com ela, dando-lhe um sentido. Deus, conhecendo os sofrimentos humanos, não faz um milagre global que o encerre, mas dá seu próprio Filho, para que Ele padeça com as maiores dores humanas. Não é o caminho de evitar o sofrimento, mas sim aquele que descobre o seu significado, vendo-o como parte do diálogo de amor entre nós e Deus, entre nós e aqueles que amamos, as coisas que nos cercam e os desafios que enfrentamos.

A superação do sofrimento se dá na descoberta de seu sentido : poder vê-lo como gesto de amor, encontrar – na própria dor – os sinais do amor que nos acolhe e com o qual procuramos acolher aos demais. Aos que se julgam poderosos e inabaláveis, evitar o sofrimento pode parecer uma alternativa viável. Para o pobre, o doente, o fraco e o sofredor, a única alternativa realmente viável é oferecer a própria dor, encontrar nela os sinais do amor que pode dar-lhe sentido.

O catolicismo não fala do sofrimento porque seus religiosos gostem de sofrer ou gostem de fazer os outros sofrerem. Falam do sofrimento porque o amor ao ser humano, tal como é a sua vida, nos obriga a olhar para o sofrimento e buscar o seu sentido.

Acolher o pobre que sofre

Uma outra faceta dessa questão é um certo apego a uma espiritualidade centrada na dor que acompanha particularmente os povos latinos, tanto no Velho quanto no Novo Mundo. Um perfil inegavelmente emotivo nos faz procurar a identificação de nosso sofrimento com aquele dos santos e do próprio Cristo. A arte religiosa barroca está repleta de imagens de Jesus torturado e sofrendo, santos convulsionados pela dor e coisas assim.

Essas imagens parecem encurtar a distância entre nós e Deus. Parece ser mais fácil crer que somos compreendidos e que seremos confortados, nessa vida ou na outra, quando imaginamos os sofrimentos de Cristo e dos santos. Entre os pobres e os doentes, o próprio sofrimento parece ser a última coisa a ser ofertada. Como pode um doente terminal oferecer coisas prazerosas e seu cotidiano se tornou um permanente martírio no caminho para a morte? Que pode o pobre injustiçado oferecer pelo bem de seu filho? Uma beleza e uma alegria que não tem?

A Igreja, em sua sabedoria, não fala do sofrimento por comprazer-se dele, mas sim porque seu coração de Mãe se volta, antes de tudo, para aqueles seus filhinhos para os quais nada mais restou no mundo além da própria dor. Esses são os últimos, que para ela são os primeiros. Seu caminho de superação do sofrimento não representa um remoer-se em tristeza, mas o sinal mais luminoso de que o amor pode trazer a alegria em qualquer situação.

Um exercício ascético

Voltando ao vídeo, Rubem Alves fala que ninguém oferece a Deus coisas boas, só coisas dolorosas. Não é verdade, ainda que – como vimos – a dor seja muitas vezes a única oferta possível ao sofredor. Mas muitos oferecem a própria alegria a Deus, só que nesses casos, a oferta vem, naturalmente, mais ligada ao agradecimento que ao pedido.

Existe, contudo, mais uma questão a ser abordada nesse tema. Todo caminho ascético, assim como todo treinamento esportivo, implica em esforço. Todas as religiões, não só o cristianismo, desenvolveram práticas que mortificam o corpo para desenvolver o espírito. Jejuns, abstinências, posições inicialmente incômodas fazem parte dos exercícios ascéticos até mesmo de pessoas agnósticas que procuram um aperfeiçoamento espiritual.

Nesse sentido, a Igreja recomenda que exercícios ascéticos sejam escolhidos como ofertas para Deus, quando se fazem promessas. Mas, mesmo nesses casos, o magistério católico lembra que Deus nos atende por um ato de amor gratuito, não ‘compramos’ a graça com nossos esforços. Uma ideia de ofertar coisas dolorosas só por serem dolorosas, sem valor ascético, pode estar presente na religiosidade popular, mas não corresponde a nenhum ensinamento católico.

Além disso, no caso do cristianismo, sempre valem as admoestações : ‘o sacrifício que apraz ao Senhor é o coração contrito’ (Sl 51, 17); ‘é amor que eu desejo e não sacrifícios, conhecimento de Deus mais do que holocaustos’ (Os 6, 6). É o amor que supera o sofrimento; ele, o amor, é a única oferta que Deus quer realmente de nós.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://pt.aleteia.org/2023/09/24/a-mentalidade-catolica-e-o-sofrimento/

segunda-feira, 25 de setembro de 2023

As ações sorrateiras, mas eficazes do demônio

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo de Vanderlei de Lima, 

eremita na Diocese de Amparo, BA


‘As pessoas, via de regra, se abalam muito mais com os casos raros de infestação ou de possessão diabólica – ações extraordinárias – ou com o culto a satanás (satanismo) do que com as ações comuns ou até mesmo disfarçadas do maligno no dia a dia. Tratemos desta última modalidade de atuação do pai da mentira (cf. Jo 8,44).  

O Papa Leão XIII ensina que, pela inveja de Satã, os seres humanos se dividiram em duas partes distintas : ‘Uma é o reino de Deus na terra, especificamente, a verdadeira Igreja de Jesus Cristo; e aqueles que desejam em seus corações estar unidos a ela, de modo a receber a salvação, devem necessariamente servir a Deus e Seu único Filho com toda a sua mente e com um desejo completo. A outra é o reino de Satanás, em cuja posse e controle estão todos e quaisquer que sigam o exemplo fatal de seu líder e de nossos primeiros pais, aqueles que se recusam a obedecer à lei divina e eterna, e que têm muitos objetivos próprios em desprezo a Deus, e também muitos objetivos contra Deus’ (Enc. Humanum Genus, 1).

São João Paulo II, por sua vez, lembrava que ‘a tática de satanás consiste em não se revelar abertamente, a fim de que o mal, por ele introduzido desde o princípio, cresça a partir do próprio homem, dos próprios sistemas e das relações entre os homens, entre as classes e entre as Nações, para se tornar cada vez mais ‘pecado estrutural’ e possa cada vez menos ser identificado como pecado ‘pessoal’’ (Homilia, Açores, 11/05/1991, n. 5).

Francisco, o atual pontífice, muito exorta sobre a presença e a ação diabólica no mundo. Seu modo de agir ‘consiste em apresentar-se de maneira sorrateira e disfarçada : começa a partir daquilo que nos é mais querido e depois, pouco a pouco, nos atrai a si’. O Exame de Consciência diário nos ajudará a evitar os camuflados convites diabólicos na nossa vida (cf. Audiência geral, 30/11/2022, on-line).

Explicitando a presença diabólica no mundo ou, em linguagem bíblica, ‘nos ares’ (cf. Ef 2,2; 6,12; 1Pd 5,8), o famoso teólogo e cardeal Charles Journet assevera que ‘as duas sedes do demônio consistem, por um lado, no inferno, e, por outro, no ar, na atmosfera, nos lugares celestes. A primeira sede é a do seu infortúnio; a segunda, a das suas ameaças. Falar da presença do demônio no ar, na estratosfera, nos lugares celestes, é servir-se de uma imagem para dizer que, além da sua presença no inferno, onde está aprisionado, o demônio também está presente nos lugares em que vivemos, para nos tentar’ (Le Mal, p. 282, apud George Huber. O diabo, hoje. São Paulo : Quadrante, 1999, p. 25). Disso vêm ao caso dois pontos práticos importantes : 1) a tentação e a 2) a ação sorrateira do demônio por meio de seus asseclas. 

De modo geral, lembremos o que segue : ‘A tentação é uma solicitação para o mal, proveniente dos nossos inimigos espirituais’ (Compêndio de Teologia ascética e mística. 6ª ed. Porto : L.A.I., 1961, n. 901). Ninguém está livre de ser tentado, por isso, há de pedir ao Senhor, no Pai Nosso, que Ele não nos deixe cair em tentação (cf. Mt 6,13; Lc 11,4). Deus, por sua vez, ao permitir – para aprimorar a nossa virtude – que sejamos tentados, também nos dá forças para resistirmos a essas terríveis investidas malévolas (cf. 1Cor 10,13). Quem recorre a Ele, à Virgem Maria, aos sacramentos e aos sacramentais, mantém o pensamento elevado e cultiva a humildade, a obediência e a alegria não se torna presa do maligno.

Quanto à ação sorrateira do demônio, afirma G. Huber que ‘Satanás atua, mas atua sobretudo na sombra, para passar despercebido. Atua através dos homens e também das instituições. Qual não terá sido o seu papel na preparação remota e próxima das leis que autorizam o aborto e a eutanásia?’ (O diabo, hoje, 1999, p. 15). Como não ampliar essa ação satânica ao ódio à fé e aos seus ministros, às leis iníquas, à guerra aberta contra a castidade, contra a família monogâmica e estável, contra a paz e a reta ordem etc.? – Quem conhece essa trama diabólica fica atento e busca os meios oferecidos pela mãe Igreja para a luta que pode ser travada entre os homens, mas se resolve mesmo no plano sobrenatural. Não raras vezes, somente por meio da oração e do jejum (cf. Mc 9,29)’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://pt.aleteia.org/2023/09/24/as-acoes-sorrateiras-mas-eficazes-do-demonio/

sexta-feira, 22 de setembro de 2023

Por que às vezes parece que Deus não nos escuta?

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
De Michael Angelo Immenraet - Dominio público

*Artigo de Mónica Muñoz 


‘Quando as coisas vão bem, muitas pessoas raramente se lembram de Deus. Mas, assim que chega a provação, elas imediatamente voltam os olhos para os céus e clamam pela ajuda divina. Não que isto seja errado : mas bem podemos falar com Deus o tempo todo, tanto nos bons quanto nos maus momentos.

Acontece com as nossas orações o mesmo que ocorreu com a mulher cananeia mencionada no Evangelho de São Mateus : Jesus e os seus discípulos tinham ido para Tiro e Sidônia, num território que nada tinha a ver com o povo eleito. E ali estão eles quando uma mulher começa a gritar : ‘Senhor, Filho de Davi, tem piedade de mim! A minha filha está terrivelmente atormentada por um demônio’ (cf. Mt 15,22). Mas o Senhor não lhe respondeu.

Insista sem desânimo

O relato prossegue falando da intercessão dos discípulos, que pedem a Jesus que a atenda porque ela está gritando atrás deles – o que os irritava. Mas o Senhor lhes responde : ‘Fui enviado apenas às ovelhas perdidas do povo de Israel’. Apesar disso, a mulher não se retira nem se deixa derrotar : volta ao ataque, vai para a frente do grupo e se prostra aos pés de Jesus, implorando novamente, já diante dele : ‘Senhor, ajuda-me!’ (cf. Mt 15, 25).

Vem então a resposta dura e até ofensiva do Senhor para provar até onde aquela mãe é capaz de ir, suplicando um milagre não para si, mas para a filha : ‘Não é certo tirar o pão dos filhos para jogá-lo aos cachorrinhos’ (cf. Mt 15, 26), diz Jesus. Ela então apela certeiramente à misericórdia de Deus, alcançando assim o seu objetivo : ‘E, mesmo assim, Senhor, os cachorrinhos comem as migalhas que caem da mesa de seus donos!’ (cf. Mt 15, 27).

A humildade sempre conquistará o Senhor

Jesus finalmente cede, atendendo ao pedido que lhe foi solicitado com clamores insistentes, com uma frase em que se lê uma pitada de admiração por aquela incansável cananeia : ‘Mulher, quão grande é a tua fé! Que o teu desejo se torne realidade’. E, naquele momento, a sua filha foi curada (cf. Mt 15, 28).

Deus sempre nos escuta, mas quer que não nos cansemos de pedir : e não é por capricho, mas sim para que nos acostumemos a confiar-nos totalmente a Ele.

Oremos, portanto, incansavelmente – e insistamos para que o Senhor ouça as nossas orações humildes e sinceras. Tenhamos a certeza de que, mais cedo ou mais tarde, Ele nos concederá o que for conveniente para a nossa salvação.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://pt.aleteia.org/2023/09/04/por-que-as-vezes-parece-que-deus-nao-nos-escuta/

quinta-feira, 21 de setembro de 2023

Da Europa à Califórnia, Jean-Louis Pagès, arquiteto de mosteiros

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 

Abadia de Saint-Michel d’Orange 

*Artigo de Cécile Séveirac 

 

‘Jean-Louis Pagès tem quase 90 anos de idade e no entanto os seus olhos ainda estão cheios de sonhos juvenis. Um construtor de mosteiros românicos mas também um arquiteto de hotéis de luxo e moradias à beira-mar… Este trabalhador esforçado com um temperamento errante parece adorar um desafio.

Nascido em 1933 em Rabat, Marrocos, Jean-Louis Pagès descobriu muito cedo a sua vocação como arquiteto. Quando era jovem, com apenas 4 anos de idade, já estava a ter lições de desenho. Aos 12 anos de idade, a arquitetura tornou-se uma escolha óbvia : ‘Encontrei um rolo de papel vegetal no topo de um armário, no qual foram desenhadas as plantas e seções da minha casa. Isso foi uma revelação’, diz ele à Aleteia. ‘Decidi desde logo que seria arquiteto, e isso nunca me deixou’.

Uma profissão que não deve nada ao acaso e tudo à Providência

Jean-Louis Pagès parece ter herdado este um gosto apurado pelo design e pelas proporções. ‘Já temos três ou quatro arquitetos na família ao longo dos séculos’, sorri ele. E um deles é nada mais nada menos que Hippolyte Pagès, amigo íntimo do Cura d’Ars e principal testemunha da beatificação deste último. Tanto que a família Pagès tem uma relação próxima com este santo, de quem algumas relíquias autenticadas permaneceram no seio da família desde 1863 até serem confiadas à abadia de Sainte Madeleine du Barroux, a pedido de Jean-Louis.

‘A minha irmã mais nova, então com 2 anos, tinha febre tifóide, tão grave que estava a morrer. Ela não passaria daquela noite. O meu avô foi buscar a caixa grande na qual as relíquias do Cura d’Ars eram guardadas e colocou-a junto ao berço. No dia seguinte, a febre desapareceu’, diz Jean-Louis.

O seu encontro com os mosteiros não foi por acaso : com um tio que era monge na abadia de Hautecombe, e repetidas viagens a estes lugares de oração e silêncio, Jean-Louis parecia quase destinado a participar, um dia, na sua concretização. ‘Como estudante, fui fazer o levantamento da abadia de Saint-Guilhem-le-Désert (Hérault, Occitania) e fiquei fascinado. Depois descobri a Grécia, e visitei o Monte Athos três vezes, vendo 18 mosteiros em 20.

Tradição e modernidade a serviço do sagrado

Foi precisamente a arquitetura de Saint-Guilhem-le-Désert, ou a de Sénanque, que o inspirou quando foi chamado a trabalhar em 1983 na construção das abadias Barroux (França), escolhendo com os monges beneditinos um estilo românico, ‘muito simples e muito puro’. Como bônus, havia a exigência de trabalhar ‘como na Idade Média’, com técnicas específicas para esse período, particularmente para determinar as proporções, impondo ao mesmo tempo certos limites ligados a questões de segurança para a construção das alas. A tradição e o progresso andaram assim de mãos dadas durante 25 anos, durante os quais Jean-Louis Pagès trabalhou entre os monges e freiras de Le Barroux, para quem também ajudou a construir a abadia, chamada Notre-Dame de l’Annonciation.

Dois mosteiros já são uma aventura e tanto. Mas isto não foi claramente suficiente para Jean-Louis, que na altura tinha 72 anos de idade. Em 2006, recebeu um telefonema de muito longe. Uma voz do outro lado da linha, o Irmão Jérôme, com sotaque inglês, mas num francês perfeito, perguntou a Jean-Louis se ele o acompanharia ‘numa grande aventura’. ‘Obviamente, eu disse que sim!’ Ela teria lugar a 10.000 km da França, na Califórnia : a construção da maior abadia católica dos Estados Unidos para a comunidade Norbertine em Orange.

‘E como se chamará esta abadia, meu irmão? – São Miguel’. Silêncio no fim da linha. ‘Fiquei em silêncio durante tanto tempo que o Irmão Jérôme pensou que a ligação tinha caído. Miguel : este é o nome do filho de Jean-Louis e da sua esposa, Françoise. O menino morreu muito jovem e brutalmente, em 1991. Foi uma dor extremamente difícil para o casal de superar, e a dor ainda está muito viva.

‘Para mim, era claro como o dia’, diz Jean-Louis com emoção. Foi um presente do céu. Um aceno de Miguel. O projeto durou onze anos. Jean-Louis também lhe aplicou símbolos utilizados por arquitetos medievais, particularmente os da época de São Bernardo, que colocaram um símbolo espiritual em cada fase do processo de construção para atrair o homem a Deus. Entre outras coisas, a igreja da abadia de Saint-Michel d’Orange está virada para oeste para que o sol nascente ilumine o coro no dia da festa do santo que deu o seu nome à abadia, graças a cálculos precisos. Uma vida plena, um trabalho a meio caminho entre o céu e a terra. ‘O tempo das catedrais acabou’, cantou Bruno Pelletier. Talvez, mas obviamente não o tempo dos mosteiros!’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://pt.aleteia.org/2022/11/18/da-europa-a-california-jean-louis-pages-arquiteto-de-mosteiros/


terça-feira, 19 de setembro de 2023

Como continuar acreditando no amor de Deus, apesar das dificuldades

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo de Talita Rodrigues


Cadê a sua esperança? Cadê a sua fé? Cadê a sua coragem? 

‘Perdemos algumas coisas na caminhada e enfrentamos algumas batalhas. Isso faz parte do ciclo da vida. E é certo que nós, seres humanos, temos uma certa dificuldade em lidar com situações difíceis. Quase nunca sabemos o que há de chegar até nós. Por isso, quase nunca estamos preparados. Quando a tempestade vem, ela não avisa. Simplesmente vem. As nuvens escurecem rapidamente e, de repente, elas já estão transbordando. Percebemos que, de fato, não temos mesmo como escapar.

Algumas dores servem para nos levar para mais perto de Deus. Pois é nesses momentos que Ele tem a nossa total atenção. Não que Ele se alegre de nos ver em situações desesperadoras, mas Ele deseja nos enriquecer.

Algumas coisas são tiradas de nós para que possamos depender mais Dele. Pensamos que podemos ser felizes apenas com tal coisa, mas Ele vem e tira. Mostra-nos o contrário. No momento, pensamos não viver sem aquilo. Nossa consciência continua a mesma. Teimamos, não entendemos. Parece ser impossível. Dizemos : ‘Meu Deus, por que isso teve que acontecer logo comigo?’, ‘Pai, eu não consigo’. É isso que costumamos dizer. 

Provas e amor no caminho

Por um momento, acabamos nos esquecendo de que Ele faz tudo para o nosso bem. E em nossa caminhada precisamos passar por algumas provas, para que possamos amadurecer. Para que possamos amar mais.

Mas o bom é que Ele cumpre com a sua palavra e está sempre caminhando ao nosso lado, levando-nos a corrigir o erro de ter dependido de outras coisas além Dele, levando-nos a corrigir os nossos passos tortuosos. Não importa se tenhamos nos ferido e ficado cegos pela dor. Deus vem e passa a tratar dos nossos ferimentos. Ali no silêncio, só você e Ele. 

Algumas coisas Ele deseja nos dizer na intimidade. Por isso, quando nos sentimos sozinhos, sem ter para onde ir, nos achegamos mais a Ele. E ali, percebemos que encontramos tudo que precisamos. Durante o processo de adaptação, Deus vem e começa a tratar o nosso coração. Ele passa a retirar os entulhos que acabamos deixando entrar nos nossos poços, como aqueles sentimentos indevidos. Deus começa a nos ensinar como cuidar do nosso bem mais precioso. Passa a transformar aquelas feridas da rejeição, da traição, do medo, ou qualquer outra. Para mostrar que Ele te tocou, te sarou. A ferida cicatrizou. Deus passa a nos revelar um pouco mais do amor e do poder que Ele tem de curar. 

Levantar outra vez

O amor não machuca, não podemos esquecer. Pelo amor, somos levantados outra vez. Se levantamos mais confiantes no poder dele. Passamos a acreditar que doar perdão é a melhor maneira de nos fazer bem, primeiramente. E depois ao outro.

Certos processos são mesmo demorados, mas valem a pena. Diante de algumas guerras que enfrentei, quero te dizer : Não curve a sua cabeça. Não olhe para o chão. Não pense ser impossível juntar todos os cacos de seu coração e receber um novo coração. Deixe de olhar para o tamanho daquela montanha de dor, a qual você sabe que terá de escalar. Não pense em desistir da sua vida, porque alguém pagou um preço doloroso para que você estivesse aqui. 

Você é uma peça essencial. E alguns propósitos ainda precisam ser realizados através de você.

Olhe além. Os olhos do recomeço estão sempre acima. Acima da montanha. O nosso socorro, o nosso escape, vem do céu. Deixa ir tudo aquilo que não precisa mais fazer parte da sua vida. 

Deus não abandona

Nunca se esqueça : Deus não te abandonou. Cadê a sua esperança? A sua fé? Cadê a sua coragem? 

Enquanto existir o ar nos seus pulmões, ainda há esperança para você. A vida continua. Permita-se passar pelos processos que tem que passar. Veja mais adiante. Lá na frente você verá o quanto foi protegido(a) pelos braços de Deus e o quanto Ele te fez crescer. 

Lá na frente você não terá mais aquelas bagagens pesadas, cheias de dores e mágoas. E o seu coração? Estará mais cheio de amor do que nunca.

Então, eu já te vejo lá na frente. 

Com os braços abertos, deixando-se levar pelo vento suave Daquele que sempre te guia. Não desista, não pare. Recomece. Prossiga.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://pt.aleteia.org/2022/11/07/como-continuar-acreditando-no-amor-de-deus-apesar-das-dificuldades/

domingo, 17 de setembro de 2023

A inteligência artificial e suas repercussões na espiritualidade

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo de Igor Precinoti


‘No caminhar da humanidade, muitas foram as revoluções tecnológicas que mudaram o comportamento e o modo de vida das pessoas. Desde o controle de fogo até o computador pessoal, diversas foram as transformações que a humanidade passou decorrentes das facilidades e das potencialidades de uma nova tecnologia. Hoje, a inteligência artificial vem se mostrando uma tecnologia que está revolucionado o dia a dia das pessoas e que promete transformações sociais ainda muito maiores. 

A inteligência artificial é o campo da ciência da computação que estuda e desenvolve sistemas capazes de realizar tarefas que normalmente requerem a inteligência humana, tais como aprender através de dados e tomar decisões com base nas informações disponíveis. Mas essa tecnologia não é nova, seu desenvolvimento começou na década de 50, teve como marco histórico um famoso jogo de xadrez ocorrido em 1997, quando, pela primeira vez, um computador (chamado Deep Blue) ganhou do campeão mundial Garry Gasparov, e agora está se popularizando com o Chatgpt, um modelo de linguagem baseado em inteligência artificial capaz de desenvolver uma variedade de tarefas e habilitado com Processamento de Linguagem Natural (NLP) capaz de permitir uma comunicação natural, simulando outro ser humano.  

O uso da inteligência artificial já é comum, mesmo que inconscientemente. Quase todas as pessoas que utilizam celulares e eletrodomésticos já tiveram contato com algum tipo de inteligência artificial, seja em jogos eletrônicos ou tradutores. Agora, é relativamente comum o uso de inteligência artificial em hospitais e escritórios de advocacia, mas o recurso a esta tecnologia em um Templo Budista levou a discussão a um nível bem diferente.  Em 2019, em um Templo localizado em Kyoto, no Japão, foi instalado um Monge Robô chamado Mindar, em seu banco de dados estão armazenadas as escrituras sagradas e práticas espirituais budistas e ele ainda é capaz de interagir com as pessoas, guiar práticas meditativas e responder a perguntas. 

Contudo, até onde isso vai chegar? Se as tecnologias são capazes de simular a interação humana ao ponto de existirem monges robôs, o que vai diferenciar máquinas de seres humanos? Será que, no futuro, robôs irão celebrar Missas?!

As inteligências artificias conseguem detectar microexpressões faciais e padrões em uma conversa identificando sentimentos e simulando empatia, elaborar textos e poemas por meio de uma linguagem idêntica à humana e ainda podem inventar músicas e desenhos artísticos de maneira criativa e original. Linguagem, criatividade, empatia, características intrínsecas, e até então exclusivas, do ser humano agora são compartilhadas por máquinas. 

Em 1980, um filósofo americano chamado John Searle, observando o desenvolvimento das tecnologias se debruçou nestas questões e elaborou uma teoria : ela é chamada ‘Teoria do chinês no quarto’ 

Imagine uma pessoa que não sabe falar nem compreende a língua chinesa dentro de um quarto fechado. Ela somente pode se comunicar com o exterior através de bilhetes por baixo da porta. As pessoas que estão fora do quarto somente falam em chines e não sabem quem está lá dentro. 

Dentro deste quarto existe, no entanto, um manual indicando quais símbolos (caracteres da língua chinesa como ideogramas e pictogramas) ela deve desenhar em resposta aos bilhetes em chinês que ele recebe. Ela não fala com ninguém, somente recebe o bilhete, procura o desenho no manual, mesmo não sabendo o que está escrito (por exemplo ‘Que dia é hoje?’), e, após encontrar o desenho correspondente, ela desenha a resposta indicada no manual (‘Hoje é terça-feira’), e devolve o bilhete respondido. Com o passar do tempo e quanto mais complexa é esta interação, mais as pessoas que estão fora do quarto passam a ter certeza de que o indivíduo, no interior do quarto, é fluente e compreende bem o chinês. Mas o indivíduo lá dentro não faz ideia do que está sendo comunicado. Ele somente segue as regras predeterminadas.

A questão central que Searle propõe, com a teoria ‘do chinês no quarto’, é a seguinte : por mais que, seguindo as regras do manual, o homem consiga gerar respostas e se comunicar com chineses, será que ele compreende e tem consciência do que está sendo comunicado? O mesmo ocorre com as inteligências artificiais. Por mais que elas estejam especialistas na simulação do comportamento, conhecimento e pensamentos humanos, falta lhes a consciência. As inteligências artificiais conseguem simular (como um símio (macaco), em partes, faz) empatia, linguagem, criatividade, mas nunca terão uma alma espiritual que é a base da consciência humana. 

A alma humana é a parte essencial e imortal da natureza do homem e da mulher. Fonte da vida e da individualidade, a alma é o alicerce da consciência e é a partir dela que surgem as capacidades de pensamento, de raciocínio e de livre arbítrio. A consciência é a voz interior que guia as escolhas morais humanas. 

Por mais que as máquinas sejam capazes de armazenar todas as escrituras sagradas, todos os sermões, textos e livros escritos pelos hagiógrafos bíblicos, santos e doutores da Igreja e por mais que as inteligências artificiais possam explicar e responder diversas questões embasadas por toda esta vasta literatura, falta-lhes a consciência, e é por meio dessa consciência que as pessoas são chamadas a agir de acordo com a sua fé e os princípios espirituais.

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://pt.aleteia.org/2023/09/12/a-inteligencia-artificial-e-suas-repercussoes-na-espiritualidade/


quinta-feira, 14 de setembro de 2023

Como a santa que achou 3 cruzes no Calvário descobriu entre elas a Cruz de Cristo

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 

*Artigo da redação da Aleteia

Segundo a tradição, a Verdadeira Cruz foi identificada graças a um milagre de cura


Santa Helena nasceu no ano de 270 na antiga Bitínia, região às margens do Mar Negro que hoje pertence à Rússia. Muito bonita, cativou um famoso general do exército romano, Constâncio Cloro, por quem também ela se apaixonou.

Da paixão à humilhação

O casal teve um filho chamado Constantino, que chegou a ser nada menos que o Imperador – mas a um custo muito alto para Helena : para ser promovido na corte, Constâncio Cloro aceitou a condição de repudiar sua esposa e se casar com a filha do imperador Maximiliano. Foi durante esse período de humilhação e solidão, porém, que Helena conheceu a Deus e se tornou cristã.

Um filho imperador

Passado o tempo, morto Constâncio, Constantino foi proclamado imperador e, na célebre batalha da Ponte Mílvio, em Roma, teve a visão de Cristo a lhe mostrar a Cruz e dizer : ‘Com este sinal vencerás’. No ano 313, Constantino finalmente decretou o cristianismo como a religião oficial do Império, após três séculos de brutais perseguições contra os cristãos.

Em busca da Cruz de Cristo

Santa Helena dedicou boa parte da vida, a partir de então, a buscar a Santa Cruz de Cristo em Jerusalém, para onde chegou a levar um grupo de escavadores que, depois de muito trabalho, conseguiu achar no monte Calvário não uma, mas três cruzes.

O relato desse encontro e de como Santa Helena identificou a verdadeira cruz é resgatado pelo Breviário Romano :

Após aquela insigne vitória que o imperador Constantino obteve sobre Maxêncio, quando recebeu de Deus o sinal da Cruz do Senhor (‘In hoc signo vinces’), Santa Helena, mãe de Constantino, tendo recebido uma revelação num sonho, foi a Jerusalém para procurar zelosamente a Cruz. Lá cuidou ela de destruir a imagem de Vênus, em mármore, que, para apagar a memória da paixão de Cristo Senhor, os gentios haviam colocado no lugar da Cruz e que ali permanecera durante cerca de 180 anos. O mesmo ela fez no presépio do Salvador, onde fora posto um simulacro de Adônis, e no lugar da ressurreição, onde haviam colocado um de Júpiter.

Purgado, assim, o local da Cruz, foram encontradas depois de profundas escavações três cruzes, e, à parte delas, a inscrição que havia sido posta sobre a Cruz do Senhor. Como não se sabia sobre qual das três ele deveria ser afixado, um milagre sanou a dúvida. Eis que Macário, bispo de Jerusalém, tendo elevado preces a Deus, levou cada uma das cruzes a três mulheres que sofriam de grave enfermidade, e, enquanto as demais de nada serviram às mulheres, a terceira Cruz, levada à terceira mulher, curou-a imediatamente.

Santa Helena, tendo encontrado a Cruz da salvação, construiu ali uma igreja magnificentíssima, na qual depositou parte da Cruz em urnas de prata, entregando outra parte a seu filho, Constantino, que a levou a Roma, à igreja da Santa Cruz de Jerusalém, edificada no palácio Sessoriano. Ela também entregou ao filho os cravos que trespassaram o Santíssimo Corpo de Jesus Cristo. Naquele tempo, Constantino sancionou uma lei para que, desde então, ninguém fosse condenado ao suplício da cruz, e aquilo que antes era castigo e maldição para os homens passou a ser glória e objeto de veneração.

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://pt.aleteia.org/2018/08/20/como-a-santa-que-achou-3-cruzes-no-calvario-descobriu-entre-elas-a-cruz-de-cristo/

terça-feira, 12 de setembro de 2023

5 declarações chocantes que desmascaram o racismo e a eugenia por trás da fachada do “planejamento familiar” laico

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo de Arthur Herlin

 

As 5 declarações reveladoras são de Margaret Sanger, fundadora da rede abortista norte-americana Planned Parenthood


‘Você sabia que por trás do planejamento familiar se esconde uma fervorosa defensora da eugenia ‘negativa’? Margaret Sanger, fundadora da Planned Parenthood (na prática, a maior rede de clínicas de aborto dos EUA, envolvida hoje num escândalo gigantesco de tráfico de órgãos e tecidos fetais para fins de lucro) era favorável a essa doutrina que consiste em restringir os casamentos, promover a esterilização e eliminar fisicamente certos grupos de indivíduos portadores de genes ‘indesejáveis’, a fim de ‘melhorar o ser humano’. Ironicamente, a própria Margaret Sanger foi a sexta de 11 filhos de uma família operária de origem irlandesa.

As 5 citações seguintes refletem as convicções de Margaret Sanger.

1. ‘Não é necessário que circule a ideia de que queremos exterminar a população negra’

Como revela uma de suas cartas ao Dr. Clarence Gambler, datada de 19 de dezembro de 1939, Sanger incentivou a esterilização de pessoas consideradas ‘inaptas’, como os negros, as minorias étnicas, os doentes e os deficientes. De acordo com a organização norte-americana Live Action, o Instituto Guttmacher (antiga divisão de pesquisa pró-aborto do planejamento familiar) estimou que os afro-americanos eram cinco vezes mais propensos a recorrer ao aborto que os brancos. As clínicas de ‘planejamento familiar’ foram estrategicamente implantadas, portanto, nas comunidades de negros e minorias étnicas. Ainda hoje, 37% dos abortos são praticados pelos membros da comunidade negra, que representa, porém, apenas 13% da população dos EUA.

2. ‘Eu aceitei o convite para entrar em contato com o ramo feminino da Ku Klux Klan’

Esta citação vem de um discurso de Margaret Sanger em 1926 durante reunião da Ku Klux Klan em Silver Lake, New Jersey, transcrito em sua autobiografia (A autobiografia de Margaret Sanger). ‘Eu fui escoltada até a tribuna, fui apresentada e então comecei meu discurso… Acho que, no fim, alcancei o meu objetivo por meio de ilustrações simples’.

3. ‘Eles são (…) as ervas daninhas da humanidade’, ‘reprodutores irresponsáveis’, ‘geram (…) seres humanos que jamais deveriam ter vindo ao mundo’

No livro ‘Pivot of Civilization’, Sanger se refere aos pobres e aos imigrantes explicando que, no caso deles, a ‘caridade’ se baseia no erro ideológico.

4. ‘O controle dos nascimentos consiste, nem mais nem menos, na eliminação das pessoas inadequadas’

É em escritos como ‘A ética e o controle dos nascimentos’ e ‘O controle dos nascimentos e a nova raça’ que Sanger afirma que o controle da natalidade procura principalmente produzir uma ‘raça mais própria’, eliminando quem ela considera ‘inadequado’.

5. ‘Acho que o maior de todos os pecados é trazer filhos ao mundo’

Esta citação vem de uma entrevista de 1957 com o jornalista Mike Wallace : ‘Eu acho que o maior de todos os pecados é trazer filhos ao mundo – que têm doenças por causa dos seus pais, que não terão a chance de se tornarem seres humanos dignos desse nome. Delinquentes, prisioneiros, todo tipo de coisa que já está inscrito no nascimento. Esse, para mim, é o maior pecado que se pode fazer’. Como solução, Margaret Sanger preconizou que cada família americana pedisse permissão ao governo para ter um filho. Ela já tinha declarado à revista America Weekly em 1934 : ‘Tornou-se necessário estabelecer um sistema de permissão de nascimentos’!’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://pt.aleteia.org/2015/10/28/5-declaracoes-chocantes-que-desmascaram-o-racismo-e-a-eugenia-por-tras-da-fachada-do-planejamento-familiar-laico/