Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
‘A pergunta no título
deste artigo não se trata de um questionamento retórico que visa um conceito
moral de fé, nem tampouco a indicação de um método mais eficaz a fim de se
tornar um bom cristão. A indagação feita logo de início é simplesmente um
pedido de reflexão perante a própria crença, um pedido de autoanálise daquilo
que se diz crer e do que realmente é feito em prol da fé.
Ao
analisar todo o projeto de criação, Deus percebe a importância do outro na vida
do homem, e assim, surge Eva. Muito além do pensamento romantizado que existe
ao vislumbre do amor entre os dois seres, ou muito além também do pensamento
pragmático da mera reprodução pela procriação da espécie, faz-se necessário entender,
antes de qualquer outra vertente de pensamento, o valor dado à presença do
outro; compreender que Deus quis, no ato da criação, revelar que no próximo
existe o meio que leva ao Pai.
De
maneira bem rudimentar, é interessante fazer uma associação e perceber que a fé
é o prêmio, a recompensa, a láurea pelo ato e efeito de amar. A fé requer
caminho, percurso para finalmente nela chegar. É como estar na direção de um
carro, e é possível, ao longo da estrada, vislumbrar-se com as vistas. De
início, um mirante singelo, e no decorrer do caminho, o observatório vai
ficando mais nítido e mais belo de contemplar. Já as curvas e a rodovia em si
fazem parte daquilo que se entende sobre o amor.
Amar
a bela vista já no final da estrada parece ser bem óbvio e distante da proposta
de Deus no ato da criação. Amar requer o ato e efeito de ir além de si, requer
um umbigo diferente do seu, mas também requer vontade, respeito, necessita de
quebra-molas e curvas, já que demanda do condutor bastante perseverança,
insistência. Exige que se vá bem além do sentimento romantizado concebido a
partir do século XIX, e voltar-se ao concreto, o real, para então, finalmente,
contemplar Deus no outro.
Viver
uma vida de oração, jejum e penitência é firmar e viver o amor bíblico, o amor
ideal e, sem a menor dúvida, esse também é o nosso chamado. Nos tempos atuais,
em que as verdades são deturpadas, a moral está desaparecendo e o óbvio precisa
ser dito, é sedutora a ideia de viver uma vida cristã de modo privado, entre
Deus e você, sem interferências nem indivíduos que julgamos não contribuir em
nada nesse nosso apostolado. É sedutor um projeto de vida espiritual solo, no
qual eu sou o meio e o fim de todo o processo.
Ao
lermos o ensinamento que Jesus nos deixou em Mateus 22:36 ‘Amarás ao Senhor teu
Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento.’,
fica ainda mais tentador o pensamento de cultivar um relacionamento divino
totalmente privado. Entretanto, se formos além de uma leitura superficial e
irmos de encontro com a vontade de Deus ao mergulhar em águas mais profundas,
será possível entender e assimilar um grande pedido : Jesus não está sendo um
Deus tirano e mandatário, tampouco está perfilando o amor e dispondo de uma
ordem de prioridade de quem você deve amar primeiro e quem deve amar depois.
Cristo, em Sua imensa sabedoria, coloca neste mandamento, a revelação do
encontro com Deus em cada indivíduo. Descubra Deus em sua mãe, em seu pai, no
seu irmão, no seu filho. Encontre Deus em seu vizinho, no seu chefe, ou até
mesmo em seu desafeto. Vá além do Deus de amor e bondade que deu a vida por
cada um de nós, e aumente a sua fé ao ponto de encontrar aquela tal vista linda
de pura contemplação no olhar do idoso na fila de um banco.
Se
acaso sente que sua fé não está boa, ame mais. Se sente que sua fé está boa,
ame mais ainda, afinal, a presunção é indício de insuficiência da presença de
Deus. Não se contente em vislumbrar o primeiro mirante que encontrar ao longo
da vida, porque o nosso Pai tem reservado algo muito além do que seus olhos já
viram. Vá além e perceba a presença divina em cada lugar, em cada coração, em
cada irmão. Você não está sozinho.’
Fonte : *Artigo na íntegra
https://pt.aleteia.org/2023/09/03/sua-fe-e-publica-ou-privada/
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