Por Eliana Maria
(Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo de Vitor Roberto Pugliesi Marques
‘Este artigo analisa,
de modo assaz conciso, o Tratado sobre o amor de Deus (São
Paulo: Paulus, 2015), escrito pelo grande São Bernardo de Claraval (1090-1153),
abade cisterciense e doutor da Igreja.
O
prefácio da obra já nos traz o motivo pelo qual ela foi escrita. Trata-se de
uma resposta a questionamentos feitos a São Bernardo por um senhor chamado
Henrique, cardeal e chanceler da Igreja romana. Ao que parece (não é colocado
no texto que chega até nós as perguntas objetivamente feitas), esse clérigo
deve tê-lo interpelado sobre como o Amor de Deus se manifesta e, inferimos,
pela teor do texto escrito, que deveria o senhor Henrique ter ainda indagado o
como e o porquê corresponder a esse Amor. Ora, se todo ser humano, mesmo sem
fé, deve amar a Deus, muito mais há de fazê-lo o cristão que tem, diante de si,
na pessoa de Cristo, a imensa prova do grande amor do Pai por nós. Ele nos
enviou – para sofrer e morrer na cruz – o seu próprio Filho quando ainda éramos
pecadores (cf. Rm 5,8). Há maior prova de amor do que esta?
Isso
posto, tratemos, agora, sobre os quatro graus do Amor. O primeiro grau consiste
no amor do homem a si próprio. Seria natural e justo que antes de tudo amássemos
o Autor de tudo. Todavia, explica-nos São Bernardo, que ‘a natureza é muito
frágil e muito fraca para seguir tal recomendação. Ela começa por amar a si
mesma’ (p. 55). Desde que exercido dentro da devida moderação e justiça, não há
nada de errado nesse amor. Contudo, se ele dita-se em excesso, torna-se egoísta
e não compatível com o que Deus deseja de nós. Em se tratando de amor próprio,
caso extrapole os limites, deve-se lembrar do preceito que ordena : amarás o
teu próximo como a ti mesmo (cf. Mt 22,38). No ato de amar a si com a devida
moderação, ou seja, abrindo-se também ao próximo, está o exercício correto do
primeiro grau do amor. Entretanto, não é possível amar perfeitamente o próximo
se não for em Deus. Vai nos dizer, pois, o Tratado que ‘devemos então começar
por amar a Deus, se se quer amar o próximo nele, de sorte que Deus, que é o
autor de todos os outros bens, o é também de nosso amor por ele’ (p. 58).
O segundo
grau consiste no amor do homem a Deus, mas com finalidade em si mesmo,
buscando o seu próprio benefício. Podemos perceber muita fragilidade nesse
amor, todavia, nos diz São Bernardo, que ‘há alguma sabedoria nele [nesse amor]
por saber [o homem] do que é capaz por si mesmo e o que não pode fazer sem a
ajuda de Deus, e por se tentar manter irrepreensível aos olhos daquele que lhe
conserva as forças’ (p. 61). Ou seja, nesse grau de amor, o homem já reconhece
que não é autossuficiente, e que precisa de Deus para as empreitadas da vida. É
obrigado, assim, a recorrer, e com frequência, a Deus.
O terceiro
grau consiste no amor do homem a Deus com a finalidade de unir-se a
Ele, mas ainda não de forma plena ou total. Com o progresso na vida de oração,
vai se reconhecendo o quanto Deus é bom, disso chega-se a um ponto que se torna
fácil amar o próximo, pois o amamos em Deus. ‘Quem ama com esse amor, ama tanto
quanto é amado, e não busca, por sua vez, senão os interesses de Jesus Cristo,
não mais os seus próprios’ (p. 63).
O quarto
grau consiste no amor em sua plenitude com Deus. Nesse ponto da caminhada,
o homem não ama a si mesmo senão por Deus. ‘Chegar a esse ponto é ser
deificado. Igual a uma pequena gota d’água que, misturada a uma grande
quantidade de vinho, parece desaparecer, impregnando-se do gosto e da cor desse
líquido’ (p. 67).
Para
enquadrarmos os quatro graus do amor descrito por São Bernardo no modelo
clássico das vias da santificação, podemos dizer que a via purgativa está nos
primeiros dois graus do amor; a iluminativa no terceiro grau e a unitiva no
quarto grau do amor.
Leitura
sapiencial a cada ser humano que, com a graça de Deus, luta para ser santo como
o Pai celeste é santo (Mt 5,48).’
Fonte : *Artigo na íntegra
https://pt.aleteia.org/2023/02/19/tratado-sobre-amor-de-deus-de-sao-bernardo-de-claraval/
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